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Projeto britânico aposta no contato com a natureza para formar cidadãos

Eden Project abriga um parque com espécies naturais de todo o mundo e oferece atividades para crianças, além de material didático e treinamentos especiais para escolas e professores

por Camila Leporace ilustração relógio 13 de outubro de 2016

O futuro da educação está na tecnologia, no uso de recursos e ferramentas digitais, na programação e nos computadores e tablets. Mas também está no contato com a natureza, na conscientização a respeito do universo que nos cerca e no olhar que vai muito além das telas, sejam elas grandes ou pequenas. Esse contato com o meio ambiente é a grande aposta educacional do Eden Project, ou Projeto Éden.

O Eden Project é ligado a uma organização sem fins lucrativos do Reino Unido, a Eden Trust, e se define como “uma organização única e complexa” que é, ao mesmo tempo uma atração turística, uma organização voltada para a assistência social e um empreendimento social. A atração turística é um complexo localizado no condado de Cornwall (Cornuália), sudoeste da Inglaterra, que busca reunir espécies naturais de todo o mundo preservadas em estufas parecidas com grandes bolhas, que reproduzem biomas. O público tem contato com diversas espécies vegetais. De maneira semelhante a um jardim botânico, o espaço procura estimular seus visitantes a se conscientizarem sobre a importância das plantas para a vida humana. O projeto tem programas de pesquisa, educação e conservação.

O Eden realiza um trabalho bastante voltado para crianças e jovens, oferecendo atrações e programação especial para os pequenos no espaço físico de Cornwall e ainda material didático e treinamentos especiais para escolas e professores, entre muitos outros recursos. O foco é na sustentabilidade e na relação humana com a natureza. Segundo Sam Kendall, gerente de Educação do Eden, colocar as crianças hiperconectadas de hoje para aprender ao ar livre, fora do ambiente tradicional e fechado da sala de aula, não é algo excludente, mas sim complementar, em relação ao uso das tecnologias. Ela defende a importância de inserir o contato com a natureza no cotidiano dos estudantes, e destaca que os efeitos são fáceis de serem percebidos.

“A questão é tornar normal a prática das atividades ao ar livre, para que isso fique sendo parte do que acontece na escola. Como acontece com qualquer atividade, algumas crianças amam esse tipo de prática e outras nem tanto – mas durante essas atividades é comum ver habilidades e talentos revelados que são difíceis de despontar na sala de aula. É claro que tudo depende também dos estímulos – se criarmos experiências fantásticas, atraentes, divertidas e poderosas, as crianças vão amar”.

Meio ambiente e atividades físicas

Pesquisas mostram que tem aumentado o percentual de jovens diagnosticados com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH. Sam Kendall traça um paralelo entre o crescimento dessa estatística e a falta de atividades ao ar livre no cotidiano da maioria das crianças, e sobre isso cita o trabalho da terapeuta ocupacional infantil Angela Hanscom, fundadora do TimberNook – um programa desenvolvido para estimular a criatividade e as atividades ao ar livre na Nova Inglaterra, Estados Unidos. Segundo Angela, as crianças são forçadas a se sentar durante horas em sala de aula sem que estejam preparadas para isso. E elas não estão preparadas porque a quantidade de atividades físicas que fazem é muito menor do que precisariam fazer.

Se as pessoas não desenvolverem, desde cedo, um relacionamento com a natureza, elas serão menos propensas a se tornarem defensoras desses recursos

“Com seus sistemas sensoriais sem funcionar de forma apropriada, as crianças são requisitadas a sentar e prestar atenção. Elas naturalmente começam a ficar inquietas, de modo a conseguir o movimento que seus corpos desesperadamente exigem e que não estão tendo o suficiente, para que ‘liguem seus cérebros’. O que acontece quando as crianças começam a se inquietar? Nós pedimos que elas se comportem, e assim seus cérebros novamente ‘adormecem’”, explica Angela.

