Projetos STEM ampliam o olhar dos estudantes para a saúde mental
Conheça projetos da iniciativa Solve for Tomorrow que, além de abordarem a saúde mental, utilizam a metodologia da aprendizagem baseada em projetos como recurso pedagógico para promover a inclusão e o desenvolvimento dos jovens
por Cecília Garcia
25 de setembro de 2025
A adolescência, fase convencionada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) entre os 10 e 19 anos, é uma etapa fundamental no desenvolvimento humano. Neste período de transição da infância para a vida adulta, os jovens experimentam seu lugar no mundo, praticam intensamente a socialização e começam a definir de forma mais sólida sua personalidade, seus gostos e desejo para o futuro.
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É por ser uma etapa tão relevante que nela residem tantos desafios. Para navegar por mudanças corporais e comportamentais, os jovens precisam de uma amálgama de direitos garantidos, políticas públicas eficazes e ambientes empáticos e acolhedores, tanto dentro quanto fora de casa. É com preocupação que a SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) divulgou uma pesquisa mostrando que no Brasil, a cada 10 minutos, um jovem se lesiona ou tenta tirar a a própria vida no país.
Esse dado extremo revela todo um percurso de depressão, ansiedade e outros problemas psicológicos que os jovens sofrem, especialmente aqueles que vêm de contextos sociais vulneráveis ou que pertencem a minorias sexuais, raciais ou de território. Entre os motivos para o aumento de autoagressões, a OMS indica “a pressão por se conformar, influência da mídia, qualidade de vida em casa, relação com seus pares, violência sexual e ainda o maior acesso e uso indiscriminado de tecnologias”.
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Qual o segredo da aprendizagem baseada em projetos?
Para reverter esse cenário, é importante uma frente intersetorial de ação e prevenção. A OMS chama a atenção para a necessidade premente de “programas de promoção da saúde mental para todos os adolescentes e programas de prevenção em risco dessas condições exigem uma abordagem multinível com plataformas de distribuição variadas – por exemplo, mídias digitais, ambientes de saúde ou assistência social, escolas ou comunidade”.
Dentro dessa abordagem, a escola tem um papel central no cuidado com saúde mental, em articulação com outros instituições, famílias e sociedade civil. As recomendações do órgão internacional de saúde incluem mudanças organizacionais para proporcionar ambientes mais seguros e positivos, discussões francas sobre o tema e programas escolares de prevenção para adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Se uma parte das soluções para questões de saúde mental passa pela socialização positiva dentro da escola, os projetos de STEM (acrônimo em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) são uma ferramenta pedagógica única. Metodologias ativas, como a aprendizagem baseada em projetos, oferecem uma jornada de aprendizado que envolve participação e protagonismo dos adolescentes. Ao se envolverem com temas de sua escolha para resolução de problemas, eles encontram mais sentido no que aprendem. Competências socioemocionais como empatia e comunicação também entram em cena: para alcançar o objetivo de um projeto, jovens precisam trabalhar juntos para lidar com as desafiadoras etapas de desenvolver uma solução.
O programa Solve for Tomorrow, iniciativa desenvolvida pela Samsung com parceria técnica do Porvir, reconhece estudantes, professores e escolas não somente pela inovação em seus projetos de STEM, mas também pela jornada de aprendizagem pessoal que empreendem ao longo do percurso de concepção do protótipo, seja ele físico ou representacional.
Confira cinco projetos que olham para saúde mental como tema ou tiveram em sua abordagem um trabalho de motivação, protagonismo e estreitamento de laços entre os estudantes.
El te entiende (Ele te entende) – ganhador do Solve for Tomorrow 2023 na Bolívia: a partir de uma leitura sensível do cenário da escola, onde alguns alunos sofriam de depressão, ansiedade, ou dificuldade de se comunicar, um grupo de estudantes desenvolveu um aplicativo com um assistente virtual que conversa sobre boas práticas de saúde mental com os jovens. Bastante empático, o aplicativo indica quando é necessário procurar ajuda profissional.

niñOS – finalista do Solve for Tomorrow 2022 no Uruguai: A exposição precoce às redes sociais e também o tempo excessivo diante de telas são algumas das principais causas de ansiedade e outros transtornos de ordem psíquica em crianças e jovens. Pensando em como monitorar o uso de redes sociais, o grupo de jovens criou o aplicativo homônimo, que ajuda adultos a regular o tempo dos mais jovens, e sistematiza dados que podem também ser usados no desenvolvimento de políticas de bem-estar digital.
Biotransformadores – vencedor do Solve for Tomorrow 2024 na Bolívia: Embora o projeto de um biotransformador que transforma lixo em biogás e fertilizante não tenha a ver com saúde mental, a construção do protótipo só foi possível por um acolhimento de jovens com diferentes competências e habilidades. Segundo relato da professora-mediadora Liliam Rocio Coronel Botello, a chave do sucesso foi escolher justamente uma mescla de jovens tímidos e extrovertidos, priorizando também o trabalho com estudantes que não necessariamente se destacavam nas disciplinas, mas que se interessavam por construir o projeto em grupo

Fogão Híbrido – finalista do Solve for Tomorrow 2022 no Brasil: O projeto de desenvolver um filtro sustentável para eliminar agrotóxicos do café mudou radicalmente a vida de uma das jovens do grupo. Vinda de um contexto social vulnerável, a estudante encontrou neste espaço seguro e de troca entre seus pares um lugar para desenvolver suas habilidades tanto na área de exatas como nas competências socioemocionais. Além disso, as três meninas que tiraram o projeto do papel estão cursando faculdades na área que sonharam.
Jenni “My Physio Friend” (Minha amiga da fisioterapia) – finalista do Solve for Tomorrow 2023 no México: Um caso de profunda empatia guiou a elaboração do projeto de aplicativo que apoia a reabilitação de pessoas com alguma deficiência física. Uma das familiares da responsável pelo aplicativo sofreu uma amputação, e a ideia foi idealizar um aplicativo que incentivasse não somente a reabilitação, mas também olhasse para a saúde mental de pessoas que sofrem justamente pela falta de inclusão. O projeto também fortaleceu uma comunidade de jovens estudantes mulheres na escola, que agora têm mais espaço para protagonizar outros projetos.






