‘Com Projetos de Vida, alunos e professores se desenvolvem juntos’
Professora de Sobral (CE) conta como trabalha a construção de práticas e comportamentos saudáveis com alunos do ensino médio
por Kátia Alves de Sá 31 de agosto de 2020
Nas escolas profissionais do Ceará, a formação pessoal do aluno é parte da base curricular. Em 2019, eu lecionava sociologia na Escola Estadual de Ensino Profissional Monsenhor José Aloysio Pinto, na cidade de Sobral, e pedi para atuar também no componente de Projetos de Vida. Sentia um grande desejo de contribuir para que meus alunos conseguissem superar seus desafios e reconhecer seu potencial, e acreditava que minha bagagem de conhecimentos me permitia colaborar: sou formada em ciências sociais, já lecionei na área de filosofia e estou fazendo uma formação continuada em psicanálise. Assim, me apaixonei pela proposta das aulas de Projetos de Vida, que promovem autoestima, autoconhecimento e as mais diversas competências socioemocionais não só de forma teórica, mas também prática, com atividades lúdicas, reflexões e leituras.
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Atualmente, trabalho Projetos de Vida com nove turmas de todos os anos do ensino médio. No primeiro ano, o foco é autoconhecimento: o estudante desenvolve as competências de saúde emocional, física, intelectual e espiritual, sendo estimulado a reconhecer suas emoções e a refletir sobre temas que vão desde a importância do exercício físico até o modo como ocorre a aprendizagem. No segundo ano, a reflexão é sobre a relação do aluno com a sociedade, seja a família, os amigos ou a comunidade. E no terceiro ano, falamos das relações do campo profissional. Ou seja, primeiro o estudante desenvolve a relação com eu; depois, com o outro; e ao final, há a junção das duas coisas para que pense em qual papel quer desenvolver na sociedade e de que forma deseja contribuir.

Nas aulas de Projetos de Vida, alunos discutem como entender e respeitar as diferentes formações familiares
O termo Projetos de Vida leva muita gente a pensar que vamos projetar a vida dos alunos ou dar uma receita de bolo para que ele chegue ao sucesso. Não é assim que funciona. Nunca dizemos como o aluno deve agir ou qual profissão deve seguir. Ao contrário: promovemos atividades reflexivas que o levam a reconhecer sua identidade, suas dificuldades e suas possibilidades de ação de acordo com seus próprios desejos.
Na minha escola, o trabalho do segundo ano usa o conceito de “saúde” como referência à construção de práticas e comportamentos saudáveis. Trabalhamos quatro grandes temas, um por bimestre: saúde relacional, que busca desenvolver o respeito nas relações pessoais e sociais, incluindo relacionamentos amorosos e de amizade; saúde comunitária, que aborda iniciativa social e estar aberto ao novo; saúde ecológica, que reflete sobre a nossa relação com o meio ambiente; e saúde familiar, que engloba tanto as relações familiares dos alunos como as mudanças nas constituições familiares ao longo do tempo. Colocamos situações para que o aluno perceba que a realidade que ele vive é resultado de um processo que não envolve só sua vida, mas toda a história de um país e de um povo.
Cada aula tem um tema diferente, e as reflexões podem partir de textos, músicas, vídeos e atividades lúdicas. Em uma delas, por exemplo, pedimos que cada aluno desenhe sua família e apresente este desenho para a turma. A diversidade é enorme: alguns colocam a vizinha; outros, o cachorro e o gato; outros foram criados apenas pelo pai ou pela mãe; outros, pelos avós; outros têm pais ou mães homossexuais. Antes deste trabalho começar, é comum os alunos chegarem com o discurso de que gostariam de ter uma família “normal”. Mas ao se depararem com tantas constituições familiares, eles percebem que não existe apenas um diferente. Todos são diferentes, portanto o normal é o diferente – ou ser diferente é o normal. Quando os alunos se identificam na diversidade, passam a ter compreensão e empatia em relação à situação de todos. Eles passam a respeitar tanto o modo de vida de suas próprias famílias quanto o modo de vida das famílias dos colegas. Ou seja: passam a respeitar as constituições familiares de toda a comunidade. Muitos choram, se emocionam, pois é como se estivessem se olhando no espelho e se enxergando. Este processo promove a desconstrução de muitos preconceitos – geracionais, de gênero, de diferença de pensamento – e a construção de um respeito pela diversidade.
