4 experiências de educação integral para se inspirar
Seminário apresenta casos de redes, escolas e organizações que trabalham em uma perspectiva de desenvolvimento que considera múltiplas dimensões dos estudantes
por Marina Lopes 13 de dezembro de 2017
A formação integral de crianças e adolescentes também passa por novas maneiras de organização escolar e articulação comunitária. Para contribuir com o desenvolvimento dos estudantes em todas as suas dimensões, que envolvem o ponto de vista intelectual, afetivo, social e físico, educadores precisam aprender a trabalhar em uma lógica de trabalho colaborativo.
Durante a terceira edição do Seminário Internacional de Educação Integral, representantes de redes, escolas e organizações apresentaram quatro experiências concretas de educação integral que estão alcançando resultados educacionais positivos nas suas comunidades. Realizado pela Fundação SM e pela Fundação Itaú Social, com coordenação técnica do Centro de Referências em Educação Integral e do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária), o evento aconteceu nos dias 12 e 13 de dezembro, em São Paulo.
Por meio da integração entre tempos e espaços, da corresponsabilização cidadã e do oferecimento de múltiplas atividades esportivas, artísticas e culturais, foram debatidos caminhos para trabalhar em uma perspectiva de desenvolvimento integral. Conheça algumas experiências:
Coletivo Escola Família Amazonas
Local: Amazonas
Resultado da inquietação de pais e mães que estavam interessados em discutir modelos educacionais alternativos para os seus filhos, o CEFA (Coletivo Escola Família Amazonas) surgiu em 2015 com a proposta de engajar a sociedade civil na luta por educação pública de qualidade. “Tínhamos um sonho por traz disso que era o de transformar a sociedade e a educação”, conta a pedagoga Ana Bocchini, mãe de dois filhos e integrante do coletivo.
Incomodados com o modelo tradicional de educação presente em boa parte das escolas do município, alguns pais começaram a se reunir e buscar parceiros para refletir sobre o tema. Como primeira ação, o grupo organizou um seminário de educação democrática e integral a partir de experiências inovadoras no Brasil e no mundo.
“Lutamos pelo direito de todos a uma educação pública de qualidade. Quando falamos de qualidade, não pensamos no Ideb, mas na formação integral dessas crianças. Estamos pensando se as educadoras e as crianças são felizes no dia a dia e se elas querem estar ali em um espaço de convívio diário”, destaca.
Baseado nos princípios da gestão democrática e na criação de comunidades de aprendizagem, o coletivo hoje apoia três escolas municipais de Manaus (AM): a Centro Municipal de Educação Infantil Hermann Gmeiner, a Escola Municipal Professora Maria das Graças Andrade Vasconcelos e a Escola Municipal Professor Waldir Garcia. “Estabelecemos um diálogo com as educadoras dessas escolas e construímos [projetos] junto”, explica Ana, ao mencionar que o grupo também promove oficinas, rodas de debate e atividades de formação de professores.
Escola Municipal Professor Paulo Freire
Local: Belo Horizonte (MG)
Localizada no Ribeiro de Abreu, um dos maiores bairros da periferia de Belo Horizonte (MG), a Escola Municipal Professor Paulo Freire encontrou na educação integral uma maneira de estimular a formação humana dos estudantes e construir um ambiente democrático.
Por meio da articulação com diversas instâncias, como universidades, secretarias de Educação e de Saúde, centros de assistência social e associações locais, a escola desenvolve um trabalho de construção coletiva do conhecimento valorizando os saberes da comunidade. “Nós não tínhamos espaço [na escola], mas fomos buscar no bairro”, diz a diretora Socorro Lages, ao mencionar que foram estabelecidas diversas parcerias com a comunidade para ampliar e potencializar oportunidades de aprendizagem.
Entre as atividades desenvolvidas, além do envolvimento com o território, a gestora também destaca os projetos de música, que despertam o interesse das crianças, e os cuidados com a horta local, que também se expandiram para casas da comunidade com o apoio da escola.
“Trabalhamos muito em rede com os equipamentos públicos e também com a arte”, menciona, sem esquecer de ressaltar que a preocupação e o cuidado com o meio ambiente também são questões muito importantes para a Escola Municipal Professor Paulo Freire.
Laboratório de Inovação e Criatividade
Local: Ipatinga (MG)
Em Ipatinga (MG), a educação integral tem a proposta de contribuir para o fortalecimento da inclusão nas escolas municipais. Desde o final de 2015, quando os professores da rede participaram de formações realizadas pelo Centro de Referências em Educação Integral, em parceria com o MAIS (Movimento de Ação e Inovação Social), teve início um processo de revisão das práticas pedagógicas para garantir a aprendizagem de todas as crianças.
Para promover a inclusão efetiva dos estudantes com deficiência, com base nos princípios do desenho universal da aprendizagem, as escolas começaram a transformar as salas de recursos multifuncionais em laboratórios de inovação e criatividade que tinham o objetivo de viabilizar a produção de recursos didáticos para favorecer a aprendizagem de todas as turmas.
“O professor do AEE (Atendimento Educacional Especializado) o regente de turma começaram a trabalhar juntos para criar condições para que todos pudessem aprender”, conta Leida Tavares, do Laboratório de Inovação e Criatividade.
Sesc Curumim
Local: São Paulo
Voltado para crianças de sete a 12 anos, o programa Curumim atua como uma experiência de educação não formal que busca contribuir para o desenvolvimento integral das crianças em ações que acontecem ao longo do ano no contraturno escolar, de duas a quatro vezes por semana.
Realizado em 30 unidades do Sesc no interior e na Grande São Paulo, o projeto promove brincadeiras, passeios, atividades culturais e esportivas.“O Curumim tem o foco principal no desenvolvimento do brincar. Garantir espaços e tempos específicos para que as crianças brinquem”, explica a coordenadora do projeto Lucelina Rosseti Rosa.
De acordo com ela, todas as atividades visam a participação ativa dos sujeitos, buscando também o desenvolvimento de uma série competências, princípios e valores, como autonomia, criticidade, cooperação e respeito. Entre outros aspectos, ela também destaca que o programa valoriza a relação com o território e o contato com a comunidade.