Além de ter a capacidade de devolver às crianças os movimentos naturais de que seus corpos jovens precisam, de estimular esse gasto de energia necessário para o seu equilíbrio e de ajudar a desenvolver habilidades sociais, Sam destaca que as atividades ao ar livre têm, ainda, a capacidade de formar cidadãos preocupados com as questões ambientais. Ela explica que, para que essa conscientização surja, é necessário que os jovens conheçam o meio ambiente. “Se as pessoas não desenvolverem, desde cedo, um relacionamento com a natureza, elas serão menos propensas a se tornarem defensoras desses recursos”.

Um bom exemplo de como fazer com que as crianças se envolvam e se sintam parte do meio ambiente é estimular que elas mesmas transformem seus espaços de convivência, como, por exemplo, dando vida aos pátios das escolas. “É uma lição de cidadania muito importante a de identificar um problema (os pátios das escolas costumam ser monótonos), trabalhar com outras pessoas para melhorar a situação (com adultos e outras crianças para transformar os espaços para brincadeiras ou criar mais áreas verdes nos pátios), e depois sentir o benefício de viver e brincar nesses espaços. É um autêntico treinamento para a formação de um cidadão envolvido em moldar o mundo em que ele deseja viver”, estimula Sam.

Conteúdo online para escolas

O Eden Project esclarece que, apesar de os benefícios do contato com a natureza serem conhecidos, muitas vezes há dúvidas por parte dos educadores sobre como promover essas atividades. Para ajudar, o projeto criou uma espécie de cartilha, além de disponibilizar em seu site diversos planos de aula (em inglês) para serem usados por professores que tenham interesse em despertar seus alunos para o universo natural ao seu redor.

Algumas das dicas para os professores os encorajam a não esperar o local perfeito para começar a levar os alunos para essas atividades, e sim lançarem mão daquilo que está ao seu alcance, e os preparam para o fato de que, inicialmente, as crianças provavelmente não irão associar as atividades ao ar livre ao aprendizado e sim à diversão.

O Eden oferece formação presencial para escolas no Reino Unido. Mas pessoas de qualquer lugar do mundo podem se beneficiar do conteúdo oferecido online no site do projeto, que contém planos de aula e ideias bastante inusitadas e criativas para atividades a serem feitas fora do ambiente da sala de aula com as crianças. Há dicas bem simples sobre, por exemplo, como fazer potinhos para sementes com jornal; um plano de aula voltado para entender como alguns animais vivem na escuridão; um plano para uma aula sobre fósseis, entre muitos outros materiais. Ainda que não sejam realizadas exatamente como sugerido no passo-a-passo, as atividades podem servir como inspiração para quem desejar dar os primeiros passos com pequenos ao ar livre.

Mais sobre o Eden Project

O Eden Project foi inaugurado em março de 2001. Ele recebe mais de 850 mil visitantes por ano e reverte o lucro adquirido com a visitação em uma série de iniciativas voltadas para a educação, que procuram explorar o espaço físico e a experiência de pesquisadores e toda a equipe que trabalha para preservar o local. No Eden, sustentabilidade é a palavra de ordem. Procura-se reaproveitar todos os recursos naturais, e o incentivo a essa prática é relembrado a todo momento. Com mais de duas milhões de plantas para preservar e recebendo tantos visitantes por ano, o reaproveitamento da água, por exemplo, é uma das principais preocupações.

O projeto inclui programas educacionais em tópicos como mudanças climáticas, alimentação, nutrição, saúde, biodiversidade e uso sustentável de recursos biológicos. Milhares de visitas escolares são recebidas todos os anos. Além disso, o projeto tem iniciativas envolvendo, por exemplo, populações africanas, como o Gardens for Life, que promove a criação de jardins em escolas do Quênia e Gâmbia para garantir que os alunos tenham ao menos uma refeição completa e saudável por dia. A equipe do projeto oferece treinamentos e uma infraestrutura inicial para a realização dessas hortas, como material para compostagem e irrigação e estufas construídas com materiais que disponíveis nos locais. Também é montada uma sala de aula ao ar livre, e as escolas são orientadas sobre como integrar as hortas ao currículo escolar.


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competências para o século 21, sustentabilidade

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