Ceará une ensino integral e profissionalizante
Mais de 90 escolas públicas oferecem 50 cursos diferentes de capacitação para jovens no ensino médio
por Vagner de Alencar 11 de outubro de 2012
Em mais de 90 escolas públicas cearenses, a rotina dos estudantes de ensino médio inclui aulas das 7h30 às 17h. As EEEPs (Escolas Estaduais de Educação Profissional), de educação integral, decidiram em 2008 aumentar a carga horária para levar aos alunos o ensino profissionalizante. Hoje, são mais 30 mil alunos em 70 municípios do estado estudando nesse formato. E a estimativa é chegar a 140 escolas até o final de 2014.
Nas EEEPs os jovens se deparam com um currículo bastante amplo: 17 disciplinas. A grade é dividida entre matérias comuns (iguais para todos os alunos) e técnicas (de acordo com cada curso). Além disso, três dessas matérias são direcionadas à formação pessoal e empreendedora dos jovens e são oferecidas nos três anos do ensino médio: capacitação cidadã, preparação para o trabalho, e empreendedorismo e aprendizagem cooperativa.
Segundo Andréa Rocha, coordenadora de educação profissional das EEEPs, o ensino médio integrado ao técnico atende à necessidade de mão de obra qualificada. “Parte dos estados brasileiros precisa buscar fora profissionais qualificados. No nosso caso temos muitos polos de empresas farmacoquímicas e de energia renovável. A capacitação dos jovens faz com que não seja necessário trazer gente de fora para trabalhar aqui”, afirma.
É o também concorda Maurício Holanda, secretário adjunto de educação, que acredita que o modelo de ensino, além de atender a uma necessidade de desenvolvimento econômico, também garante uma formação acadêmica de qualidade. “Os estudantes seguem sonhando com o acesso ao ensino superior ao mesmo tempo em que conseguem inserção mais favorável e imediata no mercado de trabalho”, diz.
Mercado de trabalho
As escolas oferecem, ao todo, 51 cursos técnicos diferentes que são escolhidos de acordo com as realidades do mercado de trabalho local. As formações oferecidas vão desde curso de libras, agropecuária, agroindústria até química e eletrônica. Na EEEP Ícaro de Sousa Moreira, em Fortaleza, por exemplo, os 400 alunos podem eleger uma entre as cinco carreiras oferecidas pela escola: enfermagem, guia em turismo, eventos, logística e segurança do trabalho.
Os estudantes escolhem o que querem estudar já no 1o ano. Assim que chegam 3o, eles devem aplicar, na prática, os conteúdos adquiridos. Para isso, realizam estágios obrigatórios, que também precisam ser renumerados. A prática é possível por meio do Programa de Cooperação entre o Empresariado Cearense e as Escolas Estaduais de Educação Profissional, firmado entre empresas e Secretaria de Educação, e que incentiva as empresas a receberem os alunos das escolas profissionalizantes como estagiários.
Segundo Shirlene Maria Botelho, coordenadora do núcleo de estágios do colégio, um dos principais diferenciais das EEEPs é o acompanhamento dado aos jovens após o término da formação. “Depois que os alunos saem da escola, mantemos um contato com eles durante três anos. Ligamos para acompanhar como estão, onde e se estão trabalhando ou ainda se precisam de alguma orientação profissional”, afirma.
Ainda de acordo ela, é pequeno o percentual de jovens que não seguem as profissões escolhidas no ensino médio. “A maioria continua trabalhando na área, principalmente aqueles que conseguem se efetivar em seus estágios. Temos um número grande de alunos que são aprovados nos vestibulares ou passam em concursos públicos.”
Inspiração
O modelo cearense foi inspirado nos CEEs (Centro de Ensino Experimental) ou ginásios experimentais, que levavam ensino integral a estudantes de ensino médio desde 2006 em Pernambuco e que já se espalharam também por São Paulo, Goiás e Rio de Janeiro.
As EEEPs adotaram o modelo de gestão utilizado pelos CEEs, focado no protagonismo juvenil, na preparação para a vida e em projetos integrados, mas diferente dos ginásios experimentais, optaram por incluir no ensino médio a formação profissionalizante.
Segundo Marcos Magalhães, presidente do ICE (Instituto de Co-Responsabilidade pela Educação), instituto que implementou os CEEs, apesar dos bons resultados obtidos pelas EEEPs o ideal para esse formato de ensino médio profissionalizante seria a adoção de mais um ano de estudos. “Muitos alunos chegam a ter 19 disciplinas anuais. O melhor seria diminuir a quantidade de disciplinas e o ensino médio passar a ser feito em quatro anos no lugar dos três atuais”, diz.