Escolas apostam em experiência real de trabalho
Studio Schools, para jovens de 14 a 19, se inspiram nos estúdios renascentistas para trabalhar com educação baseada em projeto
por Carolina Lenoir 17 de dezembro de 2013
Aprimorar as competências para empregabilidade é vital no desenvolvimento de uma geração de jovens profissionais motivados e empreendedores. Para isso, instituições de ensino e empresas estão cada vez mais convencidas de que as habilidades-chaves para o mercado de trabalho devem ser lapidadas mais cedo na vida escolar. No Reino Unido – em que mais de 70% dos empregadores esperam que o governo encare essa questão como prioridade, de acordo com uma pesquisa da CBI, principal organização britânica de lobby empresarial –, a criação das Studio Schools é uma resposta à lacuna de qualificação percebida nos últimos anos. No modelo de ensino e aprendizado, alunos entre 14 e 19 anos são envolvidos em projetos empresariais e experiências reais de trabalho, acompanhados de perto por tutores acadêmicos e profissionais.
O nome escolhido para as escolas que adotam esse modelo já diz muito sobre as suas pretensões. Inspiradas nos estúdios renacentistas europeus dos séculos 15 a 18, em que trabalho e aprendizagem eram integrados e os mestres ensinavam na mesma oficina em que criavam as suas obras, as Studio Schools atendem, cada uma, a no máximo 300 alunos. Elas oferecem o currículo regular do ensino médio – ou seja, matemática, inglês, ciências etc. –, mas também estágios (pagos no caso de alunos com mais de 16 anos) em companhias que são as principais empregadoras nas regiões em que estão localizadas. Os alunos aprendem as disciplinas básicas principalmente por meio de projetos corporativos desenvolvidos na escola, nas empresas locais parceiras e em outros locais da comunidade em que o produto dos projetos possa ser aproveitado, como, por exemplo, a elaboração de relatórios de saúde para um hospital da cidade. Semanalmente, alunos dos 10º e 11º anos passam quatro horas no local de trabalho, enquanto estudantes dos 12º e 13º passam dois dias.
Todas as escolas têm como cerne da sua atuação sete elementos essenciais: excelência acadêmica, desenvolvimento de competências para empregabilidade, treinamento personalizado, aprendizado prático, experiências reais de trabalho, turmas reduzidas e atendimento a alunos de todas as habilidades. A ideia é que o jovem saia da escola com opções: continuar sua qualificação em uma universidade, já entrar no mercado de trabalho ou unir as duas possibilidades. Especificamente para o acompanhamento do progresso das habilidades consideradas fundamentais pelos empregadores foi criado o Create Framework, um painel composto por uma gama de competências como comunicação, relacionamento pessoal, empreendedorismo, capacidade prática e de raciocínio e inteligência emocional. A aplicação dessas habilidades sustenta todos os projetos multidisciplinares e o progresso de cada aluno é acompanhado por um tutor, que se reúne individualmente com o estudante a fim de desenvolver um plano de aprendizagem personalizado. Isso permite que o adolescente adeque o currículo às suas necessidades e aspirações individuais.
Atualmente são 28 Studio Schools espalhadas pela Inglaterra e outras 13 devem ser abertas em 2014, entre elas a Future Tech Studio, na cidade de Warrington, que já conta com 20 empresas parceiras nas áreas de TI, finanças e engenharia. Assim como ela, algumas escolas são voltadas para determinados setores, de comunicação à gastronomia, enquanto outras deixam o leque mais aberto. Entre as cerca de 400 empresas parceiras estão Sony, Barclays e BBC, mas também pequenos negócios locais.
A atuação das empresas parceiras no modelo de ensino e aprendizagem das Studio Schools é diversificada. “Os empregadores estão dispostos a ajudar a preparar os jovens para o local de trabalho e as Studio Schools permitem que eles se envolvam em todos os aspectos da vida escolar”, explica David Nicoll, diretor executivo da Studio Schools Trust, organização responsável pelas escolas, em artigo publicado no site da organização britânica Whole Education. Além de disponibilizar vagas e locais para as experiências reais de trabalho, os empregadores podem desenvolver um briefing de negócios para projetos dos alunos; colaborar na elaboração do currículo escolar, especialmente na parte de empreendedorismo; patrocinar projetos específicos, que atendam à demandas de suas empresas; realizar entrevistas de trabalho reais ou simuladas; dar feedback aos alunos quanto ao seu desenvolvimento profissional e oferecer uma rede de contatos valiosa.
De acordo com David, o principal objetivo é equipar os jovens tanto com as habilidades quanto com as experiências que eles precisam para ter sucesso em um mercado de trabalho competitivo. “Para muitos jovens, o atual sistema educacional está aquém do necessário. Todas as recentes pesquisas relativas às vagas de trabalho não preenchidas comprovam que os empregadores não encontram, nos jovens recém-saídos da escola, as competências esperadas. É por isso que uma abordagem holística da educação é tão importante. Passamos os últimos anos desenvolvendo um novo modelo de escola para que os alunos adquiram uma visão significativa do mundo do trabalho.”
Para Darren Evans, diretor da agência de design The Engine Room e parceiro da Kirklees Creative and Media Studio School, em Huddersfield, existem muitos contadores e financistas no comando de empresas. Por isso, propostas como a das Studio Schools são importantes para a geração de empreendedores e líderes criativos. “O que eu gosto nessas escolas é que elas nutrem o talento criativo, mas em um ambiente comercial”, disse em depoimento ao site da Studio Schools Trust.