A potência da arte urbana para conectar escolas, alunos e territórios - PORVIR
Crédito: Jandrik/iStock

Inovações em Educação

A potência da arte urbana para conectar escolas, alunos e territórios

Experiência didática Arte Urbana, da Maratona Ação Criativa, encoraja diferentes expressões artísticas a partir de vivências nos territórios e nas comunidades escolares

Parceria com Ação Criativa

por Maria Victória Oliveira ilustração relógio 29 de julho de 2022

Que a arte é um meio de expressão pessoal não é novidade. Mas e se essa manifestação humana fosse utilizada em sala de aula como estratégia para abordar outros conteúdos e conceitos curriculares e despertar mais interesse dos estudantes? Esse é o fio condutor da experiência didática (ED) Arte Urbana, uma das propostas que compõem a Maratona Ação Criativa, programa homônimo criado pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) com parceria técnica da RBAC (Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa) e Fundação Lemann. 

A experiência tem como objetivos identificar expressões artísticas da arte urbana no território, criar oportunidades para tornar a escola um local de interação, integração cultural e social, promover iniciativas de pesquisa sobre as memórias e história dos moradores do bairro e estimular os alunos a expressar seus sentimentos a partir das linguagens que caracterizam a arte urbana. 

“Tudo aquilo que dá visibilidade à arte cotidiana, espalhada pelas ruas, pode ser transferido e adaptado para realidade escolar. Desenhos geralmente são os que primeiro aparecem, como o grafite, grafismo, arte em colagem, mas qualquer tipo de manifestação que surge dentro de um território pode ser uma atividade”, ressalta Lúcia Maria de Morais, professora do 5º ano ensino fundamental do Centro Educacional Pioneiro, em São Paulo, responsável pela experiência didática. 

Arte e pertencimento

Segundo Lúcia, é por meio da pluralidade de linguagens dentro das expressões artísticas vivenciadas na arte urbana que os e as estudantes podem se conectar com seu território e expressar seus desejos, críticas e sugestões relacionadas a alguma temática, o que aumenta as chances do sentimento de pertencimento àquele espaço.

“Essa liberdade criativa permite a exploração de pertencimento daquele território e suas manifestações de acordo com o querer individual ou coletivo daquela turma, entre aquele grupo e a comunidade. A sensação de pertencimento à região, cidade ou bairro traz um questionamento sobre sua cultura e o querer ser participativo nas mudanças e transformações daquilo que é vivenciado no seu dia a dia, estimulando o debate e a exposição de diferentes pontos de vista.” 

Seja em propostas de trabalho individual ou coletivo, Lúcia explica que os estudantes conseguem, a partir de objetivos comuns, perceber que são parte do território e da cultura ali vigente. “Os jovens conseguem se manifestar entre afetos e desafetos do que ali vivenciam, sua identidade se torna real fortalecendo sua autoestima, autoconfiança e até visão de futuro.” 

Múltiplas possibilidades 

Criada para estimular a imaginação a partir de narrativas, identificação de problemas ou desafios, a experiência didática conta com propostas que trazem temáticas diversificadas, abertas, flexíveis e acessíveis a partir de diferentes formas de expressão artística: desenho, pintura, colagem, quadrinhos, dobradura, escultura, modelagem, instalação, vídeo, fotografia que podem se relacionar às linguagens oral, visual, motora, escrita, corporal, sonora e digital. 

A Experiência Didática Arte Urbana, bem como todas as outras EDs da Maratona Ação Criativa, são conectadas aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) e às competências da BNCC (Base Nacional Comum Curricular)

Nesse caso, a proposta trabalha os ODS 4 (Educação de Qualidade), 10 (Redução das Desigualdades) e 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis), a partir do exercício das competências: conhecimento, repertório cultural, comunicação, cultura digital, autoconhecimento e autocuidado e autonomia.

