Comissões fortalecem a participação da família na escola
Do planejamento de festas aos grupos que atuam em diferentes frentes da escola, Amorim Lima amplia o envolvimento dos pais durante ensino fundamental
por Marina Lopes 11 de agosto de 2016
Entre as instâncias de participação democrática dentro de uma instituição de ensino, o Conselho Escolar é um dos instrumentos mais importantes para permitir o envolvimento da comunidade. No entanto, questões diversas acabam afastando a família dessas reuniões. Para resolver esse impasse, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Desembargador Amorim Lima, na zona oeste de São Paulo, oferece diferentes caminhos de participação da família na escola, que incluem assembleias e comissões de pais.
A participação da família na escola começou a ser fortalecida com a chegada da diretora Ana Elisa Siqueira, que há 21 anos decidiu abrir as portas da escola para maior envolvimento da comunidade. “Eu fazia reunião de manhã, de tarde e de noite na tentativa de pegar o maior número de pais e mães possíveis”, lembra.
No início, a ideia era discutir o papel de um conselho escolar deliberativo, e não apenas consultivo, que fosse capaz de tomar decisões importantes sobre questões político-pedagógicas, administrativas e financeiras da escola. A partir das reuniões, começaram a ser mapeadas estratégias para ampliar a participação dos pais de alunos que estavam no ensino fundamental.
Logo no começo da gestão de Ana Elisa no comando da escola Amorim Lima, a discussão sobre os rumos de uma festa junina foi o pretexto encontrado para ampliar a aproximação com os familiares. Só que o resultado foi além do esperado e veio de uma maneira diferente. A escola começou a receber mães que compareciam à diretoria para reclamar de casos de violência relatados pelos filhos durante o intervalo. “Nós inventamos um projeto para essas mães vierem nos ajudar na hora do recreio. Como era uma demanda de maior cuidado, precisávamos de mais gente.”
A partir da formação do grupo de mães, a escola percebeu que a última coisa que os alunos do fundamental queriam era ter que conviver com o olhar vigilante de seus responsáveis durante o intervalo. “Eles poderiam até chegar em casa contando as tragédias todas que aconteceram, mas não queriam a mãe olhando [no recreio]. Não queriam pajem. Foi aí que começamos a discutir qual era o trabalhado que essas mulheres tinham que fazer dentro da escola, que não era cuidar do próprio filho”, relata Ana Elisa.
Para abrir novas espaços de participação, a escola abriu comissões para atender pais com diferentes interesses e perfis. “Algumas pessoas não estão interessadas em discutir a política da escola, mas querem fazer outras coisas. Tem gente que vai ajudar a cuidar da manutenção, tem gente que quer discutir o projeto pedagógico e tem gente que gosta da comunicação”, exemplificou, ao mencionar que nem todos buscam uma cadeira no conselho escolar, mas querem de alguma forma ter poder de decidir os rumos da instituição.
Em 2002, quando o conselho já estava fortalecido, foi criada uma comissão de pais para fazer um diagnóstico dos problemas centrais da escola, que envolviam a indisciplina dos alunos, alto índice de faltas e ausência dos professores. No ano seguinte, com ajuda da psicóloga e consultora educacional Rosely Sayão, a comissão de pais e o conselho escolar levantaram algumas sugestões para contornar esse quadro.
Inspirados na experiência da Escola da Ponte, de Portugal, decidiram derrubar as paredes, acabar com a divisão por séries e apostar em um projeto pedagógico que valoriza a autonomia dos alunos. “Quando construímos um novo projeto político pedagógico, descobrimos que também seria necessário criar outras instâncias de participação”, conta.
Atualmente, os pais de alunos da Amorim Lima podem se envolver em diferentes frentes de trabalho, como comunicação, alimentação, biblioteca, bazar, envolvimento com a comunidade, inclusão. Enquanto esses grupos discutem temas específicos, a família na escola levanta discussões mais abrangentes, como o posicionamento da escola, questões pedagógicas e a avaliação do trabalho dos educadores, dos funcionários e da gestão. Quando surgem grandes questões nesses grupos, as propostas são levadas para o conselho escolar, onde são tomadas as decisões superiores. “Temos um fluxo entre todas essas instâncias”, diz Ana Elisa, que defende a multiplicidade de caminhos para possibilitar o engajamento familiar.
