Congresso LIV Virtual destaca os aprendizados decorrentes dos sentimentos
Prepare-se para a nova edição do evento relembrando as principais reflexões dos encontros anteriores
por Ruam Oliveira 11 de agosto de 2021
É consenso que discutir aspectos socioemocionais dentro da educação é um caminho sem volta. Com o acúmulo de incertezas causado pela pandemia, as muitas mudanças de rotina e alteração de convívio e socialização, ficou ainda mais evidente a importância de olhar para os sentimentos de crianças, jovens e adultos.
Criar espaços de conversa é uma das muitas estratégias viáveis neste período. O LIV (Laboratório Inteligência de Vida) realiza nos próximos dias 24 e 25 de agosto a terceira edição do Congresso Socioemocional Virtual. Educadores, filósofos, escritores e formadores de opinião estarão juntos em uma jornada dedicada a refletir sobre educação socioemocional em diferentes dimensões, indo desde saúde mental até aspectos do ensino híbrido.
Por que é importante olhar para o lado socioemocional? As últimas edições dos congressos promovidos pelo LIV suscitaram diferentes reflexões que, apesar de feitas há algum tempo, ainda continuam fazendo sentido. Como, por exemplo, o fato de que a dinâmica das famílias, agora tão presentes no cotidiano das crianças, precisará mudar, levando em consideração que pais e mães ficaram muito tempo em casa. Ou seja, é um momento para que as famílias se reinventem. Quem afirma isso é o psicanalista Christian Dunker, que participou da edição virtual de 2020.
O mote da edição deste ano é “Sentir é Aprender”. Há quem reforce que os últimos meses foram repletos de aprendizados e ao observar aspectos emocionais torna-se evidente, por exemplo, a emergência da temática sobre saúde mental. Os efeitos do distanciamento social na psique foram muitos e variados, atingindo idades diversas.
Neste campo, de olhar e entender sentimentos, é preciso que sejam observados espaços tanto para a razão quanto para a emoção. Este ponto foi reforçado pelo filósofo italiano Domenico De Masi, durante a primeira edição do Congresso Socioemocional LIV. “Vivemos agora em uma sociedade pós-industrial, o que é algo muito bonito, pois compreendemos que tanto a razão quanto as emoções são fundamentais, pois razão e emoção resultam na criatividade. Nós reavaliamos o emocional e valorizamos a racionalidade e conseguimos entender a importância de um e do outro. A racionalidade não deve prevalecer sobre o emocional e o emocional não deve prevalecer sobre a razão”, apontou De Masi na ocasião.
O filósofo ainda apontou que os adultos não devem ser preparados somente para a emotividade ou para a racionalidade, o que nas palavras dele seria “alienante”. Pelo contrário, Domenico aponta que é preciso criar adultos preparados para o ócio criativo – termo cunhado por ele. “Temos que formar um adulto que sabe conciliar bem: o estudo, o trabalho e o lazer; que sabe conciliar bem a emotividade com a racionalidade e que seja criativo.”
Ser racional, neste tempo, é também ter a vontade de olhar para o outro. A empatia, termo que também foi galgado aos mais utilizados deste período, é uma habilidade socioemocional que merece estar em voga.
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Em conversa sobre a dita cultura do cancelamento durante o Congresso Virtual LIV, o escritor e doutor em filosofia Renato Noguera destaca que esse é um movimento que objetifica as pessoas. “É uma desumanização que parte de um protocolo político, econômico, social e histórico que faz com que a gente trate algumas pessoas como objeto, inclusive as que admiramos”, apontou.
Na internet, o “cancelamento” de alguém pode acontecer por diferentes razões, desde fatos triviais até assuntos mais graves. A atriz Ingrid Guimarães, que participou do mesmo painel que Renato, destacou que esse tipo de atitude é alimentado por um ciclo onde as pessoas “endeusam” celebridades, por exemplo, e que se acham no direito de também removê-las desse posto.
E o lugar da empatia está também neste ponto de se colocar no lugar do outro. Ingrid destacou que considera o termo relativamente novo e que não se lembrava de tê-lo ouvido quando era criança, por exemplo, e elogiou que as escolas estejam abertas para esse tipo de discussão.
“Talvez o processo empático seja algo que se aprenda, que se treina”, disse a atriz.
Com a possível abertura das escolas, o espaço para discussão sobre aspectos socioemocionais deve ser mantido. Na edição deste ano do Congresso Virtual, o LIV traz momentos de discussão para falar sobre a saúde mental do professor, sobre o acolhimento que deve ser concedido neste retorno e vulnerabilidade e potência, por exemplo.
Na abertura do evento, a instituição recebe para uma roda de conversa a apresentadora Glória Maria, que comanda uma conversa com o músico e escritor Emicida, a professora Lilia Melo, a escritora Conceição Evaristo, o psicólogo Lucas Veiga e a historiadora Lilia M. Schwarcz sob o tema “Sentir é Aprender, Aprender é Sentir”.
São nestes espaços de discussão que surgem ponderações que impactam também a autoestima e a forma como se observa o erro e o aprendizado. “A escola deve entregar o gosto do saber, mas ao mesmo tempo ensinar a conviver com o não saber”, disse o escritor Mia Couto em evento do LIV. Em uma outra perspectiva de abordagem, ele aponta que o erro na escola deveria ser visto como mais uma forma de entender que as pessoas são diferentes.
Ele também puxa para o lado da arte essa compreensão sobre os sentimentos. “O grande terapeuta que me tratou foi a poesia, em particular, Fernando Pessoa. Ao ler Fernando Pessoa, aos 14 anos, eu entendi que ninguém cabe em uma única pessoa, isso não é só absolutamente normal como absolutamente saudável e feliz. Aprendi como cada um de nós é tão plural, tão diverso, tão conflituoso, contraditório. E cada um de nós é falível e sujeito à derrota”, disse o escritor.
É possível perceber que as dimensões são variadas quando se pensa em educação socioemocional. Compreendendo que é possível abordar diferentes perspectivas e temáticas para falar sobre como se sente e, inclusive, aprender a expressar-se e construir possibilidades de diálogo e conversas na escola sobre o lado mais humano, que é o dos sentimentos.