Como os avanços da inteligência artificial demandam novas respostas da educação
O mundo digital acessível está mudando a eficácia do que atualmente é considerado "educação". E o que é ainda mais desafiador: esse novo normal está mudando rapidamente enquanto falamos
por Roger Spitz 7 de fevereiro de 2023
Mesmo antes da pandemia de Covid-19, já havia motivos para preocupação sobre o quanto o mundo compreendia o impacto da aceleração das mudanças aliada às tecnologias exponenciais convergentes. Entendemos a dimensão da disrupção? Estamos considerando como nossa espécie pode se preparar, atravessar e, por fim, prosperar com a disrupção? Para compreender plenamente essas implicações, devemos mergulhar profundamente em questões fundamentais:
- Como encontrar um propósito neste mundo UN-VICE, ou seja, desconhecido (UNknown, do inglês “desconhecido”), volátil (Volatile, “volátil”), interseccional (Intersecting, “interseccional”), complexo (Complex, “complexo”) e exponencial (Exponential, “exponencial”)?
- Quais são as alternativas ao nosso atual sistema educacional baseado no conhecimento?
- Como podemos encorajar a imaginação na educação para que as pessoas se sintam confortáveis com a incerteza?
- Como podemos substituir a aprendizagem mecânica pela experimentação, na qual o fracasso é aceito?
- Quais são as ramificações da longevidade, conforme o paradigma usual em três estágios (educação, trabalho e aposentadoria) se desintegra?
- Para quais empregos devemos nos preparar enquanto profissões e setores estabelecidos desaparecem ou reformulam sua essência?
- Como podemos antecipar os impactos da ordem seguinte e as tecnologias emergentes para identificar novas oportunidades?
O mundo não se aclimatou à rapidez, à velocidade e ao impacto das mudanças. A maioria das organizações, desde instituições de ensino até governos e empresas, não está se adaptando a este novo mundo não linear e imprevisível. Pelo contrário: comporta-se como se ele fosse estável e se baseia em suposições fixas, o que pode resultar em consequências desastrosas.
A disrupção, por sua própria natureza, é muitas vezes surpreendente. Ela invalida nossas suposições sobre o que entendemos como normalidade. Em tempos de mudanças radicais, nossa compreensão do mundo deve mudar frequentemente. Nesses casos, quase sempre somos pegos de surpresa, mas não precisa ser assim.
Um foco consistente em mudanças de nível macro e do sistema como um todo pode prepará-lo para a disrupção, evitando que você seja surpreendido por ela. Ao longo da história, as pessoas e organizações mais bem-sucedidas têm buscado, de maneira abrangente, enxergar sistemas inteiros e as conexões entre eles, em uma escala de tempo de dezenas ou centenas de anos.
Quando restruturamos nossas janelas para o mundo, vemos que a disrupção em si geralmente não é boa nem ruim. Seu impacto depende da perspectiva, do grau de preparação e da natureza e do tempo de resposta de cada um. Devemos parar de pensar na disrupção em termos de complexidade, incerteza e eventos inesperados que simplesmente acontecem. Em vez disso, é hora de começar a imaginar as oportunidades para compreendermos e adotarmos a disrupção e seu poder que nos permite construir um futuro melhor do que poderíamos prever.
Definimos arbítrio como a capacidade de tomar medidas e influenciar os resultados. Em última análise, todas as nossas ações são impulsionadas por nossas escolhas. Ter capacidade mental, emocional e moral para fazer essas escolhas depende do exercício do livre arbítrio de cada um. Diante da disrupção adiante, enxergar mais amplamente e em uma escala de tempo maior pode ajudar aqueles com arbítrio — de indivíduos a nações inteiras — a aproveitar a mudança futura para prosperar em vez de desmoronar.
A disrupção cria mais opções e oportunidades para o arbítrio. Dessa maneira, manter a relevância requer redefinição constante, reformulação, ideação, prototipagem e verificação de nossas escolhas.
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Então, como mudamos nossa mentalidade e abordamos a disrupção com arbítrio? Nossa resposta a essa pergunta é: com prospectiva estratégica.
Prospectiva estratégica — ou Futures Thinking — é a capacidade de explorar as possibilidades futuras de forma sistêmica, bem como os fatores de mudança, para embasar a tomada de decisões a curto prazo. Ela não busca uma resposta predeterminada ou um resultado específico. Na verdade, a ideia central é fazer perguntas, desafiar visões, ampliar possibilidades e explorar o que talvez não estejamos considerando.
Perguntamos por quê, por que não, e se, e se não, e assim por diante. Para essas perguntas focadas no futuro, não há dados. O futuro está em aberto e não há fatos identificando o que está por vir. A prospectiva estratégica reconhece a multiplicidade dos futuros possíveis: o empolgante, diverso e estratificado conjunto de resultados que podem surgir.
O objetivo da prospectiva estratégica é a preparação, não a previsão. Essa preparação beneficia qualquer eventualidade que vá além daquilo que imaginamos inicialmente para o futuro. Pela prospectiva, aumentamos a consciência e a flexibilidade mental até mesmo para as mudanças mais extremas, mas plausíveis, enquanto reconfiguramos a forma como nossas mentes e sistemas são programados.
Para que nossa sociedade possa adotar plenamente os efeitos positivos da prospectiva estratégica, a educação deve ser restruturada no contexto de nosso mundo complexo e em aceleração. Como os rápidos avanços da inteligência artificial ameaçam tornar obsoleta a transferência unilateral de conhecimento explícito, a atualização de nosso sistema educacional nos ajudará a permanecer relevantes.
As atuais mudanças de paradigma são diferentes de tudo que já vimos. O futuro é descentralizado, virtualizado, interconectado, automatizado, ampliado e super-high-tech. Esse mundo digital acessível está mudando a eficácia do que atualmente é considerado “educação”. E o que é ainda mais desafiador: esse novo normal está mudando rapidamente enquanto falamos.
O trabalho vai continuar mudando. Os estudantes se formarão em áreas que ainda não existem, e os empregos que eles conheciam podem desaparecer ou se transformar. Para aproveitar ao máximo nosso mundo incerto, os indivíduos precisarão cada vez mais se antecipar e praticar o arbítrio assim que perceberem os primeiros sinais.
Nesta era em que a disrupção se tornou perene, precisamos de novos sistemas para permitir que os indivíduos experimentem com mais arbítrio, imaginação e curiosidade sem serem pegos de surpresa.
Devemos usar a prospectiva estratégica para ampliar e aprofundar nossas perspectivas, mudar a estrutura narrativa em torno da incerteza e ajudar aprendizes e líderes a compreender, antecipar e atravessar a disrupção. O futuro de nossa sociedade depende disso.
Roger Spitz
É presidente do conselho do Disruptive Futures Institute, presidente da Techistential, consultoria global em estratégias disruptivas, e autor de “The Definitive Guide to Thriving on Disruption”. Mais informações: https://www.thrivingondisruption.com/