Escola precisa demonstrar intenção diária de ser antirracista, diz psicopedagoga
O racismo pode acontecer de maneira não intencional, por ser estrutural no país, por isso é importante agir com intencionalidade antirracista.
por Ruam Oliveira 5 de novembro de 2021
Novembro chegou e com ele as discussões sobre racismo vão começar a aparecer. Se, por um lado, é bom que se discutam questões que envolvem as relações para educação étnico-racial, por outro, é importante que este tema não fique preso ao décimo primeiro mês de cada ano.
“Nós vimos de uma estrutura racista, então o racismo não precisa de uma intenção para acontecer”, disse a psicopedagoga Clarissa Brito no 3º congresso LIV Virtual. Diferentemente do racismo, ser antirracista requer uma intenção diária e contínua. E implementar o assunto nas escolas deve também partir dessa postura ativa.
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Mais do que o desenvolvimento de projetos, trazer esse tema para dentro do currículo trata-se do cumprimento da lei 10.639, promulgada em 2003, e que torna obrigatório o ensino de história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas, além de instituir o dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra.
“Ser antirracista é uma escolha. Toda hora você vai [precisar] parar e pensar nas escolhas, não só no ambiente de aprendizagem. Quando a gente fala da mentalidade antirracista na sociedade, a gente está falando de qualquer ambiente que se posicione e que faça escolhas para que esse imaginário social não seja perpetuado”, apontou Clarissa.
O imaginário ao qual ela se refere é o que coloca negros e negras em posição de subalternidade e inferioridade e que reforça uma visão negativa do que é ser negro. E a escola tem papel central nesse trabalho por ser um lugar onde as pessoas ficam por tantos anos.
De fato, tirando os casos de dificuldade de acesso e permanência, o ambiente escolar é um local onde a maioria das pessoas vive e convive por muitos anos de suas vidas. Sendo assim, Clarissa aponta que isso deixa uma demanda para as escolas, que é repensar as escolhas curriculares, rever as representações e espaços de poder e quais são as narrativas que circulam por esse ambiente.
“É preciso que a escola esteja sempre buscando representatividade, que esteja ancorada nas narrativas ancestrais da população negra. É necessário que a escola esteja implicada fortemente em ressignificar o olhar que a gente tem sobre esse continente originário que é a África e pensar nossa identidade nacional afro-brasileira”, disse a psicopedagoga.
Ela aponta que a missão é contar, verdadeiramente, a história do país, levando em consideração a participação ativa da população negra na construção do Brasil. Isso também levando em consideração que a história negra não se trata somente de escravidão.
Incluir a comunidade
A escola é o campo de reconstrução desse movimento”, diz a psicopedagoga. E é tarefa da escola envolver toda a comunidade nesse processo. O fazer pedagógico antirracista, para Clarissa, começa nessa filosofia de que os educadores, educadoras e a comunidade escolar estejam engajados em reconstruir uma narrativa.
“É importante que a gente encontre espaço no currículo para que essa escolha antirracista apareça – deslocada do 20 de novembro. O fazer pedagógico passa pela formação dos professores e pelo letramento racial. Qual a consciência de raça que os corpos dessas escolas possuem? É importante que esse letramento racial aconteça em todos os âmbitos da escola”, diz.
A escola foi, por muito tempo, um espaço que aprofundou o racismo e deve ser, portanto, um local onde ele deve ser desconstruído. Clarissa relembra que foi na escola que o racismo científico foi perpetuado e validado. “É importante que a escola veja o lugar que ela ocupa na sociedade e pense: ‘Estamos aqui, não temos uma receita, mas sabemos que existe uma violência que entendemos que não dá mais para perpetuar'”, aponta.
Entender termos como lugar de fala, branquitude, o que é privilégio e preconceito, o que é discriminação, por exemplo, são elementos que devem ser usados em sala de aula para pensar a educação antirracista.
As discussões existem há bastante tempo, e a psicopedagoga ressalta que agora é o momento de se debruçar sobre elas de maneira mais ativa e contextualizada.
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