6 respostas inovadoras para desafios apontados no Censo Escolar
Conheça alguns dos principais gargalos apresentados pelo levantamento e veja caminhos inovadores para solucioná-los
por Redação 16 de fevereiro de 2018
Os dados do Censo Escolar 2017, divulgados no início do ano pelo MEC (Ministério da Educação), evidenciam alguns dos principais gargalos da educação brasileira. Eles abrangem temas como infraestrutura, fracasso escolar, formação de professores, inclusão e ampliação das desigualdades. Abaixo, o Porvir mostra como o caminho para superá-los pode estar na adoção de inovações educacionais.
Uso de tecnologia
Quando bem utilizada, as novas ferramentas tecnológicas podem transformar a maneira como se ensina e se aprende. De acordo com a última pesquisa TIC Educação, quando a tecnologia está presente, 94% dos professores concordam que podem ter acesso a materiais mais diversificados ou de melhor qualidade. Além de ampliar a oferta de materiais para atividades pedagógicas, o uso de tecnologia ajuda a aproximar a escola dos interesses dos estudantes. Entre aqueles ouvidos durante a primeira fase da pesquisa “Nossa Escola em (Re)Construção”, 27% afirmaram que desejam usar a tecnologia para aprender mais.
No entanto, para gerar resultados efetivos, as escolas brasileiras ainda precisam melhorar infraestrutura e conectividade. Os dados do Censo Escolar apontam que, embora as escolas do ensino médio aparentemente tenham avançado em direção à universalização do acesso à internet, 38% das escolas de anos iniciais e 20,5% das escolas de anos finais ainda estão desconectadas. Quando o assunto é velocidade, um estudo do Comitê Gestor da Internet no Brasil também indica que 45% das escolas públicas ainda não ultrapassaram 4 Mega.
Para mobilizar mudanças nesse cenário, organizações sociais e iniciativas da sociedade civil podem se mobilizar e cobrar por mais conexão das escolas. Em 2015, uma campanha realizada pela Fundação Lemann, em parceria com o Instituto Inspirare, o Instituto de Tecnologia & Sociedade (ITS) e a rede Nossas Cidades, incentivou instituições de ensino de todo país a testarem sua conexão e se juntarem ao movimento que pedia 10 MEGA em todas escolas brasileiras. Também vale acompanhar e fiscalizar o andamento de políticas públicas, já que no final do ano passado, o governo federal lançou a Política Nacional de Inovação Educação Conectada, que até o fim de 2018 prevê levar internet a 22,4 mil escolas públicas nas áreas urbana e rural.
Pensando em apoiar gestores que precisam elaborar seu plano de tecnologia, o Porvir elaborou o guia Tecnologia na Educação, que apresenta experiências e recomendações para criar a infraestrutura necessária para escolas. Entre outras questões, o especial aborda modelo de conexão, distribuição de sinal de internet, equipamentos e manutenção.
Ausência de recursos e espaços diversificados
Além da sala de aula, ter acesso a espaços diversificados é fundamental para a aprendizagem. Entre os 132 mil jovens ouvidos pela pesquisa “Nossa Escola em (Re)Construção“, 44% deles afirmam que não pode faltar área verde na escola dos sonhos e 42% citam a presença de quadras e equipamentos esportivos. Quando questionados sobre qual jeito os faria aprender mais, 36% sugerem atividades práticas e resolução de problemas. As respostas dos estudantes, entretanto, esbarram na falta de recursos em muitas escolas brasileiras, que ainda não contam com quadra de esportes, biblioteca ou sala de leitura. Menos da metade das instituições de ensino médio possuem acesso a laboratório de ciências, enquanto no ensino fundamental essa taxa cai para 8,9% nos anos iniciais e 22,7% nos anos finais.
No ano passado tramitou, na Câmara dos Deputados um projeto de lei que obriga a construção de quadras poliesportivas em novas escolas públicas. Já no caso das bibliotecas, a Lei 12.244/10 garante que todas as escolas públicas e privadas deverão ter esse equipamento até 2020. Mas já existem recursos públicos disponíveis para a construção desse espaço. Para promover a universalização das bibliotecas em escolas, uma campanha liderada pelo ICE (Instituto de Corresponsabilidade pela Educação) compartilha informações com a sociedade civil e com gestores públicos que podem compor o orçamento dos seus municípios para viabilizar a expansão de bibliotecas.
O PNE (Plano Nacional de Educação) também determinada que todas as escolas públicas de educação básica deveriam ter assegurados os seguintes itens de infraestrutura: água tratada e saneamento básico, energia elétrica, acesso à internet com banda larga de alta velocidade, acessibilidade à pessoa com deficiência; bibliotecas; espaços para prática esportiva; acesso a bens culturais e à arte; e equipamentos e laboratórios de ciências.
Enquanto todas as escolas não contam com espaços diversificados para a aprendizagem, o uso do território e de equipamentos públicos da comunidade também são uma alternativa para promoção do desenvolvimento integral de crianças e adolescentes.
Taxa de insucesso (reprovação e abandono)
De acordo com os dados do Censo Escolar, a taxa de insucesso, que considera a soma de reprovação e abandono, aumenta consideravelmente nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio. Nesta fase, os estudantes começam a passar por um período de desenvolvimento que é marcado por muitas mudanças físicas, psíquicas, emocionais e sociais, que muitas vezes não são compreendidas pela escola. Em contrapartida, a realidade escolar e o currículo também passam a ficar cada vez mais distantes do universo do aluno.
