Universitários produzem HQs para aprender biologia
Alunos da UFSCar elaboram quadrinhos para divulgar conhecimentos acadêmicos de maneira divertida e acessível
por Vagner de Alencar 16 de janeiro de 2013
Tudo começou com uma atividade despretensiosa de um professor: procurar, recortar, xerocar e colar imagens e textos para que os alunos pudessem aprender conceitos de biologia. O exercício ganhou uma dimensão maior, e as atividades acabaram se tornando o primeiro passo para o surgimento da GIBIOzine, uma revista em quadrinhos produzida semestralmente por estudantes de biologia da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), campus Sorocaba, em São Paulo. O recorta-e-cola ficou no passado. Hoje, os HQs, criados e ilustrados pelos universitários, ajudam a divulgar conhecimentos acadêmicos de maneira divertida e acessível, ganhando até formatos 3D. A publicação também se expandiu para além dos muros da faculdade e passou a contar com a colaboração de alunos do ensino fundamental e médio de escolas públicas locais e de colaboradores de todo o país.
A GIBIOzine, que é uma revista no formato fanzine – tipo feito por “fãs” e produzida sem fins comerciais – , acabou se tornando um projeto de extensão universitária. É impressa na gráfica da faculdade e também oferecida no site do projeto. Além disso, passou a ser indexada com o ISSN (Número Internacional Normalizado para Publicações Seriadas, sigla de International Standard Serial Number), registro que identifica e individualiza as publicações seriadas.
De acordo com Hylio Lagana, professor adjunto da UFSCar e idealizador da iniciativa, a produção de HQs surgiu, principalmente, “como uma maneira divertida de divulgar os conteúdos científicos praticados pelos estudantes, tirando o rigor conceitual acadêmico, para apresentá-los com uma linguagem de fácil compreensão”. Para isso, os universitários (veteranos e novatos) têm liberdade total de criar histórias, que muitas vezes são contadas em forma de fábulas, como na edição Giobiografias – árvore giobiológica. Na publicação, os insetos ganharam voz para contar a biografia de cientistas famosos, professores e biólogos brasileiros.
É o caso da história A Herança de Morgan, em que os mosquitos conversam sobre os estudos do geneticista Tomas Hunt Morgan. A partir das teorias desenvolvidas por Gregor Mendel – considerado o pai da genética–, Morgan decidiu testar a hereditariedade dos animais. Já na revistinha As abelhas de Warnick Kerr, os insetos dialogam sobre o engenheiro agrônomo brasileiro que estudou a chegada das abelhas africanas ao Brasil e o gene CSD, que, segundo suas pesquisas, é essencial na determinação sexual dos zangões.
Os primeiros exemplares nasceram em 2007 e foram avançando editorialmente ao longo dos anos. Hoje, a revista é produzida com a colaboração de universitários de diferentes regiões do país, como São João Del Rey e Uberlândia, em Minas Gerais, Goiânia e Rio de Janeiro. Além disso, as edições não se restringem apenas à biologia. Outras duas revistas já foram dedicadas à pedagogia e à diversidade. “Hoje, fazemos tudo on-line, com a mais avançada tecnologia”, afirma Lagana. A tecnologia tem permitido, inclusive, a criação de ousadas edições tridimensionais. Uma delas, com estereogramas (técnica de ilusão de ótica) na capa e no verso e com efeito “papel de parede” no miolo, permite visualizar os desenhos em formato 3D.
HQs no ensino fundamental
Segundo Lagana, os avanços editorais também marcaram o início de uma cooperação internacional. Em outra publicação, que expos a prática de educação ambiental e a conservação de carnívoros, participaram dois biólogos argentinos, que levaram exemplares ao seu país de origem. Nessa edição tridimensional, diferentemente das demais publicações confeccionadas por universitários, foram os estudantes da escola estadual José Odin de Arruda, em Sorocaba, os responsáveis pelos HQs. A produção contou com a parceria entre os alunos da UFSCar e os professores do colégio. Juntos, optaram pela água como tema central da revista, que teve o Hagar, o horrível, criado pelo cartunista Dik Brownie, como personagem principal para a série de histórias.
No Brasil, alguns professores adotaram os HQs em sala de aula. É o caso de Poliana Oliveira, ex-estudante de pedagogia da Unesp (Universidade Estadual Paulista), que durante sua graduação, em 2009, usou as histórias em quadrinhos com seus alunos de 3o ano do ensino fundamental de uma escola pública de Sorocaba. O resultado do uso dos HQs também foi apresentado em seu TCC (trabalho de conclusão de curso), que verificou como a série de histórias pode ser usada como recurso pedagógico eficaz. “Os HQs são ótimos para serem trabalhados na sala de aula, os alunos ficam mais interessados em produzir, compreendem com mais facilidade os temas estudados e melhoram a capacidade de interpretação textual”, afirma.