Automação avança sobre exames de inglês - PORVIR
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Inovações em Educação

Automação avança sobre exames de inglês

Veja como a Cambridge Assessment English, departamento da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, adota a inteligência artificial melhorar a avaliação e o retorno para estudantes

por Vinícius de Oliveira ilustração relógio 11 de fevereiro de 2020

Leitura, escrita e agora também a expressão oral. Dentro de pouco tempo, na hora de saber como está seu nível de inglês, o mais provável é que você encontre um computador em todas as etapas do processo. E isso acontece por avanços na automação, que já está presente em outros setores da economia, como serviços financeiros e de comunicação.

Na Cambridge Assessment English,  departamento da Universidade de Cambridge (Inglaterra) voltado para pesquisar e exames de proficiência, pesquisas desenvolvidas pelo Dr. Jing Xu buscam tornar essa interação entre estudante e a máquina mais natural, ao oferecer retornos avaliativos com recomendações específicas e mais precisas do que acontece hoje.

Em conversa por videoconferência com o Porvir, o pesquisador detalha como o sistema aprende com erros, acertos e diferentes sotaques de estudantes do mundo todo e qual o papel do professor neste novo cenário.

Porvir – Como é o trabalho para adotar automação em testes de expressão oral?
Dr. Jing Xu – É um tanto desafiador treinar o computador para avaliar a pronunciação de um estudante, porque existem diferentes sotaques e isso torna mais difícil transformar a fala em texto, que é primeiro passo antes de fazer avaliações sobre onde o aluno se expressou bem ou não.

Para treinar um computador para reconhecimento de fala, usamos uma grande quantidade de dados anônimos coletados a partir dos exames de avaliação de Cambridge. Dependendo do sotaque, pode haver uma diferença de precisão, que tende a diminuir à medida que novos exemplos de conversa são inseridos na plataforma

Também estamos tentando tornar as avaliações por computador mais interativas, da mesma maneira que um facilitador faz atualmente. Trabalhamos em um sistema de diálogo inteligente, que processa o que o estudante diz e faz as perguntas certas de acordo com o contexto.

Porvir – É possível detectar a influência de uma língua materna, como o português, no inglês durante a pronunciação?
Dr. Jing Xu – Existe uma pontuação de confiança que permite que o computador detecte quando um estudante não está falando inglês ou não está levando o teste a sério. Também existe um modelo que associa os símbolos fonéticos com palavras relacionadas ao idioma nativo do estudante ou ao inglês padrão.

Quando o índice de confiança é de 99% o computador consegue transformar quase todas as palavras em texto e, quando menor, geralmente nos níveis iniciais A1 e A2, a fala ainda é menos inteligível e o computador comete mais erros na transcrição, da mesma maneira que um humano perceberia.

Porvir – Como está tentando tornar a interação do computador com o estudante mais natural?
Dr. Jing Xu – Estamos falando sobre duas coisas. Na Universidade de Cambridge, temos o sistema inteligente de diálogo, que não está restrito especificamente à fala e funciona mais como um robô de bate papo. O computador ouve alguma coisa, transcreve o discurso em texto e o robô retorna uma resposta apropriada, também em texto. O treinamento de robô é baseado em palavras-chaves extraídas de roteiros reais de filmes, que mostram como pessoas interagem umas com as outras e permitem que o computador dê uma resposta relevante. A outra parte tenta transformar texto em uma voz natural é uma tecnologia já bem desenvolvida que pode ser encontrada em sistemas de navegação e aplicativos de mapas.

Porvir – É possível imaginar que o novo processo baseado na automação vai substituir o processo tradicional?
Dr. Jing Xu – Toda a Universidade de Cambridge está passando por um processo de digitalização. A plataforma LinguaSkill é pioneira no uso de aprendizagem de máquina e inteligência artificial. No longo prazo, as pessoas vão ficar mais familiarizadas com a interface que estamos criando para tablets e celulares da mesma maneira que hoje acontece no computador. Não consigo estimar quanto tempo tudo vai levar, porque o mercado é enorme muita gente ainda não têm acesso à internet e em áreas remotas e rurais, ainda precisamos da versão em papel.

Porvir – Além da parte de expressão oral, onde você vê maior impacto pelo uso de inteligência artificial?
Dr. Jing Xu – Na visão de Cambridge, a função dos exames não é provar o quão bom você é, mas em que aspectos você pode ser melhor para avançar ao próximo nível. Os testes em papel acabam não fazendo um trabalho tão completo, pois não têm a possibilidade – nem a tecnologia – para ir tão fundo nessa avaliação. A inteligência artificial terá uma atribuição importante em dizer não só em qual nível você está, mas também quais são suas deficiências, erros cometidos em sua pronunciação, na escrita e na leitura.

Porvir – Neste contexto, qual o papel dos professores? Como eles ficam em um contexto em que computadores conseguem oferecer avaliações tão precisas?
Dr. Jing Xu – Existe uma conexão emocional entre professor e alunos e queremos que isso continue. Computadores podem oferecer muitos retornos avaliativos, mas eles são apenas uma ferramenta que podem melhorar a maneira com que alunos aprendem sozinhos. Mas acho que há muitas outras coisas que o professor pode fazer, como saber julgar e escolher. Não se trata de só contar os fatos, mas de guiar o caminho de forma emocional e humana, assumindo a função de mentor.


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avaliação, tecnologia

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