23 cientistas brasileiras que todos precisam conhecer
Na pesquisa e na divulgação de diferentes áreas científicas, muitas mulheres marcaram (e outras ainda fazem) a história do Brasil. Confira
por Ana Luísa D'Maschio (Colaborou Regiany Silva) 8 de março de 2022
Dois projetos de quase mesmo nome, separados pela distância geográfica, carregam o mesmo objetivo. Tanto o Meninas na Ciência, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, quanto o Projeto Menina Ciência – Ciência Menina, da UFABC (Universidade Federal do ABC), em São Paulo, tem por objetivo estimular meninas a seguir na carreira científica.
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O Porvir conversou com Carolina Brito e Maria Inês Ribas Rodrigues (ambas físicas e coordenadoras das iniciativas no Rio Grande do Sul e no ABC, respectivamente) para a matéria “Lugar das mulheres é na educação científica – e onde mais elas quiserem”. As duas elaboraram, em parceria com a equipe da redação, uma lista de cientistas na área de humanas, exatas e biológicas que fizeram, e ainda fazem, a história da ciência no país. Confira:
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Anita Canavarro Benite – Mestra e doutora em Ciências pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), criou, em 2009, o Coletivo CIATA (Grupo de Estudos sobre Descolonização do Currículo de Ciências). Coordenadora do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão, da UFG (Universidade Federal de Goiás), sua área de atuação é a química bioinorgânica medicinal.
Bertha Lutz (1894-1976) – Cientista e bióloga especializada em anfíbios, em 1919 se tornou pesquisadora do Museu Nacional do Rio de Janeiro – foi a segunda mulher a fazer parte do serviço público do Brasil. Feminista e defensora dos direitos das mulheres, integrou a delegação brasileira que participou da Conferência das Nações Unidas em São Francisco (EUA), em 1945, lutando para incluir menções sobre igualdade de gênero na Carta das Nações Unidas.
Débora Diniz – Antropóloga, documentarista e professora licenciada da Faculdade de Direito da UnB (Universidade de Brasília), é especialista em bioética (“a ética da vida”). Fundou a Anis – Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, que atua, principalmente, com os direitos reprodutivos das mulheres. É autora do livro “Zika – do Sertão Nordestino à Ameaça Global”, vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Ciências da Saúde em 2017.
Débora Menezes – Primeira mulher eleita presidenta da Sociedade Brasileira de Física, tomou posse no começo de 2022. Professora titular do Departamento de Física da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), suas pesquisas envolvem a área de física de hádrons, interface entre a física nuclear de baixas energias e a física de partículas elementares.
Elisa Frota Pessoa (1921-2018) – Uma das pioneiras na ciência no país, fundou o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas. Contrariando o pai, que via o casamento como único futuro possível para as meninas daquele tempo, ela foi a segunda mulher a se formar em física no Brasil, em 1942 (a primeira, Sonja Ashauer, graduou-se pela USP no mesmo ano). Elisa cursou a Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil (hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro) e se destacou pelos estudos de radioatividade ligados à emulsões nucleares.
Elza Furtado Gomide (1925-2013) – Primeira doutora em matemática pela USP (Universidade de São Paulo), em 1950, formou-se inicialmente em física. Em seguida, dedicou-se à matemática, seguindo a carreira do pai, tornando-se também professora. Eleita chefe do Departamento de Matemática em 1968, tornou-se militante pelas questões ligadas ao ensino. Trabalhou na USP de 1945 até sua aposentadoria, em 1995.
Enedina Alves Marques (1913-1981) – Formada em engenharia civil pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), em 1945, é a primeira engenheira negra do Brasil. Sempre gostou de matemática, mas não queria ser só professora, e sim colocar em prática seus projetos. professora. Por ser mulher e negra em um ambiente masculino, carregava uma arma em seu cinto e dava tiros para o alto quando precisava falar e impor respeito.
Jaqueline Goes de Jesus – Doutora em patologia humana e experimental pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), a cientista e sua equipe identificaram os primeiros genomas do novo coronavírus apenas 48 horas depois da confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil. A média para este mapeamento no resto do mundo era, até a descoberta brasileira, de 15 dias. Atualmente, Jaqueline desenvolve pesquisas em nível de pós-doutorado no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo da Universidade de São Paulo (IMT/USP).
Katemari Diogo Rosa – Doutora em Science Education pela Universidade de Columbia (EUA), é professora adjunta da UFBA. Suas pesquisas envolvem ensino de física e debates sobre gênero, sexualidade, raça e status socioeconômico no ensino das ciências. Integrante da Sociedade Brasileira de Física, também faz parte da National Organization of Gay and Lesbian Scientists and Technical Professionals e da Associação Brasileira de Pesquisadoras/es Negras/os (ABPN).
