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AltSchool, escola com tecnologia no DNA

Conheça a rede de pequenas escolas nascida em meio às gigantes de tecnologia do Vale do Silício (EUA) que busca novas estratégias para personalização

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 12 de abril de 2017

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Se você quer entender o que grandes investidores do Vale do Silício, nos Estados Unidos, pensam a respeito da educação, precisa conhecer a AltSchool. Criada em 2013 por Max Ventilla, empreendedor e ex-funcionário do Google (do time que criou o Google+), a rede de pequenas escolas com sede em São Francisco, na Califórnia, e em Nova York, é formada por oito unidades com 35 a 120 alunos, do berçário à oitava série.

Desde sua fundação, a Altschool guarda muita semelhança com startups que criaram aplicativos que você deve ter no celular. Recebeu mais de US$ 100 milhões de investidores como Marc Andreessen (fundador do Netscape e investidor de marcas como Twitter e LinkedIn), da empresa Andreessen Horowitz, e do fundador do Facebook Mark Zuckerberg e sua mulher Priscilla Chan, que criaram um fundo para apoiar a personalização do ensino. Baseia seu produto em tecnologia, que é constantemente aprimorado por uma equipe de engenheiros e designers vindos de Apple, Google e Facebook.

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Apesar de ter recebido sucessivos aportes financeiros, a AltSchool se mantém pequena e investe em pesquisa e desenvolvimento para fazer o bolo crescer antes de dividi-lo, inclusive com escolas parceiras. Seria uma história parecida com tantas outras do Vale do Silício, não fosse a Alt School uma rede de escolas.

Para entender como o que acontece na sala de aula tão colada ao mundo da tecnologia, o Porvir conversou com Mohannad El-Khairy, assessor de negócios da AltSchool, que veio ao Brasil para participar do Transformar Educação, evento sobre inovação em educação organizado por Instituto Inspirare/Porvir, Fundação Lemann e Instituto Península, que aconteceu no último dia 4 em São Paulo (SP). O executivo conta que o maior desafio que a Alt School se coloca é proporcionar qualidade de ensino e aprendizagem para muitos e não apenas para alguns. “Como se consegue o mesmo resultado de um programa de personalização com um professor por estudante adaptado a um modelo de sala de aula com 20 ou 30 alunos para cada professor?”, questiona.

As pistas podem ser encontradas nas lab schools (escolas laboratório), onde a tecnologia é usada a favor do protagonismo do aluno para que ele defina seus caminhos de aprendizagem, que, como não poderia ser diferente, passam pela metodologia de projetos. Aos poucos, a plataforma criada pela própria escola vai entendendo as dificuldades dos alunos. No futuro, pretende ganhar inteligência artificial e deixar o professor ainda mais livre do trabalho repetitivo para que ele consiga escolher a melhor estratégia para suas aulas.

Leia a entrevista abaixo:

Porvir – O que uma escola criada no Vale do Silício e em meio a tantas empresas de tecnologia traz de diferente?
Mohannad El-Khairy – Viver no Vale do Silício permite presenciar muita inovação acontecendo e ver muitos setores sendo abalados por isso. Ao analisar quais fatores estão por trás desse fenômeno e os fundamentos que levam à disrupção, costuma-se encontrar algo que é conhecido, que é considerado verdade, e que vira o modelo atual de cabeça para baixo. A educação é provavelmente a área mais difícil para se fazer isso. Pode-se argumentar que um médico de hoje é melhor que o melhor médico há 100 anos, mas você não pode pressupor isso a respeito da educação. Ao olhar para o setor de EdTech e as tentativas de inovação, tenta-se escalar algo rapidamente, como em qualquer produto e modelo de negócio para internet. É assim que Google, Facebook e Snapchat trabalham. Você inventa algo que não é muito sofisticado e ao atingir uma quantidade grande de usuários, começa a inovar. Mas nenhuma das empresas de EdTech que existem hoje tentou a outra abordagem, que é a hardtech (jargão que designa a estratégia de crescer aos poucos, desenvolvendo expertise própria e investimento de longo prazo). A Tesla tem feito no setor automobilístico: criou um grande setor de pesquisa e desenvolvimento, fez muitos testes, planejou a construção dos veículos durante muito tempo e, uma vez que alcançou a receita certa, começou a produzir carros em escala. Por estar no Vale do Silício, onde a inovação é guiada pela experimentação, prototipação e pilotagem, adotamos essa abordagem de hard technology, criando uma rede de escolas laboratório, aqui na área da Baía de São Francisco e em Nova York. É engraçado que somos uma empresa de EdTech que está aprendendo sobre o papel da tecnologia em reorganizar o setor.

Porvir – E como isso se traduz na maneira que a AltSchool organiza a infraestrutura de tecnologia e ensina?
Mohannad El-Khairy – Somos pessoas de tecnologia vindas de empresas como Google, Apple e Facebook, onde o ambiente de trabalho também evoluiu. Em vez de uma área de trabalho comum em corporações tradicionais, usamos espaços abertos para proporcionar maior colaboração e criatividade. Muitos dos componentes de design thinking que adotamos nas aulas vem dessas empresas, mas no final das contas, não estamos falando de como a criança aprende, mas o como isso acontece. É uma combinação de aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem colaborativa e individual. A ideia é criar um ambiente que tenha como finalidade a personalização. O maior desafio que estamos enfrentando é como alcançar qualidade que venha de escala e não da escassez. Como se consegue o mesmo resultado de um programa de personalização com um professor por estudante adaptado a um modelo de sala de aula com 20 ou 30 alunos para cada professor? É por isso que, como uma empresa de EdTech, acreditamos que precisamos construir ferramentas que permitam a todos os participantes do ecossistema colaborarem para criar um caminho personalizado para cada criança.

