‘A EAD vai forçar o ensino presencial a mudar’
Para especialistas, o uso abundante de recursos tecnológicos pelo ensino a distância estimula os cursos presenciais
por Fernanda Kalena 25 de julho de 2014
Os cursos de educação a distância (EAD) costumam fazer uso frequente de recursos tecnológicos como videoaulas, quizzes e games para garantir um melhor aprendizado e engajamento dos alunos. Segundo Roberto Paes, coordenador de produção da área de educação a distância da Universidade Estácio, os cursos a distância tem que deixar o material acessível e interessante para o aluno estudar e essa abordagem está provocando mudanças no ensino presencial.
“A EAD vai forçar a barra para os cursos presenciais mudarem e fazerem mais uso de recursos tecnológicos. As aulas presenciais são essencialmente cuspe e giz. Alguém falando e alguém anotando, sem qualquer interação. O ensino a distância tem como base a interação”, explica Paes que diz inclusive que a interação vale nota para os alunos dos cursos a distância da universidade, medida através da qualidade de suas contribuições.
Para Pavlos Dias, empreendedor especialista em tecnologias aplicadas à educação, esse cenário de mudança já é realidade. “Temos a impressão que o ensino presencial está correndo atrás, mas ele já alcançou. A tecnologia está cada vez mais presente nas salas de aula e o aumento do acesso a internet potencializa muito isso”.
A ponderação que Paes faz é em relação a aceitação do uso de tecnologias tanto pelos alunos quanto pelos professores. “Na EAD a flexibilidade de injetar inovação é muito grande, o presencial ainda é muito engessado. Conseguimos incorporar novos recursos aos cursos a distância com muita facilidade, todo mundo gosta de trabalhar com simuladores, animações, games e videoaulas. Presencialmente esse processo é mais complexo, o que nos leva a começar pelo aluno e não pelo professor”, afirma o coordenador em entrevista ao Porvir, durante o Workshop Estácio Inovação & Educação, realizado quarta-feira no Rio de Janeiro.
Segundo ele, o professor universitário brasileiro é muito resistente a mudanças. “É muito difícil para os docentes que já estão acostumados com uma abordagem que sempre funcionou em suas aulas absorverem os novos recursos. Muitos deles sequer veem email”.
Dias é otimista e diz que a tendência é que nos próximos anos a distinção entre o que é recurso de EAD e o que é ferramenta para aulas presenciais deixe de existir. “Enxergamos que vai existir um meio termo. Vemos muitos professores de cursos presenciais usando tecnologias para estimular estudos fora do horário de aula”. Como exemplos ele cita comunidades virtuais de práticas e experiências, plataformas de exercícios e simulações e banco de testes. “Esse tipo de recurso também faz parte do dia a dia do aluno do ensino presencial”, completa.
O empreendedor é responsável pela operação brasileira da Blackboard, empresa que desenvolve ambientes virtuais de aprendizagem para instituições de ensino – no Brasil já chega a 70 instituições somando quase 1 milhão de alunos. “A maioria esmagadora dos alunos que fazem uso da plataforma não são de EAD, são alunos do ensino presencial que usam o e-learning como suporte aos estudos. Isso comprova que essa aproximação já é realidade e não futurismo”.
A repórter viajou ao Rio de Janeiro a convite da Universidade Estácio.