Aprendendo Sempre: Ferramentas e orientações para suas aulas remotas
Conduzo este tipo de vivência com muita delicadeza e ressaltando justamente o respeito: ninguém pode utilizar nenhuma palavra que deprecie a realidade de um colega ou a sua própria realidade. Discutimos muito sobre o papel cultural de todos os integrantes da família para que os alunos percebam que estes papéis são construídos e podem ser modificados, caso eles assim desejem. Se existe uma cultura machista na minha família e eu não desejo mais viver essa situação, posso mudar esse papel social a partir da minha prática, da mudança do meu pensamento e do meu comportamento. Mostramos que a cultura é uma construção humana, e que cabe ao aluno decidir se quer mudar ou manter. Mas ele só muda se consegue ver as possibilidades, oportunidades e alternativas de mudança que ele tem.
Durante as aulas de Projetos de Vida, os estudantes refletem muito sobre a importância do que é dito dentro de casa. Chegam relatos pesados, de falas muito violentas. Para o professor, também não é fácil ouvi-las. Nestes momentos, não posso querer ser mãe deles: o que posso fazer é ajudá-los a compreender o papel que têm na mudança dessa linguagem. Em uma das atividades, pedimos que os alunos reformulem uma frase ofensiva, preservando o sentido do que a pessoa queria dizer, mas construindo-a de forma mais gentil. Isto ajuda o aluno a perceber que ele tem o poder de mostrar, de forma compreensiva, o modo como gostaria de ser tratado, ajudando a construir um ambiente mais saudável. Muitos estudantes trazem relatos de como conseguiram produzir uma mudança para melhor. Eles me contam que estão sendo mais ouvidos, que pediram para serem tratados com mais carinho, que estão brigando menos e conseguindo falar com mais calma.
As aulas são gratificantes e a resposta dos alunos é muito boa. Mesmo os mais tímidos não se recusam a participar, até porque Projetos de Vida é um componente curricular como todos os outros. Não é um componente avaliativo ou classificatório, mas é valorizado da mesma forma: uma aula de Projetos de Vida tem tanto valor quanto uma aula de português ou matemática. Os alunos percebem isso, e fazem a atividade de forma consciente. Todos os participantes, tanto os professores quantos os alunos, têm consciência de que este é um trabalho de desenvolvimento pessoal.
Durante a pandemia, foi preciso reinventar o processo. Continuo dando aulas remotas uma vez por semana, e sigo trabalhando as temáticas da melhor forma que posso. Como não é possível reuni-los em grupo, envio questionamentos pelo Google Formulários e peço que cada um responda individualmente. Dou uma devolutiva pessoal, e depois utilizo as respostas de forma generalizada nas discussões durante as aulas remotas, das quais o alunos podem participar pelo chat ou falando ao microfone. Também envio roteiros de atividades que eles podem fazer com a família. Por exemplo, no terceiro ano, quando falamos sobre a importância da cooperação no trabalho, fazemos uma brincadeira em que todos colocam colheres na boca e têm de passar uma bolinha de papel para o outro sem deixar cair. Na pandemia, pedi que fizessem esta brincadeira com a família, e passei temas para discussão, como os papéis que as meninas e os meninos têm na casa, por exemplo. Vou me adaptando, mas continuo seguindo a mesma perspectiva que é a de levar o aluno a refletir. São eles quem fazem a aula. Eu oriento a reflexão, mas eles vêm com as respostas. E a partir das respostas, busco levá-los a perceber as coisas de outros ângulos.