Uma pesquisa do Insper, liderada pelo economista Ricardo Paes de Barros, aponta 14 fatores de desengajamento que afastam os jovens da escola. Entre eles, aparecem itens como a falta de significado, clima escolar, desafios emocionais e percepção da importância da educação. Outro estudo da consultoria McKinsey, baseado em dados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), avaliação internacional com alunos de 15 anos, demonstra que a motivação é um fator determinante para o desempenho do aluno, chegando a superar a importância da renda e o acesso a meios culturais.
Para resgatar o interessante dos estudantes pela escola, é importante que eles participem das decisões e se envolvam em assuntos cotidianos. O guia especial Participação dos Estudantes na Escola, desenvolvido pelo Porvir, mostra como promover uma cultura de participação capaz de ampliar o engajamento, a aprendizagem, melhorar a educação e contribuir para a democracia.
Também é importante que professores, escolas e gestores compreendam melhor o universo de adolescentes e jovens para conectar a educação com os seus interesses. Nesse sentido, a plataforma Faz Sentido oferece orientações, recursos e guias práticos que ajudam na construção de um projeto de mudança para os anos finais do ensino fundamental e para o ensino médio.
Inclusão
Nos últimos anos, o Brasil avançou no campo das políticas educacionais voltadas para a garantia do acesso e da permanência na escola. A partir de 2010, o número de estudantes com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento ou altas habilidades em incluídos em classes comuns superou o número de alunos em classes ou escolas especiais. Apesar dessa mudança, atualmente 61,3% das escolas têm alunos com deficiência incluídos em turmas regulares. Quando o assunto é infraestrutura, também não são todas que oferecem acessibilidade. Nos anos iniciais do ensino fundamental, apenas 37,1% das escolas possuem banheiros adequados para alunos com deficiência ou mobilidade reduzida, por exemplo.
Além dos desafios evidenciados pelos números, muitas escolas brasileiras ainda precisam ampliar a sua concepção de inclusão, entendendo que cada estudante tem uma uma trajetória de vida singular, com aspectos sociais, físicos e intelectuais que não são contemplados por métodos padronizados de ensino.
Em uma série de reportagens sobre Educação Inclusiva, o Porvir abordou os principais desafios para a inclusão e como as inovações educacionais conseguem criar ambientes educacionais que respeitam as individualidades de todos.
Formação de Professores
Conforme apontam os dados do Censo Escolar, 21,7% dos professores brasileiros não possuem formação superior completa. Entre os docentes com um curso de licenciatura ou bacharelado, ainda há um alta taxa de inadequação em relação a área de atuação. Pouco mais da metade dos professores de física que atuam no ensino médio (57,4%) não possuem formação adequada, ou seja, não têm formação superior de licenciatura ou bacharelado com complementação pedagógica na mesma área da disciplina que lecionam.
Apesar dos dados chamarem atenção, os desafios da ausência de curso superior ou inadequação não são os únicos da formação docente. Pesquisas recentes e especialistas da área também questionam a qualidade dos cursos de formação inicial de professores no país. Como grandes debates da área, surgem os questionamentos sobre a aproximação entre teoria e a prática, o uso de novas metodologias e a preparação atuarem em um novo contexto, alinhado aos desafios do século 21.
Em julho de 2015, o CNE (Conselho Nacional de Educação) divulgou novas diretrizes para a formação de professores, que ampliam o tempo mínimo de formação para os cursos de licenciatura e incluem mais atividades práticas. Uma série de reportagens publicadas pelo Porvir também debate o tema e apresenta experiências nacionais e internacionais de instituições que estão inovando na maneira de preparar os novos profissionais da educação.
Equidade
Todos os desafios acima mencionados contribuem para ampliar as desigualdades educacionais brasileiras. Os dados do Censo Escolar explicitamcomo os estudantes encontram oportunidades diferentes em instituições públicas e privadas. Ao analisar a distorção idade série, por exemplo, a rede privada se destaca com maior sincronismo. Quando considerada a taxa de insucesso, representada pela soma de reprovação e abandono, a rede privada tem um registro de 8,3% de insucesso no primeiro ano do ensino médio, enquanto essa taxa é três vezes maior na rede pública (28,1%). Escolas urbanas e rurais também apresentam desigualdades significativas em termos estruturais.
Em busca de reduzir as desigualdades, que se ampliam entre alunos de nível socioeconômico muito alto e de nível socioeconômico muito baixo, uma das estratégias apontadas no PNE (Plano Nacional de Educação) é a garantia financeira de padrões de qualidade, que envolvem o Custo Aluno-Qualidade inicial (CAQi) e o Custo Aluno-Qualidade (CAQ).
As inovações educacionais também são estratégias para promover a equidade. De acordo com o relatório global “Podemos dar um salto? O potencial das inovações educacionais para acelerar rapidamente o progresso”, do The Brookings Institution, a inovação é o caminho para acelerar melhorias na educação. Uma escola que promove atividades mão na massa, trabalha em parceria com a comunidade, envolve as famílias, usa tecnologia, valoriza o desenvolvimento integral e promove a participação dos estudantes tem mais chances de garantir oportunidades iguais para todos.