Pesquisa destaca pedido de alunos por apoio emocional e risco de evasão
"Juventudes e a Pandemia do Coronavírus" teve a participação de 33,6 mil jovens, que opinaram sobre como percebem o momento atual em relação a educação, economia, saúde e bem-estar e perspectivas para o futuro
por Redação 23 de junho de 2020
A pesquisa “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus” faz um sério alerta para gestores educacionais: quase 30% dos jovens pensam em deixar a escola e, entre os que planejam fazer o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), 49% já pensaram em desistir. Isso tudo porque a maioria sente grande dificuldade de estudar em casa. O que mais atrapalha não é a infraestrutura tecnológica para acessar conteúdos e aulas ou a falta de tempo, mas o próprio equilíbrio emocional e a capacidade de organização para estudar. Sem a escola como mediadora do processo de aprendizagem e longe dos professores, muitos acabam desestimulados.
Promovida pelo CONJUVE (Conselho Nacional da Juventude), em parceria com Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Mapa Educação, Porvir, Rede Conhecimento Social, Unesco e Visão Mundial. Realizada entre 15 e 31 de maio, o levantamento teve a participação de 33.688 jovens de 15 a 29 anos de todo o Brasil por meio de um questionário disponibilizado pela internet. A pesquisa questionou jovens em relação a quatro temas – economia, saúde e bem-estar, educação, e perspectivas para o futuro – e em todos eles a instabilidade está presente de alguma forma.
Mais informações e os dados finais sobre a pesquisa podem ser acessados em www.juventudeseapandemia.com
“O futuro desta, que é a maior geração de jovens da história do país, está seriamente em risco, o que pode impactar drasticamente os rumos da sociedade nas próximas décadas. A pesquisa foi criada para contribuir concretamente com este desafio. Mobilizamos um conjunto expressivo de jovens em todo o país, consolidando uma base relevante de evidências capaz de apoiar e influenciar a ação de tomadores de decisão, das esferas pública e privada, para a construção de caminhos e perspectivas”, afirma Marcus Barão, vice-presidente do Conselho Nacional da Juventude e coordenador da pesquisa.
Os resultados foram apresentados nesta terça-feira (23) em uma transmissão online que teve a participação de Wilson Risolia (Fundação Roberto Marinho), Marlova Noleto (Unesco), Tábata Amaral (deputada federal), Felipe Rigoni (deputado federal), Caio Henrique Silva (jovem participante da Oficina Perguntação / estudante na UFPE) e Thais Duarte (jovem participante da Oficina Perguntação / Coletivo MJPOP Ousadia Juvenil de Mossoró – RN), mediados por Ana Paula Brandão, da Fundação Roberto Marinho.
Todos lembraram que a resposta de políticas públicas para este momento precisa ser rápida. Wilson Risolia lembra que “Muito do que os jovens de hoje chamam de sonho, na verdade é um direito. Tem algo errado nisso. Direito a uma boa escola, uma vida digna e trabalho não pode ser sonho”, disse. “Os jovens sonham com coisas básicas que o Estado já deveria tratar”, disse.
A deputada Tábata Amaral (PDT-SP) ressaltou que “a pandemia em si não criou nenhuma desigualdade, mas escancarou todas já existentes”. Para ela, as desigualdades educacionais tem como consequências as desigualdades de sonhos. “Algumas pessoas serão astronautas e engenheiros, enquanto outras ficam limitadas”.
Marlova Noleto, que dirige o escritório da Unesco em Brasília (DF), ponderou que as dificuldades dos alunos não se devem apenas à falta de acesso à tecnologia. “Mesmo se toda a tecnologia estivesse disponível, o ensino remoto segue continuaria trazendo desafios aos nossos jovens”. Nesta terça, a organização lançou um documento que aponta que 258 milhões de crianças e jovens foram totalmente excluídos da educação, tendo a pobreza como o principal obstáculo ao acesso.
Entre os jovens que participaram do debate, Caio Henrique Silva, que acaba de entrar em um curso superior de física (e está sem aulas), descreve a situação como um “atropelamento”. “Tudo é afetado por conta do psicológico. Tive que recorrer ao auxílio emergencial (do governo federal) que foi aprovado aos trancos e barrancos”.
Quem respondeu
Os mais de 33.000 jovens que se engajaram para responder o questionário têm um perfil de conexão direta ou indireta com instituições que atuam no campo de juventudes e acessam equipamentos ou dispõem de modos de conexão para estar online. Assim como a pesquisa Nossa Escola em (Re)Construção, do Porvir, o público respondente também participou da elaboração e da divulgação do questionário, além de cooperar com a análise dos resultados. A dinâmica de coleta “bola de neve” e questionário online permite atingir rapidamente e com poucos recursos um grande volume de respostas, atraindo o perfil mais conectado e engajado.
Emocional em crise
A pesquisa também destaca que há uma preocupação grande dos jovens com suas emoções: 7 em cada 10 participantes disseram que seu estado emocional piorou por causa da pandemia, enquanto os sentimentos mais marcantes para eles durante o isolamento social são ansiedade, tédio e impaciência.
A maior parte dos jovens que responderam ao questionário está no ensino médio ou na faculdade. Para lidar com essa nova forma de estudar, eles pedem apoio das escolas e faculdades: 6 em cada 10 jovens consideram que suas instituições de ensino devem priorizar atividades para lidar com as emoções; e 5 em cada 10 querem aprender estratégias para gestão de tempo e organização.
Impacto socioeconômico
Outro fator que provoca instabilidade são as mudanças no trabalho e renda dos jovens e suas famílias: 6 em cada 10 tiveram alteração em sua carga de trabalho desde o início da pandemia (mais ou menos trabalho, parada temporária das atividades ou ainda interrupção por demissão). A renda também foi afetada: 4 em cada 10 indicam ter diminuído ou perdido sua renda e 5 em cada 10 mencionam que suas famílias tiveram essa redução. Diante dessa realidade, 33% dos participantes relatam ter buscado alguma maneira para complementar sua renda.
E as dificuldades afetam de forma mais severa a população negra e vulnerável, tal como mostrou a matéria do Porvir sobre o risco de maior desigualdade racial no ensino médio, parte da Série Observatório de Educação e Ensino Médio.
Perspectiva de melhora
Embora 34% dos jovens ouvidos estejam pessimistas em relação ao futuro e 72% acharem que a pandemia vai piorar a economia do Brasil, eles também têm algumas perspectivas positivas em relação à maneira como a sociedade vai se organizar a partir desta crise. Metade deles imaginam que o modo como trabalhamos vai melhorar um pouco ou muito e acreditam que novas oportunidades de trabalho podem surgir para quem mora afastado dos grandes centros urbanos, por conta do aumento do trabalho remoto. 48% também acreditam que surgirão novas formas de estudar mais dinâmicas e acessíveis que as atuais.
As ações em relação à ciência e saúde são valorizadas pelos participantes da pesquisa, com 96% dizendo que confiam na descoberta da vacina contra o coronavírus como uma ação importante para a retomada depois da pandemia. 44% dos jovens ainda acham que a sociedade vai reconhecer mais os educadores e 46% preveem que a ciência e pesquisa terão mais prestígio e investimentos. Por fim, 48% deles ainda acreditam que as relações humanas e a solidariedade receberão mais atenção.