Alunas debatem igualdade de gênero e questionam machismo na escola
Movimento em escola de ensino fundamental de São Paulo consegue mudar ambiente entre alunos e barrar proibição do uso de calça legging
por Criativos da Escola 13 de setembro de 2016
“O machismo hoje é bem menor, mas ainda existe e queremos garantir que as ideias que se formam a partir disso sejam reduzidas”, explica Caroline de Alencar, 14 anos. As opressões, assédios e xingamentos por parte de garotos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Eduardo Prado, localizada na zona leste de São Paulo (SP), são combatidos dia a dia, inclusive com a participação de alguns meninos do colégio. Para o Movimento Feminista na Escola (Movifemi), grupo formado por alunas do 7º, 8º e 9º ano, o respeito ao corpo alheio é essencial para uma boa convivência entre todos e todas, inclusive no espaço escolar. “Agora posso me sentir livre para falar o que penso e também ajudar outras meninas”, conta Larissa Martins, 14 anos.
Como estratégia para combater condutas machistas dentro da escola, o Movifemi espalha cartazes com frases de protesto, faz debates sobre feminismo nas salas de aula e promove campanhas de conscientização e acolhimento de meninas. Segundo o coletivo, sempre que há alguma dúvida sobre assuntos relacionados à temática de gênero na escola, o Movifemi é procurado para ajudar na prática da igualdade de direitos dentro e fora do âmbito escolar.
De acordo com suas integrantes, o grupo atua de maneira independente há três anos anos dentro da EMEF Eduardo Prado e realiza visitas a escolas da região com o intuito de contribuir com o empoderamento de outras jovens. Atualmente, o movimento está se ampliando com o objetivo de manter as atividades mesmo quando as atuais participantes mudarem para instituições que oferecem ensino médio.
Vai ter calça legging sim!
Do lado de fora do conselho da escola formado por pais, gestores, professores e estudantes, mais de trinta estudantes davam início ao Movifemi por defenderem uma mesma pauta: o combate ao machismo na unidade escolar. “Invadimos o conselho no meio da reunião. Foi incrível. Pela primeira vez tivemos voz ativa dentro da escola”, lembra a aluna Marcella Coelho, 14 anos.
“O movimento começou exatamente quando a escola nos proibiu de usar [calça] legging na aula de educação física por conta dos meninos. Diziam que a calça marcava nossos corpos e que eles não se controlariam”, relata Larissa. “Sempre culpam a vítima. É mais fácil nos proibir do que falar sobre o machismo”, opina Mayza Rodrigues, 13 anos.
As alunas reivindicaram e conseguiram barrar a proibição. Para Renata Silva, 14 anos, o caso das calças legging teve grande impacto sobre a presença das garotas no ambiente escolar: “sabe quando você está se afundando e consegue voltar à superfície lutando pra isso? Conquistamos a liberdade e o direito de escolher o que queremos vestir, falar e fazer”. E completa Larissa: “no início, éramos cinco de uma única sala, [mas] fomos crescendo e fortalecendo nossas ideias. Hoje, somos mais de vinte”. O movimento teve início em 2012, mas ampliou suas ações durante o ano de 2013.
Mudança de cenário
Com a superação das resistências na escola e maior atuação do Movifemi, as alunas passaram a ocupar importantes posições dentro do conselho escolar, uma delas, inclusive a de presidenta. Para além de questões relacionadas ao machismo, o movimento tem fomentado também discussões sobre temas como racismo, homofobia e xenofobia.
Para o professor Eduardo Kawamura, orientador do projeto, o movimento contribuiu para uma nova fase dentro da escola. “O meu papel como professor é de formação social e política, mas no Movifemi quem toca as atividades são elas. As estudantes levantaram a pauta feminista e foi enriquecedor, porque descobri o que posso fazer para apoiá-las e porque também pude repensar minhas condutas. Foi muito importante para mim enquanto homem e educador”.
“O resultado que o movimento tem gerado é muito bom porque conseguimos perceber onde existe machismo dentro e fora da escola e podemos conscientizar pessoas que estão sofrendo as consequências desse comportamento”, conclui Maysa.