Com a diversidade de opções, os pais também encontram maior facilidade para encaixar as reuniões em suas rotinas. Sem horários fixos de trabalho e com uma agenda que envolve muitas viagens, a atriz e produtora Fernanda Haucke começou a fazer parte da comissão de comunicação da escola, onde ajuda a cuidar do e-mail e grupo do Facebook. Ela diz que escolheu esse grupo porque as atividades permitem participação da sua família na escola, mesmo que a distância.
Mãe de um adolescente no oitavo ano, ela diz que se sentiu acolhida assim que o filho foi matriculado, há seis anos atrás. “As famílias trazem suas experiências, modos de vida e profissões para inovar a cada dia na escola. Se fosse restrito aos professores, talvez ficasse só em uma repetição. Mas presença da família na escola obriga a renovação”, pontua Fernanda, que procurou a instituição em busca do seu projeto político pedagógico que foge do convencional.
Diferente dela, Nilce Tonetti, mãe de uma aluna do nono ano, só foi conhecer a proposta pedagógica da escola quando sistema municipal de matrículas encaminhou sua filha para a instituição após o término da educação infantil. Acostumada com o formato tradicional de escola, ela disse que ficou apreensiva no começo.
Para tirar dúvidas e tranquilizar as famílias diante de situações semelhantes, no início do ano letivo a escola organiza um café, onde os pais antigos também ajudam a recepcionar os recém-chegados. “Conversando com os outros pais, você começa a achar o seu lugar na escola”, diz Nilce, que hoje participa da comissão do bazar, responsável por arrecadar fundos para promover melhorias na escola.
“Nessa etapa do ensino fundamental, é importantíssimo a família na escola, porque é o momento em que acontece a formação da cidadania dos filhos. É muito importante discutir ética e trabalhar o valor da escola, do coletivo, da cidadania, da solidariedade e do respeito”, afirma a diretora Ana Elisa.
A diretora afirma que essa interlocução é fundamental dos 6 aos 14 anos. “Precisamos fazer isso muito bem no ensino fundamental”, explica ela, ao mencionar que durante essa fase da vida escolar as famílias também precisam aprender em quais momentos precisam começar a sair de cena para que as crianças e adolescentes consigam construir sua autonomia.
A comissária de voo Cristina Borba acompanha de perto as transformações entre os dois ciclos do ensino fundamental. Com um filho no quinto ano e outro no sétimo, ela diz que as etapas demandam atenções específicas. Enquanto o mais novo precisa de ajuda para treinar a escrita com letra cursiva, por exemplo, o mais velho está na pré-adolescência, onde aparecem diversos questionamentos e descobertas. “São atenções diferentes que você precisa dar a cada momento, mas eu acho muito importante a escola, o aluno e a família caminharem juntos”.
Envolvida com a Associação de Pais e Mestres e o Conselho Escolar, além das comissões da biblioteca, festas, horta e inclusão, ela diz que sempre procura se portar de maneira diferente com os filhos quando está na escola, para também respeitar o espaço deles. “Eu não chamo atenção ou cobro os meus filhos. Nesse ambiente, eu não tenho que ser a mãe”, afirma Cristina.
O envolvimento das famílias nesta etapa também é notado pelos alunos, que se consideram mais seguros. “A gente se sente motivado quando os pais estão ajudando a gente. É uma força que vai junto com a gente. Se precisar de alguma coisa com o roteiro e com a tarefa, a gente sabe que pode contar com eles”, conta a aluna Thabbata Neves, 11, do quinto ano.
Embora tenham uma rotina de trabalho muito corrida, ela diz que os seus pais sempre procuram estar presentes na escola. “Minha mãe ajuda nas coisas da biblioteca e o meu pai, com a organização das festas.” Quando a escola marca reunião com os tutores, a aluna diz que a sua família sempre tenta comparecer.
A aluna Rosa Magalhães, 9, do quarto ano, também diz que todos têm uma rotina muito corrida, mas mesmo assim manter a família na escola. “Minha mãe trabalha muito, mas ela tenta dar o máximo dela para ajudar”, menciona a menina, que diz ser fundamental o apoio que recebe em casa para organizar e cumprir o seu roteiro de estudos.