Projeto envia SMS para motivar alunos e evitar a evasão escolar
Em projeto iniciado em 2020 na rede de Goiás em razão da pandemia, estudantes recebem dicas de estudo e apoio para continuar a perseguir seus sonhos e projetos de vida
por Vinícius de Oliveira 21 de janeiro de 2021
Evitar a evasão escolar é uma missão imposta a todas as secretarias de educação desde que as aulas presenciais foram suspensas no começo de 2020 em decorrência da pandemia do coronavírus (COVID-19). Entre as diferentes estratégias colocadas em prática, um projeto-piloto realizado pelo Instituto Sonho Grande em colaboração com a Secretaria de Estado da Educação de Goiás e a empresa Movva enviou mensagens SMS para 15 mil alunos de escolas de ensino médio em tempo integral da rede.
São mensagens no formato texto, que não dependem de conexão à internet para chegar ao aluno, como “Um passo de cada vez! É assim que a gente vai construindo a nossa história”. O tom escolhido também não é de cobrança de tarefas enviadas pelos professores e tem como foco apoiar os estudantes a não desistir de seu projeto de vida e dão dicas para a organização dos estudos em casa.
“As mensagens foram baseadas no contexto da rede de Goiás. Fizemos algumas entrevistas com estudantes para entender como estava sendo sua experiência de estudos em casa e quais eram os desafios que eles estavam enfrentando”, disse Clara Schettino, gerente de estudos e avaliações do Instituto Sonho Grande. “Além disso, também nos apoiamos na teoria de economia comportamental para entender o formato da mensagem para que ela tivesse o efeito desejado”.
Em paralelo, pesquisas como a “Juventudes e a Pandemia do Coronavírus (COVID-19)”, realizada pelo CONJUVE (Conselho Nacional da Juventude) com apoio de diversas instituições, incluindo o Porvir, já mostravam que metade dos 33,6 mil participantes tinham dificuldade de estudar em casa.
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O impacto das mensagens
Pelo resultado do estudo randomizado, no qual um grupo de estudantes recebeu alertas por meio de mensagens de texto (grupo de tratamento) e um outro grupo de estudantes que não os recebeu (grupo de controle), os resultados foram positivos. Quatro semanas após o início da intervenção começar e oito mensagens terem sido publicadas, os estudantes que receberam as mensagens, na média, tiveram uma taxa de abandono 77,3% menor em comparação aos estudantes que não receberam os textos via SMS.
Além disso, neste mesmo período, 1,37% dos estudantes do grupo dos que receberam as mensagens abandonaram as aulas não presenciais (deixaram de ingressar nas plataformas educativas ou não entregaram as tarefas físicas por duas semanas consecutivas), enquanto a porcentagem foi de 6,03% entre aqueles que não receberam as mensagens.
Outro destaque mostra que 86,5% dos estudantes que receberam as mensagens afirmam que irão voltar às aulas quando as escolas reabrirem, contra 76% dos estudantes que não receberam o SMS. A intervenção teve um impacto de 43,7% na redução de evasão esperada.
As impressões de quem recebeu
A pandemia obrigou quem estava acostumado com o professor em sala de aula a desenvolver rapidamente um senso de autodidatismo. Esse foi o caso de estudantes como Luyza Fernanda Mendonça da Silva, que em 2021 vai cursar o terceiro ano no Colégio Estadual Doutor Genserico Gonzaga Jaime, que fica no bairro Jundiaí em Anápolis (GO). “Estudar em casa parecia uma ideia legal porque a gente está no conforto, porém não foi assim. Eu senti muita falta do contato com meus amigos e com os professores. Quando a gente está na escola, os professores é que vão passando conteúdo e pronto. Já em casa, é um pouco diferente”, disse.
Para a estudante, as mensagens foram úteis para montar uma rotina. Já para sua mãe, que a jovem diz sempre ter estado ao seu lado, a comunicação que chegava pelo celular incentivou a perguntar mais vezes “como estavam as coisas” em um momento em que a pandemia trouxe todo o tipo de dificuldade para sua família. “Passamos por dificuldades financeiras e problemas de saúde com familiares. Foram momentos bem difíceis e as mensagens me motivaram, me deram a força que precisava para encerrar esse ano na escola. Nós jovens precisamos de apoio e não só dos pais, mas também da escola. Foi uma ação bem diferente, que eu gostei muito”.
Apesar de não ter aulas presenciais desde março, Luyza conta que esteve na escola para reuniões de projetos de acolhimento, “obedecendo todos os protocolos”, frisa. Sobre seu projeto de vida para 2021, diz esperar conseguir realizar seus sonhos “porque é o terceiro ano, reta final e fazer a diferença e ajudar muito o próximo”.
As mensagens também mexeram com quem vivia a fase de transição do ensino fundamental para estudantes como Ana Clara Soares, que está na mesma escola e avançou para o segundo ano do ensino médio.
“Eu mudei de colégio porque o que eu estava no fundamental não tinha ensino médio. Eu não conhecia nenhum dos professores e já tinha um medo maior porque são matérias novas, novos conteúdos que a gente não tinha no nono ano”, descreve.
Além das dificuldades inerentes ao isolamento social, como a falta de convívio com os colegas, veio também uma dificuldade com os primeiros passos em química. “Mas quando comecei a ter atividades com os professores foi muito bom e eu consegui ter um entendimento dos conteúdos e um contato maior com eles”, disse.
Expansão do projeto
Após o piloto na rede de Goiás, para o ano letivo de 2021 o Instituto Sonho Grande espera levar a experiência para as redes da Paraíba, Rio Grande do Norte e São Paulo. O resultado completo do estudo de impacto de 2020 pode ser encontrado neste link (PDF).
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