Salman Khan, o homem que inverteu a sala de aula
Em visita ao Brasil, o renomado educador conversa com a presidenta Dilma Rousseff e discute os novos paradigmas da educação
por Redação 14 de janeiro de 2013
Está chegando para sua primeira visita ao Brasil – com direito a conversa com a presidenta Dilma Rousseff, com o ministro da Educação e palestra promovida pela Fundação Lemann– um professor que virou celebridade, teve suas aulas assistidas quase 230 milhões de vezes nos últimos sete anos e, no ano passado, foi considerado pela Time uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. Ele é Salman Khan, um ex-aluno do MIT e Harvard que, despretenciosamente, gravou vídeos curtos, bem diretos ao ponto, com a explicação narrada ao fundo e números aparecendo em uma lousa para ajudar uma prima com dificuldades em matemática. Sem saber, suas aulas não estavam mais ajudando apenas Nadia, mas parentes, amigos e até os filhos do Bill Gates.
Quando chegaram ao YouTube, os vídeos se tornaram tão populares que o educador largou o mercado financeiro para se dedicar à Khan Academy, que hoje usa o mesmo formato para dar aulas de matemática, ciências, programação e humanidades – em tempos de Oscar e Globo de Ouro, o professor até se arrisca a ensinar, seguindo a fórmula que deu certo, história francesa e o contexto em que o livro Les Miserables foi escrito. Com sua própria academia, Khan começava a liderar um movimento de reformulação de salas de aula em todo mundo. Reformular talvez nem seja a melhor palavra para o que ele vem fazendo. O que ele tem feito mesmo é inverter a sala de aula, ou o que em inglês é chamado de flip the classroom. Isso mesmo: ele tem colocado a classe de cabeça para baixo. “Enquanto o mundo requer gente criativa e com alta capacidade inovadora, o modelo vigente reforça a passividade”, criticou o atual modelo ele à Veja.
O conceito de sala de aula invertida tem encontrado adeptos não apenas na educação básica, mas também na educação superior, como o Porvir já mostrou. A ideia é usar os recursos educacionais recentemente popularizados pela tecnologia, como as videoaulas ou ambientes virtuais de determinados cursos, para que o aluno tenha contato com o conteúdo em casa. Assim, o tempo da sala de aula fica liberado para que professores e alunos avancem no aprendizado, seja fazendo exercícios, tirando dúvidas, promovendo debates. “Quando fiz as videoaulas não sabia como isso teria uma penetração na escola. Então comecei a receber cartas de professores que diziam estar invertendo a lógica da sala de aula: os vídeos estavam virando lições de casa e na escola o que antes era dever de casa agora estava virando aula”, disse o educador em sua TED Talk de 2011.
Um infográfico, em inglês, feito pela Knewton mostra como a nova lógica altera as formas de interação em sala de aula. Os momentos de exposição, em que os alunos estão de frente para o quadro, acontecem com menos frequência e os alunos precisam se rearranjar mais constantemente em grupos. “Quando nos livramos da noção de uma pessoa entregando a informação diante de uma sala de aula em um ritmo definido, isso nos permite repensar completamente nossos pressupostos sobre como uma sala de aula ou uma escola pode ser. Nós podemos então considerar a possibilidade de ter professores na mesma sala de aula trabalhando com alunos que têm diferentes idades e graus de habilidade”, disse Khan em um artigo escrito em outubro passado na Times.
Assista a TED Talk de 2011:
É exatamente por isso, defende Khan, que, ao contrário do que muitos temem, as videoaulas em casa não diminuem nem a necessidade de um bom professor nem a importância dos momentos presenciais de interação. O que ocorre, aliás, é uma valorização de ambos. “Os professores estão usando tecnologia para humanizar a sala de aula. Eles pegam uma situação fundamentalmente desumanizada e sem interação e a transformam num espaço de troca”, afirmou.
Ao longo da semana, o Porvir vai trazer matérias relacionadas à visita do Khan e ao impacto de suas videoaulas na educação mundial. Também tuitaremos suas melhores frases durante a palestra que dará em São Paulo, nesta quinta-feira, que será transmitida via hangout pela Fundação Lemann.