Pós-pandemia, como está o uso da tecnologia nas escolas públicas?
Documento lançado pelo CIEB contou com a resposta de 104 mil escolas das 27 redes estaduais de ensino brasileiras e aponta que muito ainda precisa ser feito para garantir acesso e formação qualificada
por Ana Luísa D'Maschio 19 de dezembro de 2022
Gestores e professores estão mais conscientes e abertos à integração da tecnologia na aprendizagem e nos processos pedagógicos, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido quando se fala em formação e infraestrutura adequada (internet e equipamentos) nas escolas públicas brasileiras. Estes são alguns dos destaques do “Relatório Guia Edutec – Diagnóstico do Nível de Adoção de Tecnologia nas Escolas Públicas Brasileiras em 2022”, lançado na quinta-feira, 15, pelo CIEB (Centro de Inovação para a Educação Brasileira).
Criado em 2017, o Guia Edutec Diagnóstico é uma ferramenta online e gratuita que mede o nível de adoção de tecnologia na rede pública de ensino, propondo práticas ligadas à aprendizagem e à gestão. Até o final de outubro de 2022, 104.219 escolas, das 27 redes de ensino estaduais (e 5.230 redes municipais) responderam ao questionário. É o maior número de participantes registrado pelo CIEB, representando 75% das escolas públicas brasileiras. O salto é resultado da parceria com o MEC (Ministério da Educação), que incorporou um link do Guia Edutec no PDDE Interativo (ferramenta de planejamento da gestão escolar disponível para todas as escolas públicas).
Entre os números revelados, 81% dos gestores consideram que o uso das tecnologias digitais impacta positivamente os processos de ensino e de aprendizagem e melhora a qualidade e equidade educacional. Contudo, 46% das escolas públicas brasileiras ainda não têm projetos voltados para a tecnologia na prática pedagógica.
No que se refere às formações para o uso pedagógico de tecnologia, 69% das escolas estaduais e 51% das municipais declararam que mais da metade dos docentes realizaram formações da rede de ensino ou externas, mas apenas 30% das instituições nos dois níveis engajaram essa participação.
Outro ponto a ser melhorado é a troca de conhecimento entre pares. Noventa e sete por cento dos gestores apoiam os docentes para usar a tecnologia na escola, mas somente 39% das escolas estaduais e 26% das escolas municipais fomentam a troca entre pares e fortalecem o uso intencional nas práticas pedagógicas.
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No que diz respeito à infraestrutura, 78% dos gestores ouvidos pelo levantamento (72% estaduais e 79% municipais) relatam que a internet para de funcionar completamente, independentemente do conteúdo acessado, ou apresenta instabilidade, caso uma turma inteira realize acessos simultâneos.
“Se não fizermos investimentos significativos, a infraestrutura continuará sendo o gargalo de uma política nacional de tecnologia educacional. Ela é uma condição viabilizadora para que as escolas possam desenvolver competências digitais tanto de professores como de alunos”, aponta Lucia Dellagnelo, diretora-presidente do CIEB.
“Acreditamos que a tecnologia pode, sim, contribuir para [enfrentarmos] os enormes desafios que temos em oferecer educação de qualidade para todos os estudantes brasileiros. A pandemia mostrou a todos que a tecnologia pode ser uma aliada, mas o professor precisa ter competências necessárias para usá-la de forma qualificada, dentro e fora da escola”, reforça a especialista.
Conceito de escola conectada
Quando se fala em tecnologia, não se trata apenas de computadores e acesso à internet. Pensando nisso, o CIEB desenvolveu o conceito de escola conectada: “Aquela que possui uma visão estratégica e planejada para o uso da tecnologia, a incorpora no currículo e nas práticas pedagógicas, tem uma equipe com competência digital e utiliza recursos educacionais digitais adequados, além de equipamentos e conectividade adequadas. Essa visão do CIEB tem a missão de apoiar os gestores públicos a tornar realidade o conceito de escola conectada”, explica Lucia.
A média nacional (escolas estaduais e municipais) retratada pelo levantamento mostra que a maioria das escolas públicas brasileiras ainda está em nível básico nas dimensões da escola conectada de visão, competência e recursos educacionais digitais, e no nível emergente no que diz respeito à infraestrutura.
Assista à íntegra do lançamento do relatório: