Acolhimento na escola é uma necessidade. Por onde começar?
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Acolhimento na escola é uma necessidade. Por onde começar?

Criar espaços de acolhimento na escola pode auxiliar estudantes e corpo docente a lidar com emoções e sentimentos de maneira mais livre

Parceria com LIV

por Ruam Oliveira ilustração relógio 5 de agosto de 2022

Desde 2020 as escolas estão passando por uma série de mudanças devido à pandemia. Dois anos depois, ainda há muito o que se pensar a respeito deste período. E como a escola não está descolada da sociedade, boa parte do que ocorre para além de seus muros tem impacto internamente. 

Um dos pontos principais a esse respeito é simples: a escola é feita de e por pessoas. Sendo assim, a questão das emoções não pode ficar de fora. 

Professores e professoras que agora retornam para o segundo semestre também precisam de espaço para abordar aspectos socioemocionais no ambiente educacional. O acolhimento, entendido como uma das áreas que devem ser priorizadas neste retorno às aulas, precisa ser encaixado nas estratégias tanto de gestores, quanto de demais atores escolares. 

Para que possam acolher os estudantes, docentes também precisam ser acolhidos. É o que explica o professor Daniel Moraes, educador e consultor pedagógico do LIV – Laboratório Inteligência de Vida. “É importante também que a gente ouça e crie esse espaço de acolhimento para todas essas vivências construídas ao longo do período [de pandemia] sejam trazidas também para sala de aula”, pontua. 

As estratégias de acolhimento podem partir de ações simples como um atendimento atencioso, rodas de conversa ou espaços criados para que a comunidade escolar se sinta livre para falar sobre seus sentimentos. 

“Quando um professor ou professora abre a porta de sua sala para receber seus alunos, ele ou ela já iniciou um acolhimento. Cada bom dia, boa tarde ou boa noite direcionado aos estudantes de forma respeitosa e verdadeira significa para eles que o profissional que está ali deseja realmente a sua presença e está feliz com cada estudante que chega”, conta o professor José Ricardo Martins Machado, pedagogo e especialista em educação emocional. 

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Para o educador, até mesmo a troca de um olhar mais atento pode significar um tipo de acolhimento. Ou seja, além de ações pensadas a longo prazo e que demandam maior envolvimento e estrutura, acolher o corpo docente – e os estudantes – pode ter início em atitudes pontuais, feitas com intenção. 

Paola Carloni, professora e psicóloga do Colégio Arena, em Goiânia (GO), ressalta que os espaços de acolhimento estão ligados a possibilidades de fala. “Nos sentimos acolhidos e incluídos quando podemos nos expressar e somos levados em consideração. Rodas de conversas sobre o início do semestre, espaços de fala e ações para resolver os problemas que aí se apresentarem são fundamentais”, diz. 

Para Daniel, esses espaços nos quais é possível dialogar geralmente já existem nas escolas, o que falta é apenas potencializá-los. Às vezes, a sala dos professores pode ser esse ambiente onde ocorrem trocas significativas e onde docentes podem exercitar a escuta ativa.

“Professores podem promover um melhor acolhimento à medida que também se sentem acolhidos. E para além disso, ouvindo os estudantes, levando em consideração o que reivindicam ou falam, dialogando com outros atores do grupo escolar como coordenadores, psicólogo escolar, orientadores disciplinares e estabelecendo uma proximidade afetuosa por meio de um bom vínculo com as turmas”, aponta Paola.

Espaços de conversa e convivência

O retorno para o segundo semestre é diferente de como foi no início do ano. Agora, o contexto é um pouco diferente: muitas escolas já tiveram um primeiro semestre presencial, já identificaram algumas dificuldades e descobriram pontos de atenção. E como aponta Daniel Moraes, as vivências que tanto os estudantes quanto os professores tiveram foram outras. 

Ele sustenta que este pode ser um momento também para trazer o estudante para o papel de protagonismo, colocando-o na posição de falar a respeito do que sente e de como foi para ele viver os últimos meses. “A escola é um local de diálogo. Deve haver um convite para que todos pensem sobre isso. A coordenação e os professores estão no local de facilitadores e, se eles abrem o caminho para o protagonismo dos estudantes, acabam vindo também participar dessa discussão, de montar esse ambiente que seja mais acolhedor”, afirma. 

Em recente entrevista ao Porvir, o pediatra e professor Daniel Becker ressaltou que as crianças estão voltando para uma escola que não está inteiramente preparada para recebê-las. Isso porque, muitas vezes, os sentimentos dessas crianças e adolescentes não são reconhecidos no ambiente escolar, como explica o médico. 

“A escola é um espaço importante de socialização dos estudantes e da gente também. Os professores que estão lá nesse ambiente de trabalho estão socializando, mas, para a criança, é um dos principais locais onde vai desenvolver as amizades e as primeiras frustrações também fora do ambiente da família. É ali que ele vai se relacionar com muitas pessoas que vão ter visões de mundo diferente da família dele”, diz o consultor de LIV. 

Além de espaços como rodas de conversas, o professor José Ricardo comenta que é possível trabalhar temas socioemocionais por meio de filmes e elementos do audiovisual. “Convide os estudantes para opinarem e escolherem juntos os filmes. Eles se sentirão importantes com a oportunidade de compartilhar seus gostos e interesses”, diz o professor. “Outra ação que os professores podem realizar em suas aulas é solicitar que em dias específicos os estudantes tragam frases ou músicas que tenham significado para eles e que significado é esse. A partir daí, oportunizar o espaço para o diálogo, exercendo o direito de se expressar e o dever de respeitar o espaço do outro se expressar também”, completa.

Educação socioemocional

Geralmente quando se discute habilidades e aspectos socioemocionais, muitas pessoas ligam automaticamente o assunto à saúde mental. Mas olhando para o ambiente escolar, a figura do educador ou educadora faz com que a área seja vista a partir do prisma da educação. Ou seja, em um olhar contínuo. 

“Se a gente lembrar o nosso processo de alfabetização, não começamos lendo um texto complexo. A gente começou por uma etapa mais simples e a fomos evoluindo aos poucos, entrando cada vez mais no mundo das Letras e se apropriando desse universo por meio  de um processo de conhecimento. Quando falamos de educação socioemocional, a gente pode entender isso a partir de um processo de conhecimento como eu reconheço o outro no mundo como e conheço também o mundo em mim”, diz Daniel. 

O professor reforça que este é um jeito de olhar para o indivíduo e aponta que ele “não está sozinho no mundo”. O papel do professor nesse contexto também faz parte de um processo de aprendizagem contínua, a respeito de como lidar com as suas emoções e dos estudantes, mesmo que não seja um profissional da saúde mental.

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