A atividade pode ser trabalhada de forma multi e interdisciplinar nos componentes de língua portuguesa, arte, história, geografia e educação física. Entre os exemplos de práticas, estão escolher uma técnica de expressão artística pouco experienciada pela turma, fazer um percurso pelo entorno da escola para descobrir artistas de rua do território, declamar poemas, experimentar diferentes expressões artísticas e relacioná-las a dimensões da vida social, cultura e política, identificar no espaço público diferentes manifestações culturais, identificar e diferenciar danças criativas, entre outros. 

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Liberdade de expressão

Se você está se perguntando como o trabalho com arte urbana se relaciona e pode apoiar outras disciplinas, Lúcia explica que a liberdade artística proporcionada incentiva a produção de obras diversificadas, permitindo que os estudantes escolham, de acordo com sua habilidade e potencial criativo, sua forma de expressão preferida. 

“A arte urbana, enquanto resolução criativa para desafios, estimula o raciocínio e a capacidade de encontrar uma ou mais soluções para um mesmo tema. Sendo assim, por meio dela, crianças e jovens conseguem experienciar suas habilidades, motivando o seu comprometimento e confiança em si, lidando melhor com suas limitações dentro da função em seu grupo. Essa é uma bagagem que vai levar para todas as áreas do conhecimento, permitindo aumentar a compreensão dos conteúdos e conceitos”, afirma. 

Arte e expressão na escola pública 

“A arte não é algo que se dá valor no currículo dentro da escola pública, e ainda é vista como algo para um público específico.” Esse foi um dos motivos que levou Isis Zope, professora dos oitavos e nonos anos do ensino fundamental da Escola Chácara Turística, em São Paulo, a desenvolver uma experiência envolvendo arte urbana. 

Os alunos tiveram aula de arte urbana e oficinas de arte nas quais podiam refletir sobre aspectos que permeiam as expectativas de vida, o que, segundo Isis, tem sido um desafio para adolescentes de regiões periféricas. “Estabelecer sonhos pode ser fácil, mas na prática não é assim.” 

A proposta teve participação do artista Tito Ferrara (confira vídeo abaixo), convidado por Isis, a quem os estudantes fizeram inúmeras perguntas. “Ele pintou uma tela ao vivo, mostrando a técnica e linha de raciocínio que usa em sua arte. Lembro-me das crianças apreensivas quando o Tito escreveu as palavras por cima do desenho que já havia pintado. Quando ele começou a pintar novamente, os sorrisos de entendimento iam abrindo e elas compreendendo a proposta de que os sonhos fazem parte de nós, estão intrínsecos na alma e tatuados na pele.” 

Em outra experiência, os alunos foram divididos em duplas, um de frente para o outro, e a partir de perguntas mais lúdicas, puderam descobrir um pouco da vida um do outro. 

Protagonismo 

A experiência de Tito Ferrara culminou na elaboração de um painel na parte externa da escola e gerou um legado que dura até hoje. “Noto que os e as estudantes que participaram dessa proposta se posicionam, são críticos e fazem interferências em sua realidade.” 

Isis também comenta que a atividade incentivou a expressão por parte dos e das estudantes. “Do ponto de vista dos discentes, expressar-se é algo difícil. A arte urbana veio nesse propósito de tornar a escola um ambiente de escuta e mostrar que expressar-se é sempre possível.” 

Tito Ferrara conta que seria quase que simplista acreditar que uma única oficina foi suficiente para mudar a vida dos estudantes participantes. Entretanto, o artista defende que múltiplas e diversas experiências podem, sim, plantar uma semente e mostrar caminhos alternativos a seguir. 

“São infinitas as possibilidades a seguir e, por isso, acho bem importante que pessoas de diversos conhecimentos e áreas estejam com as crianças. Tive amigos que iam muito mal na escola tradicional e se encontraram na música ou mesmo na arte. Acredito que a soma de várias referências de diferentes profissionais pode mudar a vida dos alunos”, defende Tito. 

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aprendizagem criativa, arte, protagonismo jovem, tecnologia

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