Professora transforma sala de aula em empresa e cria cargos para os alunos - PORVIR
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Diário de Inovações

Professora transforma sala de aula em empresa e cria cargos para os alunos

Para garantir a organização do espaço, a turma assumiu responsabilidades e compartilhou tarefas, como organizar os livros e limpar as mesas

por Vanessa Araújo ilustração relógio 15 de fevereiro de 2017

Trabalho em uma escola particular de Brasília e notei que a turma dependia muito de terceiros para manter a organização do espaço. Desde o primeiro dia de aula, conversei com os alunos do quarto ano sobre os cuidados com a nossa sala e deixei claro que isso deve ser uma atribuição de todos.

Eles não estavam acostumados a contribuir com as tarefas. Se derramassem um suco ou achocolatado, chamavam sempre a equipe da limpeza. Se caísse uma sujeira enquanto apontavam o lápis, tinham que pedir para alguém varrer. Foi aí que eu comecei a desenvolver estratégias para envolver toda a turma na organização da sala.

Ao pensar em maneiras de melhorar isso, tive a ideia de fazer uma lista de atividades que os alunos daquela faixa etária poderiam fazer. Juntos, selecionamos pontos que demandavam mais cuidado, como a limpeza das mesas, organização da estante de livros, lavagem dos pincéis de tinta e supervisão da tarefa de casa.

Eu apresentei todas as tarefas para a sala em formato de uma tabela. A partir daí, cada aluno escolheu a sua atribuição. Quando dois ou mais desejavam realizar a mesma tarefa, eu sugeria uma discussão entre eles. O importante era cada um ter a sua ocupação.

Começamos a chamar essas atividades de empregos, mas desde o início eu ressaltei que a função primária de cada um era ser estudante. Quem não a desempenhasse com êxito seria demitido! A condição para continuar empregado era ter um bom comportamento e desempenho acadêmico. À medida que um aluno baixava o seu rendimento, ele perdia o cargo para outra pessoa e só retornava depois de avançar.

A estratégia deu muito certo, eu nem precisava falar o que eles deveriam fazer. Cada um tinha o seu próprio emprego. Ao mesmo tempo que alguns escolhiam a sua função, outros esperavam passar o período de experiência para trocar. Depois de um mês, o aluno tinha a possibilidade de encontrar um novo trabalho ou negociar a mudança com um colega.

Aos poucos, as crianças se convenceram de que a equipe de limpeza era contratada pela escola para fazer o serviço mais pesado. Eventuais ‘acidentes’ poderiam ser resolvidos por nós. Imagina derramar um suco ou achocolatado e ter de chamar alguém para limpar? Desnecessário! Nós começamos a cuidar disso.

Além de desenvolver habilidades nas suas funções, os alunos começaram a se sentir mais maduros. Eles se orgulhavam de poder fazer uma tarefa com excelência. Nossa sala até ganhou fama de ser a mais fácil de limpar da escola.


Vanessa Araújo

Formada em magistério, com habilitação para educação infantil e ensino fundamental. Tem graduação em pedagogia e pós-graduação em orientação educacional e pedagógica. Foi professora por 16 anos e atualmente atua como orientadora educacional no Colégio Seriös.

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competências para o século 21, ensino fundamental

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4 Comentários
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Caren Domingues de Carvalho

Maravilhoso, atitudes consistentes com base na sociedade.Parabéns.

Vanessa Araujo

Obrigada!! Atualmente, sou diretora da escola e institucionalizei o projeto. Tem feito a diferença por aqui.

Sonia Maria Braga

A atitude dessa professora foi corretíssima.Nas escolas Montessori, pelo mundo todo, isso acontece desde muito cedo, e se chama de Vida Prática. Desenvolve o senso de responsabilidade e de colaboração.

Vanessa Araujo

Exatamente! Os estudantes exercitando o pertencimento e levando os aprendizados para casa e para a vida. Obrigada pela contribuição.

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