Brincar ao ar livre nunca foi tão urgente, dizem especialistas - PORVIR
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Inovações em Educação

Brincar ao ar livre nunca foi tão urgente, dizem especialistas

Voltar a conviver no coletivo, de preferência junto à natureza, é essencial para as crianças neste momento pós-pandemia. Confira sugestões para aproveitar as áreas abertas das escolas

Parceria com Brink Mobil

por Ana Luísa D'Maschio ilustração relógio 12 de novembro de 2021

“Brincar é a primeira festa que a vida nos oferece. Depois vem o sonho.” A importância da brincadeira não está registrada só na literatura, como na definição do escritor moçambicano Mia Couto. Brincar é um direito previsto em lei pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente): o artigo 16 ressalta a necessidade de “brincar, praticar esportes e divertir-se”. E mais: é também uma recomendação médica. A Sociedade Brasileira de Pediatria orienta que meninos e meninas devem ter acesso diário, no mínimo por uma hora, a oportunidades de brincar, aprender e conviver com a natureza, “para que possam se desenvolver com plena saúde física, mental, emocional e social”.

“A brincadeira é linguagem essencial expressiva de todo ser humano e é por meio dela que as crianças não somente imitam a vida ao seu redor, mas descobrem o mundo à sua volta, as pessoas, os espaços, os materiais e objetos. É uma das principais formas de desenvolverem a sociabilidade, experimentarem seus corpos, suas habilidades, serem desafiadas cognitiva, física, emocional e socialmente, desafiadas a aprenderem e superar suas possibilidades”, explica a antropóloga e pedagoga Adriana Friedmann.

Criadora do Mapa da Infância Brasileira e do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Simbolismo, Infância e Desenvolvimento, Adriana ressalta como as crianças foram afetadas durante o período da pandemia e o quanto as atividades lúdicas são fundamentais nesse aspecto. “Do que temos notícia até agora é que algumas crianças têm se mostrado com mais medo, não de brincar, mas de estar no coletivo. Muitas parecem sentir falta, no início, das telas e ou da mãe, pai e da sua casa – que constituíram refúgios seguros durante tanto tempo. Mas tantas outras crianças compreenderam do que se tratou o período de isolamento, com saudades de poder voltar ao espaço da escola e da alegria de voltar a estar com seus pares”, afirma. “Conviver coletivamente, de preferência junto à natureza, é essencial neste momento”, reforça.

O que a escola pode oferecer?

Ana Karine Czelusniak Chiquim, coordenadora pedagógica da Brink Mobil Equipamentos Educacionais, sempre levantou a bandeira do brincar ao ar livre, assim como a empresa de brinquedos escolares – que desenvolve seus materiais baseada nas habilidades e competências listadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

“Ensinar fora do ambiente de sala de aula é contemplar todos os campos de experiência para se trabalhar com uma criança. Vejo muitas escolas que já tratam o livre brincar como curricular, e isso é um ganho. Não há como pensar a infância sem pensar o ar livre”, diz Ana Karine.

A coordenadora explica que há competências fora da sala de aula que precisam ser sentidas na prática. “Você não vai tratar um relacionamento interpessoal usando apenas uma folha em cima da mesa, mas sim numa vivência na praça. Uma contação de histórias no gramado do parque fica marcada na memória afetiva. Não vejo maneira mais linda do que mostrar a passagem das estações levando as crianças para a rua, tirando fotos sempre em frente à mesma árvore”, exemplifica.


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Vivência ao ar livre na retomada das aulas também é questão de saúde


Neste momento de retorno às aulas, complementa Adriana Friedmann, será importante observar as potências que as crianças revelam brincando, para que os educadores possam trabalhar as dificuldades ou as eventuais faltas com mais cuidado.

A escuta e a observação por parte dos professores dará o norte para que compreendam em que momento se encontra cada aluno e assim, os professores poderão atuar a partir dessas realidades, analisa Adriana. “O que precisamos entender é como e do que as crianças estarão brincando, pois é através das brincadeiras que elas expressam suas vidas, suas emoções, seus medos, frustrações, desejos, habilidades e dificuldades”, diz a antropóloga.

Investimento em rede

A fim de intensificar as atividades e brincadeiras nos espaços externos de sua rede educacional, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Ecoporanga, município localizado a 308 quilômetros da capital Vitória, no Espírito Santo, renovou a área de lazer de 20 escolas. “Entendemos que brincar ao ar livre é muito importante. É uma maneira de aprender com qualidade”, diz a secretária de Educação, Flávia Amaral Ferraz.

Os parquinhos com estrutura de madeira plástica sustentável, com escorregador, escaladas de corda e balanço, foram instalados neste ano. “Retomamos as aulas gradativamente, a partir do momento em que os nossos mapas de risco foram diminuindo. Nossas crianças amaram a aquisição. Com a brincadeira nos parques, observamos o desenvolvimento motor e psicológico, além de incentivar as relações sociais desses meninos e meninas”, complementa Flávia.

Brincar ao ar livre nunca foi tão urgente, dizem especialistasCrédito: FatCamera/iStock

Atividades dirigidas e brincadeiras para o livre brincar

Quais atividades e brincadeiras são possíveis para aproveitar o espaço externo da escola? Confira a lista de sugestões de Adriana Friedmann

– Convidar os alunos a participar de processos de criação e inovação nas áreas abertas da escola tem grande possibilidade de garantir a adesão e o cuidado dos alunos com esses espaços. É importante pensar que precisam ser convidativos. Natureza, equipamentos, quadras, espaços para sentar  para se movimentar precisam ser priorizados.

– Fazer mutirões para embelezar e cuidar desses espaços abertos é uma oportunidade também de trabalhar no coletivo, na co-participação e cooperação. Assim, educadores podem descobrir habilidades dos que podem vir à tona nessas áreas.

– Criar outras dinâmicas para o ensino a partir da diversidade de experiências: rodas, tendas, apresentações teatrais, trabalhos com artes, música, dança.

– Remeter-se a situações de ensino ao ar livre como acontecia na antiguidade quando nem existiam escolas; trazer exemplos de formas de ensino/educação em comunidades indígenas, escolas da floresta, comunidades e territórios onde acontece educação não-formal. Visitas a esse tipo de espaço/proposta fora da escola podem ser organizadas para inspirar alunos e educadores.

– Aproveitar o contato com a natureza para aprendizagens de biologia, química, física, sustentabilidade, cuidado, alimentação. E se o espaço escolar for muito cimentado, aproveitar para incentivar o plantio de árvores, mudas, plantas, flores, criação de hortas etc.

– Aproveitar o espaço do refeitório – ou criar um ao ar livre – para aulas experimentais de culinária, onde inúmeras aprendizagens podem também acontecer.

– Explorar os espaços externos vivos. É muito saudável deixar os celulares e computadores do lado de dentro.

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brincadeiras, educação infantil, primeira infância

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