‘Inovador é aquele que empurra o mundo para frente’
Cofundador da revista americana Good diz que projetos preocupados em fazer o bem e ganhar dinheiro são tendência no mundo
por Mariana Fonseca e Patrícia Gomes 16 de agosto de 2012
Há pouco mais de seis anos, o designer Casey Caplowe e alguns amigos perceberam que tinha alguma coisa errada na imprensa tradicional. Eles conheciam muita gente bacana que desenvolvia projetos criativos, muitas pessoas liderando ações inovadoras que faziam diferença nas suas comunidades, mas nada disso estampava capas de jornal. “Sentíamos que era algo novo e que seria importante dar um nome para o que estava acontecendo”, disse. Escolheram a palavra Good para dar nome ao movimento que eles identificaram e também à revista impressa especializada em boas notícias que passaram a produzir. A nova publicação, além de dar espaço a soluções criativas para problemas do mundo, deveria primar por um design ousado e um conteúdo propositivo.
Casey conta que, no início, foi difícil fazer com que as pessoas dessem crédito ao que estavam fazendo. Afinal, tinha algo de ingênuo e romântico no projeto e no nome good. Mas aos poucos o trabalho foi se consolidando e a redação, que começou quase como uma linha de produção industrial, se transformou, nas palavras do cofundador da Good, em um jardim – os profissionais não mais faziam apenas matérias, mas “regavam as histórias e atraíam as borboletas para perto”. Com isso, Casey quis dizer que o projeto ganhou mais funções do que ser uma revista de papel: ela ganhou uma versão on-line e a equipe passou a prestar consultoria para empresas que querem “fazer o bem benfeito”. Agora, acredita o designer, as pessoas estão mais acostumadas com à ideia de ganhar dinheiro e fazer o bem.
Nas duas últimas semanas, Casey Caplowe e Ryan MacInness, que é desenvolvedor da Good, estiveram no Brasil dando um workshop no projeto Mesa&Cadeira, que reúne profissionais de diversas áreas para trabalharem juntos em um projeto-relâmpago. Em seis dias, o time colocou no ar a GO/DO, uma plataforma de colaboração global para difusão de ações sociais. Confira, a seguir, entrevista concedida ao Porvir.
Como a empresa nasceu?
Sabíamos que podíamos montar uma empresa que faz bem ao mundo. Conversando sobre isso, descobrimos que estávamos expostos a muitas boas ideias e sabíamos que havia algo acontecendo por aí e que não estava sendo falado. Sentíamos que era algo novo e que seria importante dar um nome para o que estava acontecendo.
Também havia uma motivação no começo. A palavra good não era muito boa, nem muito sexy. Não era algo que as pessoas queriam se tornar. Não gostávamos da forma como as pessoas falavam de coisas boas. Ou era algo muito idealista e otimista ou era totalmente radical. Queríamos ser práticos e não só idealistas e esperançosos. Queríamos fazer uma coisa cool, divertida e com um bom design.
As pessoas acham que era necessário fazer uma escolha. Você tem que trabalhar muito, ter seu próprio dinheiro e só depois fazer o bem. Mas por que não inspirar as pessoas a fazer os dois ao mesmo tempo?
E qual é a motivação agora?
Acredito que esse sentimento agora é bem mais comum e bem mais compreendido pelas pessoas. No começo era muito difícil explicar e fazer as pessoas entenderem o que estávamos propondo. E acho que nós também amadurecemos. Por isso, agora o nosso foco é formar comunidades, quebrar esses nichos e aproximar as pessoas, não só nos Estados Unidos. É uma mudança das ideias para ação. Agora que entendemos o que está acontecendo, o que vamos fazer com isso?
Quais são os grande temas que as pessoas estão querendo mudar no mundo?
Acho que, quando se fala dos desafios educação é o grande tema do momento, assim como urbanismo e cidades – pelo menos nos EUA. Alimentação, acesso a comidas saudáveis, energia e meio ambiente também são. Tem muita gente experimentando e tentando soluções.
O que você tem visto de mais inovador em educação?
Gosto muito do Teach for America, dessa ideia de colocar os estudantes para ensinar nas escolas, de fazê-los experimentar dois anos de prestação de serviço. Também existem modelos interessantes nas charters schools [escolas públicas administradas por instituições privadas]. E claro, tem muita coisa interessante na questão tecnológica. Para crianças, ainda não vejo muita coisa, mas, para adultos, muito está surgindo na forma como as pessoas se organizam para aprender e desenvolver sozinhas habilidades on-line. Acho que aprender a aprender seja algo muito importante.
E quais são os projetos mais inovadores da Good?
Acho que todos têm partes boas e coisas para melhorar. Mas gosto do Good Ideas For Cities, um projeto em que buscamos vários designers locais, lhes entregamos problemas locais e pedimos, claro, soluções locais. É um projeto que já acontece há 4 anos e tem sido bem interessante. É um evento divertido, um desafio de criação que vem acontecendo de 3 a 4 vezes por ano. Claro que alguns projeto são malucos, mas muitos podem ser escaláveis.
O que é um projeto Good?
Tem que ter pragmatismo e idealismo dos dois. Um projeto Good tem que ter criatividade, engajamento, impacto, tem que inspirar as pessoas, engajá-las em algo produtivo e transformador. A criatividade traz atenção ao detalhe, ao divertido. Achamos que a definição de inovador para a Good é aquele que empurra o mundo para frente, em passos pequenos ou grandes.