‘A mediação do professor é o que faz diferença’
Fernanda Tardin, professora da rede estadual do RJ, ensina em seu blog como usar objetos educacionais de aprendizagem
por Carolina Lenoir 30 de agosto de 2013
Na caixa de entrada de seu e-mail, Fernanda Tardin, uma professora da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, encontra uma mensagem angustiada de uma colega de profissão de Pernambuco, que não conseguia baixar os jogos educativos indicados por Fernanda em seu blog. Elas nunca se viram e estão distantes mais de 2.000 quilômetros uma da outra, mas compartilham os desafios de exercer o ofício fora de um grande centro. Pacientemente, Fernanda explica que os jogos estão disponíveis on-line, sem necessidade de download. Com o Utilizando as Mídias na Educação, além de construir um espaço para trocas de experiências, Fernanda conduz pela mão, sem qualquer paternalismo ou condescendência, companheiros de profissão ainda perdidos quanto ao seu papel como mediadores entre alunos e recursos digitais.
Articuladora pedagógica do Instituto de Educação Eber Teixeira de Figueiredo, em Bom Jesus do Itabapoana – município com pouco mais de 35 mil habitantes no noroeste do Rio –, Fernanda criou o blog em 2009 com o propósito de compartilhar com seus colegas de escola algumas ideias de como usar a tecnologia em sala de aula. Quatro anos e 230 mil visitas depois, os comentários postados no blog são como um mapa do Brasil. Do interior de um estado para outro, professores inseridos em diferentes contextos educacionais se unem para montar uma aula interativa sobre o Sistema Solar ou debater artigos acadêmicos sobre o uso de novos recursos na escola – e todo o cardápio de possibilidades entre um extremo e outro.
Pós-graduada em Mídias na Educação pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Fernanda reúne textos, vídeos, dicas de sites e blogs, entrevistas e jogos educacionais com o objetivo de munir seus colegas de ferramentas para enriquecer e diversificar o processo ensino e aprendizagem. Não se trata, porém, de uma via de mão única, como a professora explica nesta entrevista ao Porvir.
Qual foi o seu objetivo ao criar o blog?
Em 2006, assumi o cargo de orientadora tecnológica na escola, que atualmente atende cerca de 800 alunos do 5º ano do ensino fundamental ao 3º ano do ensino médio. Minha função passou a ser orientar e capacitar os professores, por meio de oficinas técnicas e suporte diário, tanto presencialmente quanto por e-mail. Quando descobria links interessantes, enviava para os professores, mas pensei em criar o blog para que essas descobertas fossem compartilhadas com todos os professores da escola, independentemente da disciplina que lecionavam. Ao mesmo tempo em que virou a minha paixão, o blog começou a tomar uma proporção maior, com um alcance que eu não imaginava.
O que os professores que acessam o blog estão em busca?
O Brasil é muito grande e há lugares em que os professores não têm acesso a uma capacitação continuada. Ao longo dos quatro anos de existência do blog, percebi que, além de um espaço para trocas de experiências, ele se tornou um ambiente de formação, de incitação à reflexão e ao debate. Muitos professores pedem posts relacionados a um conteúdo específico, a uma matéria. Compartilho o pedido e outros colegas comentam e dão sugestões, querem dividir experiências uns com os outros.
Que impacto a iniciativa teve na sua comunidade escolar?
Sou uma formiguinha, muito pequena e insignificante, mas aos poucos fui tentando contagiar as pessoas à minha volta. Antes, eu tinha que ir atrás, insistir. Hoje os professores me procuram em busca de ideias. O nosso professor de ciências pediu uma vez ajuda para montar uma aula sobre Sistema Solar com recursos tecnológicos e o roteiro foi criado a partir de sugestões de outros professores, de várias partes do país. Outro exemplo positivo veio da professora de matemática, que criou um grupo fechado no Facebook com os alunos para publicar links interessantes sobre o conteúdo ensinado, ou seja, multiplicando a proposta do blog.
E em relação aos alunos? Como eles respondem às novas propostas de ensino?
Uma situação que ilustra bem a resposta dos alunos aconteceu durante a última OJE (Olimpíada de Jogos Digitais e Educação), realizada pelas secretarias de Cultura e de Educação do Estado do Rio de Janeiro e voltada para estudantes a partir do 9º ano. Os alunos mais novos quiseram participar também. Por isso, criamos uma olimpíada interna na escola, com moldes parecidos. Ver o envolvimento dos alunos, a forma como um ajudava o outro, foi gratificante. Eles também comentam no blog, se interessam pelos jogos e testes indicados, dão retorno sobre os resultados conquistados.
Ainda há resistência por parte dos professores quanto ao uso das mídias em sala de aula?
Gosto de reforçar que não existe recurso tecnológico que substitua a atuação do professor. Se for para utilizar só por utilizar, é melhor que não o faça. Os recursos vêm para enriquecer, aprimorar, diversificar o ensino, mas o professor tem que saber o que está fazendo, o momento certo de usar as ferramentas, como usá-las. A eficácia parte da postura do professor em aplicar o recurso digital. É essa mediação que vai fazer a diferença. A maior dificuldade ainda é o professor ter que buscar essas soluções. Ele sabe que tem, que existe, mas não tem ideia de como usá-las. Se não tem habilidade com a tecnologia, por que não se apropriar do conhecimento do aluno? Um estudante mais antenado pode se tornar um monitor, por exemplo.