Penso que os professores que não se identificam com este trabalho devem comunicar isto à gestão da escola. E aos professores que gostam de trabalhar com Projetos de Vida, recomendo muito que busquem fazer cursos relacionados à psicologia, psicanálise e psicoterapia. Busquem, em sua formação continuada, adquirir conhecimentos que vão ajudar a entender como se posicionar nas atividades. Este é o trabalho mais difícil: conduzir o processo de forma legítima e responsável. Nossa responsabilidade é muito grande, porque estamos tocando na alma dos alunos. É preciso ter cuidado com o que é dito e com o que não é dito também. Lidamos com emoções dos alunos que muitas vezes nos fragilizam também, e é importante ter estrutura para conduzir o processo e estudar muito o material. Se me deparo com um componente curricular que não é da minha área de formação inicial, preciso estudar aquele assunto, ter propriedade no meu conhecimento.
Eu me sinto muito feliz em trabalhar com Projetos de Vida. Cada aula me modifica de alguma forma, e me ajuda a desenvolver uma postura mais madura em todos os sentidos. À medida que os alunos vão amadurecendo emocionalmente e compreendendo a importância de uma vida saudável, também eu vou adquirindo essa consciência. Aprendi a escutar, a separar o meu papel de professora do meu papel de amiga, a ter paciência para deixar meu aluno desenvolver sua autonomia a partir do que ele deseja. E percebi que também eu posso desenvolver minha autonomia de acordo com o que desejo para minha vida. No componente de Projetos de Vida, a gente pratica junto, se desenvolve junto, eu me coloco como parte do processo. É uma relação de confiança e respeito, na qual não existe autoritarismo. O professor se sente aprendendo, se sente parte do desenvolvimento. Ele não teve essa experiência como aluno, mas, agora, tem a oportunidade de vivê-la como professor-aluno.
Projete-se: o podcast sobre projetos de vida na escola
Listen to “Projete-se | Projetos de vida na escola” on Spreaker.

Kátia Alves de Sá
É formada em Ciências Sociais e professora de sociologia e Projetos de Vida na Escola Estadual de Ensino Profissional Monsenhor José Aloysio Pinto, em Sobral (CE)
Parabéns, acredito que as novas tendências na educação quanto ao ensino médio será desafiador, porém, um sucesso ao longo prazo.
Curso interessante
Trabalho com a disciplina desde 2014 e tenho a plena consciência da mudança que ela traz, não só na vida dos estudantes, mas também na dos professores.
O Novo Ensino Médio fará que os alunos deixem de ser apenas ouvintes. PARABÉNS !
Muito bom trabalho, espero que os professores tenham as condições necessárias para trabalharem dessa forma.
Trabalho desafiador mas que com certeza ajudará muito nossos estudantes a se auto conhecerem. Gostei muito dos depoimentos.
O Projeto de Vida é maravilho tanto na vida do professor quanto do alunos, pois ambos aprendem juntos.
O projeto de vida contribui muito para a formação social dos alunos.
Rica experiência! Obrigada por compartilhar!
Muito bom o conteudo nos audios.acrescentou muito no meu desenvolvimento profissional.
Para mim é bem desafiador e ao mesmo tempo fascinante lidar com projeto de vida.
Parabéns, acredito que as novas tendências na educação quanto ao ensino médio será desafiador, porém, um sucesso ao longo prazo.
Trabalho desafiador, pois comecei a trabalhar Projeto de Vida juntocom a pandemia, foi muito difícil pois são temas que requer muita interação, mas que com certeza o que foi abordado ajudará muito nossos estudantes a se auto conhecerem. Gostei muito dos depoimentos.
Importante a disciplina Projeto de Vida, pois devemos inserir a mesma , despertando o incentivo e motivando o aluno para enfrentar os desafios do cotidiano,bem como trabalhar com temas atuais, como: as escolhas para o primeiro emprego, jovens empreendedores entre outros.
Parabéns pelo conteúdo foi muito esclarecedor. Amo trabalhar com Projeto de Vida.
Muito bom trabalho espera-se que os professores tenham as condições necessárias para trabalharem dessa forma.
A disciplina Projetos de Vida chegou para estabelecer um vínculo entre teoria e prática, aprendizagem e vivências…dar um sentido ao ” aprendizado escolar”, onde aluno e professor não apenas aprendem juntos, mas também, constroem uma educação libertadora, onde o educando possa ter reais possibilidades de expressar seu pensamentos, sentimentos, emoções e com isso, através destas vivências, conhecer melhor a si próprio e a sociedade em que vive, ampliando sua visão no âmbito de sua profissão.
