Aprender com histórias inspiradoras: como auxiliar seus estudantes a fazer uma boa entrevista
A professora Gina Vieira, de Brasília (DF), compartilhou com o Porvir dicas baseadas na metodologia que aplicava em aula e que deu origem ao livro sobre mulheres inspiradoras
por Redação 19 de dezembro de 2022
Comum em reportagens jornalísticas ou até mesmo em projetos de pesquisa acadêmica, a entrevista também pode ser um caminho para explorar novos conhecimentos e desenvolver habilidades com a turma. A professora Gina Vieira, do Distrito Federal, uma das homenageadas da exposição “Encontro com o Porvir: trajetórias de educadores que transformam o presente e constroem o futuro”, resolveu incentivar seus alunos e alunas a escrever mini biografias de mulheres inspiradoras. Poderiam ser mães, avós, tias, vizinhas, figuras de referência na comunidade ou outras pessoas conhecidas deles.
Antes de sair pelas ruas entrevistando alguém, é preciso ter em mente alguns passos e procedimentos que ajudem na construção de um bom trabalho. Pensando nisso, a professora desenvolveu uma metodologia para acompanhar todos os passos, desde a elaboração de um roteiro até a versão finalizada do texto. Afinal, uma boa entrevista requer preparação.
Mesmo que a pessoa entrevistada seja conhecida, ainda assim é importante estar atento às diferentes etapas para tirar o melhor proveito e escrever uma boa história. Confira as orientações básicas elencadas por Gina Vieira:
Passo 1: Estudo sobre o gênero textual
Como se trata de uma biografia, o ponto de partida é conhecer como funciona esse gênero textual. A ideia pode ser, portanto, iniciar os trabalhos apresentando à turma histórias biográficas já escritas para que tenham referência de como é um texto neste formato.
No caso da professora Gina, ela apresentou “O Diário de Anne Frank“, “Eu sou Malala” e “Quarto de Despejo – Diário de uma favelada”. Cada uma dessas biografias foi escrita de maneira diferente, com uma abordagem distinta, o que é bom para delimitar que há várias formas de apresentar um texto biográfico. Isso ajuda os estudantes a ampliar seu referencial de texto narrativo.
Passo 2: Preparação para a entrevista
Talvez muitos estudantes nunca tenham tido a chance de entrevistar alguém. Ou talvez tenham tido, mas precisam se aperfeiçoar. Portanto, é importante ajudar a turma a desenvolver uma escuta ativa.
É necessário incentivá-los a ouvir com atenção e ter sensibilidade na hora da entrevista. Além disso, é nesse momento que a turma deve estar ciente dos critérios para as perguntas que serão feitas: todas elas devem estar de acordo com a pessoa a ser entrevistada. Por exemplo, não cabe perguntar sobre a infância próxima ao mar para alguém que viveu nas serras quando criança. Ou seja, o perfil da pessoa entrevistada deve ser analisado por cada um.
Outro ponto importante (e que os docentes devem estar atentos) é o de mostrar para a turma a importância de agendamento prévio da entrevista, de respeitar os horários combinados e de incluir na entrevista somente o que foi previamente autorizado pela fonte.
Passo 3: Coletar e organizar informações importantes
Nem sempre os estudantes possuem todas as informações necessárias para iniciar uma entrevista. Por isso, é válido sugerir que reunam tudo o que tenham sobre a pessoa a ser entrevistada. Quais fatos e dados eles têm sobre a fonte? Com isso, há a possibilidade de descobrir lacunas de conhecimento.
A preparação de um mini resumo da história de vida de quem será entrevistado também serve aos professores e professoras. Eles podem auxiliar a turma a pensar nas perguntas e na abordagem mais adequada para cada um.
Passo 4: Pensar no roteiro de perguntas
Depois de entender o tipo de texto, observar o perfil do entrevistado, adotar uma postura adequada e reunir informações importantes, chegou a hora de construir um roteiro de perguntas.
Como dito anteriormente, não existe um roteiro único para todas as pessoas. Isso porque a história de vida de cada um influencia no tipo de pergunta que pode ou deve ser feita. Por esse motivo, a criação do resumo (Passo 3) é tão importante.
As perguntas podem passear por diferentes momentos da vida da pessoa. Infância, adolescência, vida adulta… Assim como momentos e áreas marcantes, como trabalho, família e objetivos para o presente ou futuro.
Também é importante incentivar os estudantes a estarem atentos e prontos a fazer novas perguntas, aquelas que não estavam previstas. A pessoa entrevistada pode surgir, de repente, com uma informação nova e importante que não pode passar batida porque não estava prevista no roteiro.
Nesse sentido, incentivar a curiosidade também é um caminho.
Passo 5: A entrevista na prática
É hora de agendar as entrevistas e colocar em prática o que foi discutido antes. É válido ressaltar para a turma que, às vezes, mais de uma conversa é necessária para a elaboração de um texto deste tipo.
Com data e local marcados, é momento de pegar um gravador ou câmera para registrar a conversa. Esses elementos são importantíssimos no processo de elaboração de uma narrativa biográfica.
Feita a entrevista, os estudantes vão precisar transcrevê-la. Esse passo também é fundamental porque o texto final surgirá desse material. Ele não será uma reprodução fiel dele, mas a transcrição serve para organizar o conteúdo obtido da conversa.
Em sua prática, a professora Gina também orientou a turma a ter algumas informações obrigatórias como: data de nascimento, idade, estado, cidade de origem e profissão da pessoa entrevistada.
Neste momento, a postura de quem entrevista também importa! O educador deve orientar a turma a não demonstrar impaciência, a respeitar e esperar, caso a entrevistada chore ou se emocione em determinado momento, e garantir que ela se sinta confortável, sem nenhum tipo de constrangimento.
Passo 6: Hora de escrever
Depois de todas essas etapas, chegou enfim o momento de colocar no papel – ou no aplicativo de texto – o resultado da entrevista. Para facilitar a elaboração do material, os estudantes podem inserir as informações em ordem cronológica.
Neste momento, a entrevista transcrita deve ser uma amiga inseparável. Assim, a turma corre menos risco de deixar de fora uma informação ou detalhe importante ou interessante.
Considerando que o texto estava sendo escrito em primeira pessoa e que cada estudante terá, no máximo, entre uma a quatro laudas manuscritas para narrar a biografia selecionada, não se trata de simplesmente fazer a transposição de informações, mas ler o material obtido, refletir sobre as informações mais importantes apresentadas, selecionar o que será decisivo para a elaboração do texto e, ao longo de todo esse processo, proceder à análise linguística, atendo-se a questões como: estruturação de parágrafos, pontuação, ortografia, acentuação de palavras, coerência, coesão, foco narrativo e a sequência de acontecimentos apresentados no texto. Para mim, o desafio maior seria orientá-los quanto a estas questões, evidenciando respeito à produção da/do, procedendo a uma correção reflexiva, sem invadir o texto e sem desrespeitar a subjetividade do autor. – Gina Vieira |
Esse momento de escrita vai passar por várias versões até chegar à definitiva. É importante orientar e acalmar a turma em relação a isso. Os docentes recebem uma primeira versão e podem enviar comentários e pontos a serem melhorados.
Lembrando que um bom planejamento pode proporcionar um bom trabalho. As etapas apresentadas aqui servem de referência para a elaboração de um texto biográfico. E contar a história de vida de alguém pode ser não somente prazeroso, como também muito significativo para toda a turma. Pode ser também uma experiência que os alunos levarão para toda a vida.