Lelia Gonzalez (1935-1994) – Doutora em antropologia, foi pioneira nas ciências sociais no que se refere aos estudos sobre cultura negra no país. Co-fundou o Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro. Seu pensamento atravessa filosofia, candomblé e psicanálise, propondo uma visão afro-latino-americana do feminismo. Em 2020, a Associação Brasileira de Ciência Política lançou o prêmio Lélia Gonzalez de Manuscritos Científicos sobre Raça e Política com o objetivo de incentivar a conclusão de trabalhos de pesquisadoras e pesquisadores pretas(os) e pardas(os).
Luiza Bairros (1953-2016) – Mestre em ciências sociais, foi ministra-chefe da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do Brasil entre 2011 e 2014. Pesquisadora sobre racismo, sexismo e o negro no mercado de trabalho, em 2016 (ano de sua morte), foi homenageada pelo Coletivo Luiza Bairros, em Salvador, focado na construção de uma permanente política de ações afirmativas na UFBA.
Márcia Barbosa – Professora e pesquisadora do Instituto de Física da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), é física e especialista em água. Diretora da Academia Brasileira de Ciências e integrante da Academia Mundial de Ciências, em 2020 foi eleita como uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil pela revista Forbes.
Margareth Dalcolmo – Médica pneumologista, desde 2002 é professora adjunta da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). Estudiosa da tuberculose, é considerada uma das pioneiras na luta contra o tabagismo no Brasil. Durante a pandemia, Margareth ganhou papel de destaque na imprensa, pela especialidade em doenças pulmonares e Covid-19.
Maria Beatriz do Nascimento (1942-1995) – Historiadora e ativista dos direitos humanos, considerada uma das grandes pesquisadoras dos estudos étnicos sobre o negro no país. Sua obra mais conhecida é o documentário Ori, de 1989, além da contribuição para as ciências sociais com artigos sobre conceito de quilombo, racismo e sexismo.
Mayana Zatz – Nascida em Israel, com nacionalidade brasileira, Mayana é referência na área da pesquisa em genética humana, reconhecida mundialmente. Em 1981, fundou a Associação Brasileira de Distrofia Muscular. Entre seus prêmios, estão a grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 2000, e o prêmio latino-americano L’Oréal-UNESCO para mulheres em ciência, no ano seguinte.
Mellanie Fontes-Dutra – Idealizadora da Rede Análise Covid-19, grupo formado por profissionais de diversas áreas que divulgam informações científicas para o enfrentamento à Covid-19 em linguagem acessível, Mellanie tem 29 anos. Graduada em biomedicina pela UFRGS, a jovem é mestre e doutora em neurociência e faz pós-doutorado em bioquímica, também pela universidade.
Natália Pasternak – Diretora do Instituto Questão de Ciência, Natália teve papel fundamental na divulgação da ciência durante a pandemia. Em 2020, organizou o primeiro curso de especialização em comunicação pública da ciência na cidade de São Paulo. No mesmo ano, recebeu o prêmio Navalha de Ockham da publicação britânica “The Skeptic Reason with Compassion” pelos esforços no combate à desinformação durante a crise sanitária.
Simone Maia Evaristo – Bióloga formada pela Universidade Gama Filho, Simone é presidente da Associação Nacional de Citotecnologia (Anacito). Supervisora na área de ensino técnico do Instituto Nacional do Câncer (INCA), tem como objetivo divulgar, cada vez mais, o papel do controle do câncer.
Sônia Guimarães – Primeira mulher negra doutora em física, também é a primeira mulher negra a lecionar no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) nos anos 1990, quando a instituição aceitava apenas homens como estudantes. Mantenedora da Faculdade Zumbi dos Palmares, atua com projetos feministas e iniciativas de inclusão de mulheres e negros na academia brasileira.
Sonja Ashauer (1923-1948) – Reconhecida como excelente estudante, Sonja foi a primeira mulher brasileira a concluir o doutorado em física, pela Universidade de Cambridge (Inglaterra). Pesquisou vários problemas relacionados à mecânica quântica e teve uma morte precoce, aos 25 anos.
Thelma Krug – Matemática com atuação em mudanças climáticas, é tida como uma das grandes especialistas em mudança do clima e florestas. Com doutorado em estatística espacial pela Universidade de Sheffield (Inglaterra), ocupou diversos cargos governamentais. Desde 2015, é vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, mais conhecido como IPCC (da sua denominação em inglês Intergovernmental Panel on Climate Change), organização científico-política criada em 1988 pela ONU (Organização das Nações Unidas).
Vivian Miranda – Única brasileira a integrar um projeto com a Nasa para desenvolver um satélite – o projeto, de 3,5 bilhões de dólares, vai capturar imagens e será lançado em 2025 (com previsão de ficar cinco anos no espaço). Vivian é a primeira transexual a cursar pós-doutorado em astrofísica na Universidade do Arizona (EUA), onde também é pesquisadora.
Viviane dos Santos – Cursou por dois anos química industrial na UFBA. Nos anos 1990, mudou-se para Holanda, para estudar bioquímica e engenharia química na Delft University of Technology. Desenvolveu um produto catalisador que reduz emissão de gases poluentes, recebendo premiação máxima em 2010 em uma conferência na Finlândia – Viviane concorreu com 800 pesquisadores.