Porvir – Poderia me dar exemplos de projetos que são desenvolvidos pelos alunos em sala de aula?
Mohannad El-Khairy – Parte da beleza do modelo é que as famílias têm acesso à (plataforma digital) Playlist não apenas para ver o que as crianças estão aprendendo, mas como estão aprendendo. Isso envolve os pais em torno da educação. É também por meio dessa plataforma que as crianças acessam a lição de casa, os pontos mais importantes a serem estudados e se comunicam com o professor. Eu levei o time de administradores para uma viagem de negócios a Dubai (Emirados Árabes Unidos) com o nosso fundador Max Ventila, que é pai de uma menina de cinco anos que frequenta a AltSchool. Ela está aprendendendo sobre frações e proporções e um dos projetos recomendados para ela na plataforma, que sabia que o pai estava em Dubai, foi criar uma réplica em blocos do Burj Kalifa, o maior arranha-céu do mundo. Existe um contexto personalizado ali. Isso é legal, mas o que eu acho mais impactante foi quando estávamos almoçando bem em frente à torre, ele começou uma videoconferência pelo FaceTime (aplicativo do iPhone) para mostrar a ela como o edifício era de verdade e tudo o que ela aprendeu começou a fazer sentido. Ele cruzou meio mundo, mas ainda assim contribuiu para o processo de aprendizado da filha naquele dia. Um outro exemplo que posso dar são as habilidades que a criança desenvolve em sala de aula. Você pode monitorar demonstrações de resiliência, garra e curiosidade, com o professores gravando tudo o que observam.

Porvir – Qual a reação dos professores quando se deparam com uma escola em que a tecnologia está em todos os lados?
Mohannad El-Khairy – Eles adoram. Especialmente quando o professor é 100% a favor da personalização, mas está frustrado porque não tem as ferramentas necessárias ou tem que lidar com muitos aplicativos e um grande volume de papel. Como você tira um relatório de tudo isso? Você pode considerar a AltSchool um sistema que permite aos professores oferecerem tarefas e também registrá-las. Tudo o que acontece em aula está digitalizado e isso permite ao professor entender o contexto da aprendizagem. Quando uma criança passa de um ano para o outro, o próximo professor não vê apenas uma lista de notas ou o boletim, mas por que o aluno ficou com C em uma disciplina ou A em outra. É completamente contextualizado.

Porvir – Além de construir sua própria tecnologia, a AltSchool também planeja vender a plataforma para outras escolas. Como isso deve acontecer?
Mohannad El-Khairy – Nós nos vemos como o operador do sistema e temos uma pequena equipe de conteúdo que reúne informações de outras plataformas como a Khan Academy. A tecnologia tende a fragmentar indústrias e é por isso que ela é disruptiva. Se você olhar como os serviços financeiros são hoje e como eram no passado, vai perceber que existe quase um aplicativo para cada. Os produtos de EdTech disponíveis no mercado ajudaram a fragmentar a educação e isso é parte da justificativa para a falta de inovação nas escolas. A AltSchool se destaca por ter criado uma plataforma para que o conteúdo se beneficie mutuamente por conta da conexão em rede com outras escolas. É isso que faz a tecnologia brilhar. Com ela, é possível tirar conclusões muito interessantes sobre como um determinado grupo de crianças, com certos atributos, pode ter uma trilha ideal de aprendizagem em relação a outro. É incrível porque as pessoas tendem a pensar que ensino personalizado deve ter seu currículo personalizado, sempre em uma relação um para um, mas não funciona assim. Você pode agrupar crianças com interesses semelhantes. E qual o fim disso? Pense no sistema que funciona em dispositivos móveis: você tem Apple iOS e Google Android. Nossos telefones são os pertences mais personalizados que temos e funcionam por um único sistema operacional. Essa analogia explica parte da visão de longo prazo termos. Um sistema operacional que proporciona às escolas acesso a ferramentas para entender suas crianças e permitir que desenvolvam o protagonismo para escolher seu próprio currículo. Se Billy gosta de beisebol e tem dificuldades com estatística, então o sistema pode sugerir um projeto baseado nisso. É o que a Playlist pode fazer. Hoje é o professor que ajuda nessa tarefa, mas pode-se também vir a se usar inteligência artificial e o sistema fazer isso sozinho. O trabalho do professor se torna mais estratégico em vez de apenas exercer controle. Isso ajudaria no desenvolvimento da criatividade, traria melhores resultados acadêmicos e adaptaria os alunos a um mundo em constante mudança.


TAGS

aprendizagem baseada em projetos, competências para o século 21, educação infantil, ensino fundamental, escolas inovadoras, personalização, plataformas adaptativas, tecnologia

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