“E se aprender fosse o motivo da nossa existência?” - PORVIR

Inovações em Educação

“E se aprender fosse o motivo da nossa existência?”

Henrique Vedana, que vai palestrar no TEDx Unisinos, acredita no poder da cocriação para resolver problemas complexos

por Vinícius Bopprê ilustração relógio 27 de setembro de 2013

Henrique Vedana já foi presidente da AIESEC, a maior organização de estudantes universitários do mundo. Já estudou por três anos na escola dinamarquesa de empreendedorismo e inovação social Kaospilot. Em tantas idas e vindas, descobriu que sua paixão é a sustentabilidade que, segundo ele, também significa criar diálogos, estimular a economia colaborativa, repensar a mobilidade urbana. Atrelado a tudo isso, Vedana, que vai palestrar no TEDx Unisinos – evento que tem como tema Inovação em Educação –, no dia 31 de outubro, acredita no poder da cocriação para resolver problemas complexos da sociedade.

“O que eu pretendo discutir no dia é a necessidade de conectar aprendizado com propósito. É tentar levantar a seguinte questão: E se aprender fosse o propósito que todos compartilhamos, seja como indíviduos, como raça ou como coletivo? Se fosse esse o motivo da nossa existência?”, explica. Esse tipo de pergunta, ou melhor, de provocação, é o que guia grande parte de seu trabalho.

Henrique Vedana, que vai palestrar no TEDx Unisinos, acredita no poder da co-criação para resolver problemas complexoscrédito Julián Rovagnati

Vedana é sócio da CoCriar, organização que ajuda grupos de pessoas, como empresas, ONGs, escolas, institutos, a se entenderem melhor por meio de conversas que valorizem a habilidade de cada membro para a realização de um trabalho coletivo. “Quando as pessoas precisam resolver alguma coisa de forma coletiva, mesmo que seja só para gerar reflexão ou aprendizado, nós somos chamados para mostrar como a interação pode ajudar nesses processos, como a inteligência coletiva pode emergir de um diálogo informal e ser eficaz para atingir melhores resultados.”

O trânsito de uma grande cidade como São Paulo, por exemplo, é um problema complexo. São várias as razões que podem influenciar seu mau funcionamento: má distribuição das vias, superlotação e transporte de má qualidade do transporte público. Neste caso, a solução não vai estar nas mãos de um único engenheiro, político ou arquiteto. É um problema que demanda a criação conjunta de novas ideias que sejam capazes de aproveitar a inteligência coletiva de vários grupos ou pessoas.

Numa escola, por exemplo, os problemas podem ser tão complexos quanto as avenidas de uma grande cidade. Os professores querem apoio logístico e a valorização do seu trabalho. Os diretores, por sua vez, desejam gerir melhor a escola, valorizando tanto o ensino como a obtenção de lucros. Os alunos precisam de um aprendizado de qualidade, enquanto os pais esperam que seus filhos tenham uma boa formação para competir no mercado de trabalho.

Em casos como estes, o primeiro passo é conversar primeiro com cada um desses grupos. Depois, desenvolver um pensamento sistêmico que organiza as demandas gerais para o melhor desenvolvimento da escola e, por fim, fazer uma reunião com todos eles para permitir que, nesse diálogo, surjam as ideias, que podem, ou devem, partir desde os alunos até os cargos mais importantes da escola. “O objetivo nunca é chegar com uma fórmula pronta ou esperar que alguém diga qual fórmula usar, mas sim fazer com que as ferramentas que essa organização tem em mãos sejam usadas das melhores maneiras possíveis”, diz Vedana, que também é antena do Porvir.

Sobre isso, ele conta que, certa vez, durante um evento sobre inovação e estratégia teve uma conversa em que o filósofo dizia que, sobre a natureza humana, temos, basicamente, duas crenças. A primeira delas é de que o ser humano nasce selvagem, irresponsável e incapaz, que precisa ser vigiado, comandado. A segunda é aquela que segue a ideia de que todo mundo nasce perfeito, belo e criativo e capaz.

“Se você empodera alguém, ele se sente parte e é por isso que vai estar sempre disposto a estar por perto, a ajudar. Se ele não se sentir parte do todo, vai se desmotivar em questão de tempo”.

“Eu acredito nessa segunda opção e o objetivo é cultivar essa beleza e potencializar esse ser como alguém criativo e capaz de trazer soluções. O segredo é confiar nele, porque, se você acredita, você dá autonomia, liberdade e é disso que precisamos para alcançar objetivos comuns”, afirma Vedana e completa: “Se você empodera alguém, ele se sente parte e é por isso que vai estar sempre disposto a estar por perto, a ajudar. Se ele não se sentir parte do todo, vai se desmotivar em questão de tempo”.

Educação para a sustentabilidade

Outro projeto da Co-Criar é o Educação para Sustentabilidade, que leva oficinas de sensibilização sobre o tema para diversas instituições. A ideia aqui não é apresentar dados sobre a mobilidade urbana, a violência ou o meio-ambiente, mas aproveitar o conhecimento de todos e tentar entender como essas informações afetam suas vidas na prática.

“Não vou chegar na escola e dizer para criar um jardim, uma horta e um minhocário para os alunos aprenderem biologia. A gente sabe que cada lugar tem um contexto diferente, com habilidades diferentes e, por isso, deixamos eles livres para a co-criação”. Segundo Vedana, o melhor aprendizado não é aquele que se dá por meio de teoria, mas sim com a aplicação prática, por isso, o objetivo é estimular a proposição de projetos e empoderar a equipe para que eles possam realizar essa melhoria sozinhos, com suas próprias habilidades.

“Quando perdemos a curiosidade de aprender algo novo, é nesse momento que morremos, porque a chama da vida está ligada à curiosidade”

Vedana explica, por fim, que todo seu pensamento se resume a estimular a vontade e a necessidade que as pessoas têm de usar a criatividade para fazer a diferença no espaço em que vivem. Para ele, as organizações não devem impor regras e atividades pré-determinadas para seus funcionários, impedindo que eles tenham curiosidade e vontade de mudar os padrões estabelecidos de trabalho. “Quando perdemos a curiosidade de aprender algo novo, é nesse momento que morremos, porque a chama da vida está ligada à curiosidade, que é inerente ao ser humano. Todos nós precisamos querer aprender sempre”, conclui.

 


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