Um jovem violinista com habilidades especiais
Canadense que nasceu sem um dos braços adapta instrumentos para ensinar música a crianças com deficiência
por Patrícia Gomes 2 de maio de 2012
Uma pergunta vem acompanhando a vida do canadense Adrian Anantawan: por que não? Nascido sem um dos braços, ainda criança já se perguntava por que não poderia estudar violino. Aos 9 anos, ganhou uma adaptação que encaixava no antebraço e dominou o instrumento. Hoje, aos 28 e já um artista reconhecido, ele se pergunta por que não dar oportunidade a crianças com dificuldades semelhantes ou maiores que as dele.
Adrian, que estuda arte em Harvard, se uniu ao Media Lab do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e a uma escola inclusiva que recebe crianças com deficiência para propor um currículo interdisciplinar que incentiva o contato com instrumentos musicais adaptados.
No programa, o MIT se encarrega de adequar os instrumentos musicais para necessidades específicas dos alunos, a partir do desenvolvimento de softwares ou mesmo de adaptações mecânicas simples. Já a escola fica responsável por reunir uma equipe multidisciplinar de profissionais – que inclui terapeutas musicais, compositores, pediatras – para descobrir e desenvolver aptidões musicais nas crianças. Adrian faz a ponte entre os dois.
“O que nós esperamos ver é como a tecnologia vai interagir com as crianças e seus processos de aprendizado pela arte. Também queremos criar um ambiente agradável de participação das crianças com os seus colegas”, diz o violinista. Se tudo correr bem, Adrian espera que, em dois ou três anos, os alunos possam organizar uma apresentação. “Não sei se vamos conseguir, mas eu ia adorar vê-los no palco.”
A ideia de Adrian de tornar a música acessível a crianças com deficiência surgiu há dois anos. Depois de se formar em Yale, o violinista voltou ao centro de reabilitação onde se tratou na infância – e onde ganhou sua primeira adaptação – para um recital. Depois da apresentação, foi levado a fazer um tour pelos departamentos do local para conhecer as ferramentas usadas na reabilitação de pessoas com os mais variados tipos de deficiência. Uma das ferramentas chamou a sua atenção. “Eles tinham uma série de ótimos aparelhos, mas eu fiquei impressionado com um em especial. Ele se chamava Instrumento Virtual de Música e traduzia gestos em sons usando uma webcam e um software.”
Foi aí que Adrian teve um click: o trabalho do centro de reabilitação com o equipamento já estava sendo feito e dava resultados, mas o programa poderia extrapolar o ambiente hospitalar. “E se não ficássemos apenas na reabilitação física, mas colocássemos arte nesse processo? Poderíamos ajudar a desenvolver a imaginação e os sentimentos das pessoas. Se mudássemos a perspectiva do tratamento, muitos outros tipos de questionamentos apareceriam, muitos resultados mudariam também”, pensou Adrian.
O violinista começou então um projeto pioneiro com Eric Wan, um jovem que ficara tetraplégico dez anos antes, mas que já tinha conhecimentos de música. Com ajuda do centro de reabilitação e de Yale, adaptou o software para transformar em nota musical os movimentos que Eric podia fazer e o levou para o palco, onde iria se tratar e praticar o instrumento. “Foi similar ao que fizemos com o meu violino, que adequamos às minhas necessidades específicas. Com tecnologia, nós temos agora mais possibilidades para adaptar os instrumentos para pessoas com mais necessidades físicas do que eu”, disse Adrian.
Veja vídeo sobre apresentação de Eric (em inglês).
Depois de quase dois anos, em novembro passado, Eric se apresentou com a Orquestra de Câmara de Montréal como solista de violino. “Começamos com um adulto que já sabia ler música. Agora, na segunda versão do projeto, queremos trabalhar com crianças”, diz.
O projeto de Adrian em parceria com o MIT procura agora financiamento. O violinista se diz otimista e entusiasmado. “Para mim, estamos conseguindo inovar devido à circunstância em que estamos, uma aliança entre momento, oportunidade e vontade. Minha meta é promover a acessibilidade, mas não pela simples caridade, não porque eu tenho pena das crianças. Quero fazer algo acessível para permitir o desenvolvimento delas”, diz.