Programa personaliza atividades para o ciclo de alfabetização
Coruja Educação faz avaliação adaptativa dos alunos, monitora o desempenho e sugere conteúdos para diferentes necessidades de aprendizagem
por Marina Lopes 28 de março de 2016
A aula começa com o conto de João e Maria. Com participação efusiva, as crianças interrompem a professora para completar trechos já conhecidos da história. A turma é composta por alunos da Escola Estadual Alfredo Paulino, localizada na zona oeste de São Paulo (SP), que estão em período de alfabetização. Após terem passado por uma avaliação adaptativa para identificar o domínio de conteúdos de português e matemática dos anos iniciais do ensino fundamental, eles começaram a participar do Programa Coruja Educação, que oferece atividades adaptadas às necessidades de aprendizagem de cada um.
Quando o conto termina, a classe é estimulada a desenhar momentos da história que mais chamaram atenção. “Agora você vai conhecer o meu talento. Minha mãe fala que o Brasil inteiro precisa ver isso”, declara uma aluna do terceiro ano, de forma espontânea, ao se referir sobre sua habilidade artística. Enquanto fazem a atividade solicitada, a professora retira da bolsa algumas letras do alfabeto e passa pelos estudantes questionando se eles reconhecem esse símbolo.
Com pontuação abaixo do esperado, segundo o diagnóstico do programa Coruja, alguns estudantes do primeiro ao terceiro ano foram encaminhados para essas atividades no contraturno das aulas regulares. No início do semestre, eles fizeram um teste no computador que ajudou a identificar quais eram as habilidades e dificuldades de cada um. Conforme o desempenho dos alunos na avaliação, eles eram direcionados pelo sistema para questões mais simples ou complexas, garantindo que todos conseguissem concluir a prova.
Assim como a Alfredo Paulino, outras cinco escolas também fizeram avaliação inicial do programa Coruja. No entanto, três delas resolveram optar por estender o projeto para todas as crianças do ciclo de alfabetização. Tendo em mãos os resultados da avaliação, após iniciar as aulas com um conteúdo comum para toda a turma, os professores recebem atividades que contemplam alunos em quatro diferentes níveis de instrução. Enquanto os alunos com mais dificuldade começam pelas tarefas de cor vermelha, por exemplo, aqueles que já estão mais avançados podem iniciar pelas atividades de cor azul. Conforme avançam nos conteúdos, eles recebem tarefas mais complexas, que respeitam seu ritmo de aprendizado.
“O projeto vem de uma necessidade que temos na educação brasileira que é garantir que todas as crianças consigam aprender, independente das diferenças, preferências, motivações, facilidades ou dificuldades”, explica Mônica Weinstein, diretora técnica da Coruja Educação. De acordo com ela, o programa segue pelo caminho da personalização do ensino, oferecendo suporte para que o professor consiga atender alunos em diferentes níveis e ritmos de aprendizagem.
No ano passado, o programa fez uma experiência piloto com cinco escolas que recebem ações da organização Parceiros da Educação, uma associação sem fins lucrativos que apoia melhorias educação pública. Entre os principais resultados observados, Mônica destaca que as ações e formações do programa ajudaram os professores a perceberem que era possível ensinar de maneiras diferentes dentro de uma mesma classe e acompanhar o desenvolvimento dos alunos. “Percebemos que as crianças se engajavam muito mais quando começavam as atividades pelo nível delas. Uma outra questão é que as crianças que estavam mais adiantadas também ajudavam as outras dentro da sala de aula”, conta.
Para pedagoga e fonoaudióloga Adriana Pizzo, responsável pelas formações do programa Coruja, os materiais oferecidos não pretendem substituir as aulas do professor, mas oferecer complementos que ajudam a atender as individualidades de cada aluno. “Nós sabemos que muitos professores trabalham em dois períodos, cada um em uma escola, e fica difícil conseguir preparar atividades específicas. Com esse material, ele pode ter de tudo e para todos”, argumenta.
Além de avaliar e sugerir atividades adequadas para cada aluno, o programa oferece formação para os professores, explicando sobre como utilizar o material e perceber que as crianças podem aprender de diferentes maneiras. “Às vezes estamos em cima da criança batendo sempre na mesma porta, mas do outro lado existe uma janelinha que pode estar aberta e não estamos vendo”, diz.