A diiversidade de ideias é enorme as aulas são gratificantes e a resposta dos alunos é muito boa se tornam mais conscientes e compreensivos.
curso bastante interessante, pois contribui para o aprendizados dos alunos
Parabéns, muito bom trabalho! O novo ensino médio e as novas tendências na educação terá muitos desafios, porém, formará cidadãos mais críticos.
O PV contribui com a formação integral do educando, proporcionando autoconhecimento, o reconhecimento da identidade e a possibilidade de intervenção social consciente e responsável
O Projeto de Vida é um tema desafiador para os nossos alunos. Pertinente para uma formação mais esclarecedora na construção de uma sociedade mais consciente.
Projeto e vida da uma visão de mundo aos alunos .
Parabéns, muito interessante essa troca de ideias.
Muito importante este apoio, como, o de escutar até o perguntar se está bem o dar suporte caso não tiver é precisar conversar…
Bom ouvir os relatos e chama atenção o papel do professor mediadores marcou a história de muitos estudantes..
Adorando o cursi
Parabéns! Defumador…e importante para o jovem adolescente… Interessantes e emocionantes depoimentos.
Colégio Estadual Catuípe R.S
Projeto de vida é um aprendizado que começa com a família, pais ou responsáveis estimulando a criança, adolescente ou jovem a perceber as habilidades naturais que o indivíduo traz consigo, na escola esse dom é direcionado no contexto científico ( área do saber) e aperfeiçoado no decorrer dos estudos no ensino básico. Precisamos aprender essa nova fase…de como mediar esse saber e orientar nossos alunos a perceber o dom que cada ser humano tem.
Estou gostando do curso, espero que nos traga uma base sólida para trabalharmos com nossos alunos!
Promove o autocuidado, mostra que o aluno pode seguir um caminho melhor.
Aluno Protagonista. Novas tendências. Muitas mudanças com o Novo Ensino Médio na educação.
É de grande importância o curso.
Mesmo se tratando de temas pertinentes ao nosso cotidiano,será sem dúvida um desafio a curto prazo,porém acredito que em longo prazo ,fará muita diferença na vida de todos.
Gostei muito!
Ótimas informações!
ótimo testemunho da professora! Concordo quando ele enfatiza o perfil do professor:sensível, comprometido, ético, responsável e que tenha conexão boa com os estudantes.
Trabalho com a disciplina desde quando era Seminário Integrado. A gente cresce, aprende, ensina e compartilha com os alunos vivências, histórias e momentos. Muito gratificante.
Essa roupagem do Novo Ensino Médio traz muitos desafios para o professor e aluno em busca de um só objetivo, a aprendizagem integral e efetiva do aluno.
Boa tarde, fazer com que o jovem fale de seus sentimentos nos mostra o quanto eles são corajosos em um mundo nem sempre acessível a suas necessidades.
Esperamos que o NEM traga protagonismo e autonomia, co-responsabilidade e ainda mais dinamicidade à aprendizagem..
Muito bom, o conteúdo!
O projeto de vida propicia aos alunos um espaço para diálogo, de escuta e reflexão muito importante.
Muito bom! Agradeço a oportunidade de aprimorar meus conhecimentos e de poder ouvir a história dos colegas é sempre enriquecedor.
Considero muito difícil a aplicação disso na prática com as condições atuais da escola. Isso é um grande desafio, mas muito grande mesmo, para o educador.
Acredito nas novas tendências na educação
Projeto de Vida contribui com a formação do educando. Muito interessante.
Curso interessante
O componente curricular Projeto de Vida, no primeiro momento assustou, pois, algo novo desafiador. Mas, com todo o subsídio e preparação para trabalhar o componente curricular, aos poucos foi se identificado a importância do componente curricular. E trilhando caminhos para ser trabalhado.
Muito interessante o texto. Novos conhecimentos sempre são necessários!