Como a educação foi tratada no primeiro debate presidencial - PORVIR
Crédito: Renato Pizzutto/Band

Inovações em Educação

Como a educação foi tratada no primeiro debate presidencial

Debate teve propostas para melhoria da aprendizagem e combate à evasão, além de críticas à gestão do presidente Jair Bolsonaro

por Redação ilustração relógio 29 de agosto de 2022

O debate presidencial deste domingo (28), organizado pelo grupo Bandeirantes, Folha de S.Paulo, UOL e TV Cultura, com a participação de Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Lula (PT), Simone Tebet (MDB), Felipe d’Avila (Novo) e Soraya Thronicke (União), trouxe momentos dedicados à educação com propostas para melhoria da aprendizagem e críticas à gestão do presidente Jair Bolsonaro. 

Ainda que breves, as falas tiveram a participação da maior parte dos candidatos e trataram de temas como impacto da pandemia na educação, ensino médio e os investimentos em educação. As perguntas direcionadas pelos rivais ao presidente Jair Bolsonaro não trataram especificamente de educação. 

Uma parceria dos organizadores com o Google mostrou que “escola” e “educação” foram respectivamente o terceiro e quarto termos mais buscados relacionados ao debate, à frente de outros como “covid-19” e “corrupção”. Em maio, uma pesquisa encomendada pela ONG Todos Pela Educação mostrou que para 59% dos eleitores, a educação seria uma prioridade na hora de decidir o voto.  

Crédito: Reprodução Eleições – Temas mais buscados durante o debate / Crédito: Reprodução

Impacto da Pandemia

Em pergunta sobre como o governo federal deve agir para resgatar a geração de jovens afetada pela Covid-19 e não ter um futuro com baixos salários baixos salários, subemprego, o que afetaria o crescimento econômico do país, Lula mencionou que “a gente não tem informação do MEC para saber quantas crianças estão hoje, sabe, com o grau de educação muito abaixo daquilo que deveria estar. Porque hoje nós temos dois tipos de estudantes. Nós temos aquele que teve acesso a tablet, computador e continuou estudando durante a pandemia, e nós temos aqueles mais pobres que não conseguiram acompanhar e ficaram sem ir para a aula. Além disso, nós temos no ensino médio uma quantidade de evasão escolar muito grande”. 

Diante desse problema, o candidato do PT diz que “a primeira coisa que eu pretendo fazer, se ganhar as eleições, é logo no começo de janeiro convocar uma reunião com todos os governadores de Estado, convocar uma reunião com os prefeitos das capitais, no primeiro momento, para que a gente possa fazer um pacto, de fazer uma verdadeira guerra contra o atraso educacional que a pandemia deixou”, afirmou.

Ciro Gomes, ao comentar a resposta do rival, trouxe o exemplo de seu estado, Ceará, que ao longo dos últimos anos avançou nos resultados educacionais. “O Ceará tem hoje a melhor educação pública do Brasil, e eu, modestamente, ajudei a produzir isso. Nós temos em todos os indicadores de avaliação, 79 das 100 melhores escolas públicas do Brasil, e já estamos encaminhando uma equação para esse prejuízo grave que a pandemia causou entre a comunidade escolar. […] O descuido com a educação brasileira parece ser um projeto de governo”. Para chegar a esse objetivo, o candidato declarou ainda que é preciso “mudar o padrão pedagógico, trocar o decoreba por um ensino emancipador, que os tempos digitais pedem, e reforçar estruturalmente o financiamento”,

Investimento

Em uma pergunta para Ciro Gomes, o candidato Felipe D’Avila questionou por que as crianças continuam não aprendendo mesmo com 5,8% do PIB (Produto Interno Bruto) na educação. (Nota do Porvir: valor abaixo da média da OCDE, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, e que é considerado por especialistas insuficiente diante das desigualdades brasileiras). D’Ávila também lembrou as trocas de ministros da educação durante a gestão Jair Bolsonaro. 

