Debate mediado por diretora do Porvir traz bastidores da queda de ministro
Investigação jornalística teve papel fundamental ao denunciar grupo de pastores que controlava a verba do Ministério da Educação. O escândalo culminou na saída de Milton Ribeiro, em março
por Danilo Mekari 12 de setembro de 2022
Começou nesta segunda (12/09) a sexta edição do Congresso Internacional de Jornalismo de Educação. Promovido pela Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação), o evento promove debates e oficinas para apoiar a prática jornalística sobre aspectos-chave da cobertura de educação no Brasil. Nesta edição, o congresso tem como tema “Eleições e a cobertura de educação nos próximos anos”.
Após a abertura oficial, na qual representantes das candidaturas presidenciais abordaram suas propostas para a educação brasileira, foi realizada a mesa “Pastores do MEC: bastidores da cobertura midiática que derrubou o ministro Milton Ribeiro”, que reuniu jornalistas envolvidos na cobertura do escândalo que veio a público em março deste ano, entre eles Breno Pires (à época no Estadão, atualmente na revista piauí); Paulo Saldaña, repórter da Folha de S. Paulo; e Paula Ferreira, repórter d’O Globo. O debate foi mediado por Tatiana Klix, diretora do Porvir e integrante da diretoria da Jeduca.
Confira a íntegra (é preciso ter login no site da Jeduca):
Tatiana destacou o papel da apuração jornalística na queda do ministro, acompanhada por Paulo Saldaña. “A cobertura de investigação muitas vezes vai a reboque dos investigadores oficiais. Nesse caso foi justamente o contrário, a imprensa fez um trabalho investigativo muito bom e, com ele, os investigadores foram descobrindo coisas novas e conectando essas peças”, avalia o repórter, que também é diretor da Jeduca.
“Quem derrubou o ministro foi o jornalismo profissional, a imprensa. Não foi o Ministério Público ou a Polícia Federal”, ressalta Breno Pires. “Vivemos um tempo de fragmentação das coberturas, cada veículo faz o seu trabalho sem se conectar com aquilo que outros jornalistas estão fazendo”, critica Pires. Para Paulo Saldaña, a cobertura jornalística deste caso ganhou potência quando feita de maneira coletiva.
Um dos veículos que se somaram à investigação de Estadão e Folha foi o jornal O Globo. “Para sair da fofoca de Brasília e publicar uma matéria é um caminho enorme”, avalia a repórter. “Quando se entra na cobertura um pouco depois, tem que gastar ainda mais a sola do sapato. Com a guerra cultural declarada por Bolsonaro, o governo elevou o status da educação na cobertura jornalística nacional.”
Neste sentido, Breno criticou a ausência de respostas oficiais dos representantes do governo e do ministério durante a apuração. “Não conseguimos construir uma compreensão social mais forte quando o governo insiste em não responder e não prestar contas”, opina.
Por fim, ele considera a investigação do escândalo dos pastores do MEC como um marco para a retomada das investigações próprias do jornalismo: “Durante e depois da Lava Jato, muito do nosso papel era fazer a tradução dos papéis para o leitor. Agora, voltamos ao papel de revelar o que o poder quer esconder.”