Formação continuada mudará ensino no país, diz estudo
Pesquisa do Instituto Ayrton Senna compila possíveis ações para melhorar a capacitação de professores no Brasil
por Fernanda Kalena 7 de julho de 2014
A partir do entendimento de que ao melhorar a formação dos professores a qualidade da educação oferecida no país também cresce, o Instituto Ayrton Senna (IAS), em parceria com o Boston Consulting Group (BCG), lançou nesta segunda-feira um estudo chamado Formação Continuada de Professores no Brasil, com o intuito de apontar os desafios e possíveis ações que podem acelerar o desenvolvimento dos educadores.
Para isso, foram ouvidos quase três mil educadores entre diretores de escolas, coordenadores pedagógicos e professores. Os entrevistados apontaram como prioritários seis obstáculos que precisam ser superados para melhorar a capacitação docente e quatro possíveis linhas de ação que podem contribuir para acelerar a formação continuada.
Para o ministro da Educação, Henrique Paim, o Brasil precisa amadurecer e estudos como este ajudam a acurar o diagnóstico da situação atual. “Vivemos num país que teve um despertar tardio para as questões de educação. Temos que trabalhar com formações continuadas em larga escala para resolver os problemas da formação inicial dos docentes e com isso melhorar o desempenho e a proficiência dos estudantes”, disse durante o evento de apresentação da pesquisa, em São Paulo.
Entre os desafios apontados pelos educadores, em primeiro lugar aparece a falta de incentivos formais, como ajuda de custo para a realização de cursos, palestras e workshops, por exemplo. A escassez de tempo por parte dos professores também aparece com força. Dados do Censo Escolar de 2011, realizado pelo Inep, mostram que 22% dos professores brasileiros trabalham em duas ou mais escolas de educação básica.
Quando pedidos para indicar os formatos de capacitação que são oferecidos aos educadores em suas escolas, a maioria citou iniciativas de formação coletiva, que ocorrem fora da sala de aula, como reuniões pedagógicas e participação em eventos. “Esse enfoque em práticas conjuntas e mais distantes da sala de aula resulta em iniciativas com baixa eficácia”, aponta o estudo, ressaltando a baixa aplicabilidade dos conteúdos das ações oferecidas pelas instituições de ensino.
A alta rotatividade do corpo docente e a falta de um plano de carreira também foram apontados como desafios, assim como a preferência por ações de curto prazo e de alta visibilidade, ao invés de se investir em programas contínuos e mais aprofundados de formação.
Para enfrentar esses desafios, a primeira das quatro medidas apontadas é institucionalizar a importância da capacitação. Campanhas de conscientização sobre a relevância das formações continuadas, certificação voluntária de escolas e avaliações de órgãos externos são relatadas como opções de atuação.
Depois, aparece a necessidade de um plano de carreira docente estruturado de forma transparente, detalhando processos e ferramentas que possibilitam o desenvolvimento individual. Em seguida, a necessidade de ajustar os conteúdos das formações, incentivando que as abordagens sejam mais modernas, práticas, customizadas e colaborativas.
Por último, mas não menos importante, aparece a elaboração de uma legislação que fomente a formação continuada, que crie um currículo nacional único de formação de professores e que estipule um tempo mínimo que deva ser dedicado à capacitação.
Segundo Paim, um dos maiores gargalos de seu ministério é a falta de centralização das políticas estaduais. “Temos em cada estado um sistema de ensino diferente. Temos pela primeira vez um Plano Nacional de Educação que vai atacar essa descentralização”, disse o ministro sobre o documento que foi sancionado no fim de junho e que estabelece as estratégias das polítias de educação para o Brasil pelos próximos dez anos.
Para a realização do estudo, foram ouvidos 26 especialistas, entre eles, secretários de educação e supervisores de ensino. As entrevistas aconteceram entre novembro de 2012 e marco de 2013, por meio eletrônico.