‘Vivemos em um mundo
de três dimensões’
Especialistas falam como equipamentos 3D – impressoras e, mais recentemente, canetas – podem enriquecer a educação
por Vagner de Alencar 5 de março de 2013
Primeiro, a realidade aumentada, com todo o potencial pedagógico que a ferramenta carrega, cativou professores de todo o país, interessados em dar mais “vida” ao ensino bidimensional do quadro negro. Mais recentemente, com o barateamento das tecnologias tridimensionais, como impressoras e até canetas, surge uma nova categoria de tecnologias que chama a atenção nas salas de aula: o 3D. Mas será que essas novas ferramentas, de fato, podem ser consideradas uma tendência na educação? “Certamente”, afirma Romero Tori, especialista em tecnologias interativas pela USP (Universidade de São Paulo). “Vivemos em um mundo de três dimensões e nossa mente é bem preparada para se orientar e projetar em 3D. Só não usamos mais por limitações das ferramentas de que dispomos”, diz.
Para mostrar o potencial que esses recursos têm, Tori lembra que o 3D provocou uma revolução ao chegar aos universos da arquitetura e da engenharia. “Quando os programas CAD (Computer Aided Design) passaram a permitir o desenvolvimento de projetos diretamente em 3D, as técnicas de representações em 2D (plantas, elevações etc.) passaram a ser utilizadas cada vez menos. Hoje o projeto de um avião já nasce em 3D”, afirma ele.
No campo da educação, para que o 3D alcance todo o potencial pedagógico que tem, ele precisa ser usado sob uma perspectiva de mão na massa, acredita César Nunes, professor da USP e consultor na área de novas tecnologias. Ou, como preferiria Seymour Papert, professor de MIT, a partir do construcionismo, afirma o especialista. “Os alunos precisam construir seu conhecimento – planejar, pesquisar, experimentar, comparar, discutir – enquanto vão gerando os produtos”, diz.
Uma maneira de tornar esse momento de aprendizado ainda mais rico seria a conjunção da realidade aumentada com o 3D, aproveitando as funcionalidades específicas de cada uma. “A realidade aumentada permite, por exemplo, explorar dimensões ‘ocultas’ de objetos – a dimensão física, a química, a histórica, etc. – bastando ‘selecionar’ canais diferentes para ‘ver’ essas informações. Já imaginou a mobilização que seria conseguida dos estudantes se fossem eles os criadores desses objetos 3D e das informações adicionais visualizáveis através de realidade aumentada?”, afirma.
Máquinas em 3D
As impressoras 3D foram as que primeiro despertaram a atenção da educação. Mas até bem pouco tempo, era acessível a pouquíssimas instituições de ensino. O motivo? O preço. Dos R$ 40 mil, que já chegaram a custar, hoje já é possível comprar o equipamento a R$ 6.000. E a família, agora, está crescendo.
Por um valor bem abaixo dessas impressoras, a 3Dooler – considerada a primeira caneta 3D do mundo – permite que qualquer pessoa crie figuras, no ar ou em qualquer superfície, em três dimensões. A caneta dispensa o uso de computadores ou softwares e, enquanto alguém faz um desenho, o plástico ABS – típico para impressões em 3D – que sai da caneta, é resfriado por um ventilador integrado e solidifica rapidamente. Para Tori, embora boa parte do atrativo dessa caneta seja o fator novidade, ela também pode ser uma ferramenta usada com fins educativos.
O projeto foi realizado no estúdio Artisan Asylum, criado pela startup WoobleWorks. A empresa pretendia arrecadar modestos US$ 30 mil ao inscrever a iniciativa no KickStarter, a maior plataforma de financiamento coletivo dos Estados Unidos. No entanto, a quantia extrapolou todas as expectativas. Até hoje – a 19 dias para encerraram as contribuições – a arrecadação já ultrapassa os US$ 2 milhões.
Ao contribuir com US$ 75, a recompensa que o usuário leva é uma dessas canetas com dois saquinhos de plásticos de cor mista – com previsão de entrega até dezembro de 2013. De acordo com Nunes, a caneta pode ser um instrumento para ajudar na produção de obras de arte, maquetes, protótipos e modelos. “Criar é fundamental para a aprendizagem. Nesse sentido o potencial dela é permitir aprender criando”, diz.