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Crédito: Владимир Гирев / Fotolia.com

Inovações em Educação

Projeto fotográfico mapeia escolas pelo olhar de alunos

Educador do litoral de São Paulo usa mapas personalizados para mostrar a relação afetiva de crianças e adolescentes com o ambiente escolar

por Marina Lopes ilustração relógio 19 de outubro de 2017

Quem melhor para retratar o cotidiano escolar do que os próprios alunos? Com essa máxima, um educador do litoral de São Paulo teve a ideia de mapear escolas de todo o país a partir do registro fotográfico de crianças e adolescentes. Para mostrar como eles se relacionam com o local onde estudam, o professor Márcio Motta criou o projeto “Minha Escola no Mapa”, que apresenta a fotografia como uma ferramenta de expressão social.

“A ideia é trazer para esses alunos a consciência do uso da fotografia como linguagem”, explica Márcio, que faz parte da equipe de direção do Colégio COC Novomundo, localizado em Praia Grande (SP). Diferente do trabalho feito por um fotógrafo que visita as escolas com o olhar de quem vem de fora, ele diz que o grande destaque do projeto é a possibilidade dos alunos mostrarem como enxergam o seu ambiente educacional. “Toda a estrutura do projeto se baseia no aluno enquanto comunicador fotográfico da sua própria realidade.”

A inspiração para desenvolver esse projeto surgiu de uma experiência realizada com os seus alunos no Colégio COC Novomundo. Como professor de biologia, ele foi procurado por um grupo do ensino médio para orientar um trabalho de iniciação científica de fotografia. Sem ter conhecimentos técnicos, Márcio diz que topou o desafio de aprender junto com os adolescentes. “Ninguém tinha muito contato com a fotografia. O nosso conhecimento era quase zero, mas decidimos estudar”, conta Letícia Mello, 18, que foi sua aluna durante esse período.

Conforme o grupo começou a ter experiência, outros estudantes se interessaram pela proposta. De um coletivo fotográfico, eles criaram a Academia de Fotografia, que se reúne desde o segundo semestre de 2016 para fazer trabalhos de várias temáticas, como bullying, empoderamento feminino e desconstrução de estereótipos. “Cada semana a gente lançava o desafio de um tema para estudar”, recorda Letícia. “A fotografia me ensinou a ver o mundo de uma forma diferente.”

Enquanto descobria seu interesse pela fotografia junto com os alunos, Márcio também entrou para o time de educadores certificados pelo Google. Após percorrer várias cidades do país para treinar professores com o uso de ferramentas digitais, ele percebeu que muitos ainda tinham dificuldade de lidar com as câmeras dentro da escola, seja por falta de preparo técnico ou até mesmo por não identificar o seu potencial educativo.

Para apoiar esses professores, ele desenvolveu uma trilha pedagógica com atividades que ajudam a começar um projeto de fotografia dentro da escola. Com conteúdos disponibilizados no ambiente virtual do Google Classroom​, a trilha está estruturada em etapas: o pensar fotográfico, o olhar fotográfico, o fazer fotográfico, o compartilhamento e o encontro com estudantes de outras realidades.

Nas primeiras etapas, a ideia é que os estudantes reflitam sobre o que é fotografia, trabalhando também com as aspectos de linguagem e técnica. “Independente do uso de um iPhone de última geração ou de uma câmera feita em caixa de madeira, as fotos podem ser belíssimas. Fotografia depende muito mais do olhar do que do equipamento”, defende.

Uma vez familiarizados com a linguagem, os estudantes começam então a fotografar o ambiente escolar. Feito isso, toda a produção será compartilhada no Google Fotos, incluindo um texto explicativo sobre cada imagem. “A ideia é que um aluno do Rio Grande do Sul consiga perceber como sua realidade escolar pode ser parecida ou diferente da realidade de um aluno do Pará”, exemplifica.

Depois de conhecer o projeto pela internet, a professora Larissa Fontenelle decidiu levar a proposta para sua escola. Trabalhando literatura com o ensino médio, ela percebeu na fotografia uma possibilidade de estimular que cerca de cem alunos de comunidades rurais de Irituia, no norte do Pará, pudessem retratar sua realidade. “Estou longe dos grandes centros e queria muito mostrar como as coisas funcionam aqui”, conta.

Na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Maria da Conceição Malheiros, ela começou a desenvolver o projeto relacionando a fotografia e o realismo na literatura. “Eu acho que isso está despertando o olhar deles para novas formas de perceber e significar a sua escola e a sua comunidade”, define a professora, que atualmente está na fase de receber e armazenar as imagens produzidas pelos alunos. “Eles não vão conseguir postar direto na internet porque não temos esse acesso.”

Após a conclusão da todas as etapas da jornada fotográfica, os trabalhos produzidos pelos alunos irão fazer parte de um mapa com registros de escolas de todo país. Os professores interessados em participar do projeto Minha Escola no Mapa podem se inscrever por meio de um formulário online até o final do mês.


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ensino fundamental, ensino médio, tecnologia

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