Em sua resposta, Ciro retomou o exemplo do Ceará e disse que o valor investido já poderia “garantir um padrão de educação muitas vezes maior”. Na sequência, disse que o modelo de escola que se oferece hoje na rede pública “é o da decoreba, é o ensino sem graça, é o enciclopedismo” raso […] que não tem sentido em tempos de Google”. Em contraponto ao candidato do NOVO, Ciro disse que “o Brasil gasta per capita muito menos do que aquele padrão que a Europa, por exemplo, gasta, que os Estados Unidos gastam, e hoje nós estamos obrigados a competir com eles em terceiros mercados ou no mercado brasileiro”.

Na réplica, D’Ávila por diversos momentos mencionou o gasto público. Começou dizendo a Ciro que o foco precisa estar no aprendizado do aluno. “A gente desperdiça dinheiro público com a máquina pública. Isso não melhora o aprendizado do aluno. A criança não aprende”. Em seguida, falou do professor. “Nós precisamos investir na carreira do professor, uma carreira para valorização do professor. O professor precisa aprender a dar aula. O curso de pedagogia precisa mudar completamente. É completamente arcaico hoje. E mais do que isso, nós precisamos investir no ensino profissionalizante para reter os nossos jovens na escola, porque senão existe êxodo de mais de 48%”. 

Ao retomar a palavra, Ciro disse que 60 de cada 100 alunos do ensino médio do Ceará já estão em tempo integral. Boa parte, profissionalizante. [Os estudantes] saem dali com estágio remunerado nos seis primeiros meses pelo governo, e mais de 93% ficam retidos pelas empresas porque nós fazemos essa aposta. Em seguida, disse que “sem remuneração decente, sem financiamento decente isso tudo não vai acontecer. O piso salarial do magistério brasileiro, comparado com o mundo, é de encher de vergonha. […] Em alguns estados, muitos municípios sequer estão pagando o piso salarial. Qualificar a gestão das escolas também é um elemento essencial”. Por fim, neste bloco de respostas o candidato do PDT argumentou ainda que acompanha o aluno para que ele não perca a idade escolar certa para o aprendizado é o que vai mudar o Brasil. 

Ao final, Ciro também atacou Lula e o foco no ensino superior durante os governos do PT. “Acabou de falar aí, o Presidente Lula, de bilhões, de milhões de crianças e adolescentes, de estudantes que foram para o ensino universitário, é verdade. O Brasil tem hoje 18, de cada 100 garotos de 18 a 25 anos, no ensino superior. A Colômbia tem 42. E quando nós vamos olhar que tipo de escola passaram no governo do PT, do Lula, R$ 40 bilhões para empresários privados. Deixando um garoto endividado no começo da vida com uma conta de R$ 110 a 150 mil no FIES (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior)”.

Simone Tebet, em questionamento sobre como levar dignidade às crianças e jovens que frequentam a escola, lembrou recentes casos suspeitos de corrupção. Em sua resposta, Soraya, disse que o atual governo não conseguiu fazer um programa que resolvesse isso. “Simples seria se ele utilizasse o mesmo método que utilizou o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo. Marcelo Rebelo é professor também, e ele foi para a TV estatal. Ele foi para a TV estatal dar aulas, e contratou os melhores professores do país para dar aula na TV aberta para os alunos”. 

Em sua fala, Simone trouxe a proposta de uma “poupança jovem” para estudantes do ensino médio. “O ensino médio técnico profissionalizante sai do papel para que os nossos jovens possam entrar no mercado de trabalho imediatamente. E para isso, para que eles não virem nem-nem, nem estudo nem trabalho, nós vamos colocar uma poupança jovem. O nosso jovem vai ganhar dinheiro todo ano, e no final do terceiro ano do ensino médio, vai ganhar R$ 5 mil pra fazer o que ele quiser, dar uma entrada numa moto ou num celular, mas pra que ele não saia”. Em sua última participação ao falar do tema,Soraya mencionou que o valor da merenda não foi atualizado. “As nossas crianças, muitas delas têm somente a merenda escolar para comer. É triste demais”.


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