Professora usa QR Code para incluir aluno com deficiência visual - PORVIR
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Diário de Inovações

Professora usa QR Code para incluir aluno com deficiência visual

Raquel Gonzaga usou o celular como aliado para adaptar suas aulas de inglês à necessidade de aluno

por Raquel Ribeiro Prado Gonzaga ilustração relógio 13 de abril de 2016

Em 2013, fui informada que num grupo de 20 alunos do curso de inglês do nível básico 2 haveria um aluno com deficiência visual. Percebi que tinha um desafio nas mãos e a minha maior preocupação era como fazer esse estudante aprender e se sentir parte da sala de aula, sem se sentir vitimizado.

Na primeira aula, eu realmente não sabia como fazer, já que existem muitos estímulos visuais na aula de inglês. Ele participava apenas seguindo meus passos com o movimento da cabeça. Foi quando reparei que ele tinha um celular. Como eu tenho um blog sobre aplicativos e tecnologia* desde 2011, eu vi no aparelho uma opção.

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Nessa época, eu também comecei a pesquisar sobre o uso de código QR na educação, porque essa é uma ferramenta que não precisa de acesso à internet. Nessa época, não tinha wi-fi na escola e poucas pessoas tinham acesso ao 3G, e eu sempre considerei essa questão de usar recursos que não precisem de internet. É importante pensar dessa forma no Brasil, considerando as diferentes realidades que a gente tem.

Depois de explicar que com o QR Code eu conseguia passar uma mensagem por meio de um “código de barras”, eu perguntei como ele mexia no celular. E ele explicou: “teacher, o meu celular está programado para eu ouvir tudo o que for enviado pra ele”. A partir daí, eu comecei a entender o mundo dele e o que fazia sentido para uma pessoa com deficiência visual. Também coloquei os meus dispositivos no modo de acessibilidade para entender como tudo isso funcionava.

A nossa prática deu ao aluno uma situação de igualdade perante os colegas

Então eu perguntei a ele se transformar a mensagem escrita num estímulo de voz o ajudaria, e ele disse que sim. Para fazer o primeiro teste, eu fiz um código com uma informação simples, ele baixou o aplicativo que lê esses códigos e eu peguei a mão dele para direcionar a foto do código. Na hora que o celular falou a mensagem e ele repetiu a frase em inglês, foi um momento muito emocionante pra nós dois. A gente entendeu que funcionava e que existia um caminho pra tentar.

Algumas editoras dos livros que usamos em sala informam que fornecem o áudio. Só que pra alguém que não enxerga, não funciona muito, por diz apenas figura 1, figura 2”. Então nós tivemos que adaptar as coisas. Para que compreendesse as perguntas e imagens que são expostas na lousa, eu as transformava em um código QR no meu celular. Depois, pegava a mão dele, direcionava e ele escaneava. Ele conseguia ouvir o áudio da mensagem diversas vezes. Ouvindo as perguntas com o fone, ele conseguia interagir com os colegas, sem que eu precisasse chegar perto do ouvido dele para falar qual era a pergunta. Se tivesse alguma dúvida, seria o mesmo tipo que qualquer outro aluno poderia ter.

A dinâmica funcionou tão bem que algumas pessoas da turma também falavam “teacher, eu quero escanear!”. A nossa prática deu ao aluno uma situação de igualdade perante os colegas. Além disso, ele foi acumulando uma série de códigos no celular e me contou que ia ouvindo no metrô, voltando pra casa.

Outra questão que precisava resolver era referente aos momentos em que não estava na aula. Como ele se locomovia sozinho na cidade e não tinha cão guia, quando chovia, não tinha como ir. O código QR me ajudava na sala, mas eu precisava de uma coisa a mais. Então comecei a trabalhar com o gravador de voz, que também é um aplicativo que vem em todo celular.

Foram duas técnicas muito simples que nos ajudaram e fizeram com que o aluno fosse bem aceito pelo grupo

Para as aulas que ele faltava, eu gravava um pequeno áudio, de cinco a sete minutos e, se tinha uma palavra nova, por exemplo, eu soletrava e mandava tudo por email, pra ele ouvir no celular.

Foram duas técnicas muito simples que nos ajudaram e fizeram com que o aluno fosse bem aceito pelo grupo. De forma alternada ao longo das aulas, todo mundo interagiu com ele. Na primeira vez que outros alunos iam fazer atividade com ele, era tudo novidade. Depois, todos se acostumaram e ele já reconhecia na hora que a pessoa sentava ao lado e falava “hello, fulano”.

Nós, como professoras, temos essa preocupação do aluno presenciar e integrar o grupo. Você não pode falar pra turma “gente, ele tem uma deficiência visual”. Você tem que adaptar para que o conteúdo faça sentido para as limitações que o aluno tem, além de promover uma integração com os colegas.

*Confira o blog pessoal de Raquel e o blog de professores do British Council, do qual ela faz parte.


Raquel Ribeiro Prado Gonzaga

É professora e inovadora em tecnologia certificada pelo Google desde 2014 e blogueira de aplicativos e tecnologias para educação. Tem Especialização em Ensino de Inglês pela USP, sendo professora da língua estrangeira por 20 anos, 12 deles na Escola Cultura Inglesa, de São Paulo.

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dispositivos móveis, inclusão, tecnologia

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