No Teachers College, tecnologia faz do professor agente de transformação
Programa de formação de professores enfatiza mudança nos métodos de ensino e inclui ferramentas inovadoras como modelagem 3D e programação
por Vinícius de Oliveira 25 de novembro de 2015
A pressão e a necessidade para integrar tecnologia à sala de aula aumentam a cada dia. Por sua vez, o professor precisa evitar a armadilha de fazer de sua classe uma vitrine de dispositivos e ferramentas digitais para que a aula não seja uma simples digitalização de velhos métodos. Essa é uma das filosofias por trás do trabalho no Center for Technology & School Change (Centro de Tecnologia e Transformação escolar) do Teachers College da Universidade de Columbia, instituição localizada Nova York, nos Estados Unidos, que é referência em formação de professores.
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No programa de dois anos denominado Technology Specialist (Especialista em Tecnologia), futuros professores são preparados a se tornar agentes de transformação e têm contato com metodologias que envolvem o uso de programação, aprendizagem colaborativa, desenho de currículo e desenvolvimento de projetos, além de terem que cumprir 100 horas de estágio em escolas e ter oportunidade de observar como facilitadores da instituição vão a campo atuar junto a outros professores e diretores. O currículo de cursos eletivos também é bastante amplo e inclui produção de vídeo, modelagem em 3D, uso de dados para criar mapas interativos e criação de sites.
Para transformar a sala de aula em um espaço engajador, o centro ajuda futuros professores a entenderem como a tecnologia pode apoiar metodologias centradas no aluno. Entretanto, em vez de se preocupar em acompanhar avidamente o lançamento de novos dispositivos, a professora Dra. Ellen Meier explica em entrevista ao Porvir que a maior preocupação é resolver como as tecnologias se integram à sala de aula. “Eu não gosto de pensar em tecnologia per se [por si só], mas como essas novas ferramentas podem ser úteis para o ensino e o aprendizado”.
Criado há oito anos, o programa é aberto a alunos de diferentes origens acadêmicas e atende tanto aqueles que desejam um certificado inicial, quanto os que já estão em sala de aula e têm de passar por uma formação continuada para obtenção de uma certificação profissional, requisito para dar aulas em alguns estados americanos. Em comum, ambos terão contato com a estratégia para que os permita repensar procedimentos. “Colocamos em prática um programa de formação para levar aos professores um processo de design, ou seja, eles não podem usar o que sempre fizeram e só adaptar tecnologia”, diz Meier. O design, aliás, é um dos três eixos do modelo que ainda leva em conta situar o participante do programa mais perto da realidade de professores e escolas e promover liderança para apoiar gestores e colocar professores como agentes de mudança.
Para o projeto final da formação inicial, alunos podem desenvolver projetos de plataformas para formação de outros professores, para comunicação entre a comunidade escolar ou mesmo documentar aprendizado com tecnologia. “No Teachers College, temos muitos recursos audiovisuais em nossas salas de aula e duas delas foram desenhadas como espaços onde professores podem testar a interatividade”, diz Meier. Nessas ambientes, os trabalhos são exibidos em grandes TVs instaladas nas paredes para potencializar a colaboração. “Com muita frequência tenho estudantes trabalhando em grupos para resolver problemas. Eles exibem seu trabalho em uma dessas telas e plugam seus iPads e computadores para explicar o que fizeram para o restante da classe”. Mais recentemente, conta Meier, uma de suas turmas produziu pequenos vídeos nas escolas onde cumprem as horas de estágio necessárias. “Depois compartilharam com os demais e foi possível ligar a literatura com o que eles captaram em imagens. São coisas simples, mas poderosas se você planeja fazer coisas que não conseguia antes”.
Um outro ponto que o programa do Teachers College destina atenção é como prover novas formas de avaliar e evitar que no final do processo a inovação seja impedida de adentrar as escolas por conta da aposta em testes de múltipla escolha para aferir conhecimento. “A avaliação direciona muito a maneira com que se ensina. A não ser que mudemos nossas avaliações nunca mudaremos o jeito que ensinamos”, diz Meier. No lugar de responder a, b, c, d ou e, os alunos são orientados a ir além dos fatos puros e simples. “Minha faceta preferida desse programa é a que pede que o aluno desenhe uma avaliação que avalie a empatia em determinada situação, como aquelas [dos atentados terroristas] de Paris. Se você foca no entendimento, muda a conversa da memorização para os conceitos e as grandes ideias”.
Apesar de focado na tecnologia, a representante do Teachers College diz que o curso não busca alunos considerados inovadores, primeiro nível da curva de inovação usada pelo pesquisador americano Everett M. Rogers (1931-2004) para caracterizar adoção de uma novidade. Segundo ela, isso seria “loucura”. “Buscamos os primeiros adeptos, aqueles ouvem pessoas e veem que podem usar suas ideias. Essas pessoas se dispõem a enfrentar riscos e querem aprender”.