Como saber se os alunos estão aprendendo um novo idioma?
O papel da avaliação educacional ganhou novos contornos diante de um contexto sem precedentes, reforçando a importância do uso de instrumentos cada vez mais alinhados à realidade dos estudantes
por Lidiane Ferreira 22 de março de 2022
Muitos professores de português, inglês, espanhol e tantas outras línguas se depararam com o desafio de avaliar seus alunos durante a pandemia sem necessariamente aplicar uma prova formal.
Devido aos vários períodos de isolamento impostos nos últimos dois anos, essas dinâmicas de averiguação do conhecimento extrapolaram as folhas com perguntas respondidas à caneta azul ou preta, abrindo mais espaço para as avaliações formativas.
O papel da avaliação educacional ganhou novos contornos diante de um contexto sem precedentes, reforçando a importância do uso de instrumentos cada vez mais alinhados à realidade dos estudantes.
Testes e provas tradicionais deram lugar a processos que, por princípio, acontecem de maneira orgânica dentro da sala de aula. Ao contrário dos instrumentos de avaliação formal, a avaliação formativa ocorre sempre que os educadores coletam informações dos estudantes sobre determinados conhecimentos que estão aprendendo.
“Durante a pandemia, vimos um movimento muito grande de professores percebendo a importância da avaliação formativa”, explica a pesquisadora Gladys de Camargo, vice-diretora do Instituto de Letras da UnB (Universidade de Brasília).
Para Cristiane Corsetti, Head of Educational Measurement do Edify, da mesma forma que os currículos de competências e habilidades mudaram, principalmente com a entrada da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), os processos de ensino, aprendizagem e avaliação também precisam acompanhar essas mudanças.
“Sempre que possível, é importante proporcionarmos tarefas avaliativas que ofereçam escolha, deem voz aos nossos alunos e que reflitam interações autênticas e relevantes”, completa.
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Ainda segundo Cristiane, os instrumentos de avaliação formativa podem ter formatos diferentes – como jogos, apresentações, exercícios em grupo – mas precisam estar alinhados aos objetivos de aprendizagem, às práticas de sala de aula e serem adequados ao contexto educacional.
Para a professora Gladys, que é também especialista em avaliação no ensino de línguas estrangeiras, a aplicação de provas e testes ainda é oportuna para se verificar o grau de conhecimento dos alunos em relação à língua aprendida com as demais disciplinas. Afinal as escolas estão inseridas em um sistema de ensino, mas o leque de opções dos professores possibilita novas formas de averiguação da aprendizagem com um maior nível de engajamento dos estudantes – até mesmo utilizando ferramentas somativas de maneira formativa.
“É fundamental que se saiba trabalhar com os instrumentos de avaliação para que seu uso também contribua para a aprendizagem. A escolha [do educador] vai depender do que se está trabalhando em sala de aula, da idade dos estudantes e das condições contextuais”, explica Gladys.
De acordo com Cristiane Corsetti, esse tipo de avaliação consegue captar os pontos fortes dos alunos e também possibilita o aperfeiçoamento de aspectos específicos que não seriam identificados em uma prova no formato tradicional.
“No Edify, apoiamos nossos professores na elaboração de suas avaliações. Disponibilizamos um banco de questões com insumos, alinhados com as atividades presentes em nossos materiais e com nossos projetos pedagógicos”, explica. Segundo ela, é muito importante que os alunos aprendam a refletir sobre suas próprias estratégias de aprendizado e como podem modificá-las, para evoluir de acordo com as suas próprias necessidades.
Letramento em avaliação
A coordenadora pedagógica Gladys explica que educadores em serviço são também professores que estão em formação, e por isso a importância do conceito de letramento em avaliação.
De forma geral, podemos dividir o letramento entre conhecimentos técnicos e conhecimentos contextuais. Os técnicos são, por exemplo, saber como elaborar um instrumento ou uma tarefa para verificar o progresso do aluno, saber como, quando e porquê dar uma boa devolutiva (feedback). Já os contextuais são justamente os referentes ao cenário no qual se insere os estudantes, a escola, as relações. Assim, o termo letramento vai além da habilidade de leitura e escrita, é o uso efetivo dessas habilidades para se compreender os contextos.
“Todos nós precisamos de um certo nível de letramento em avaliação. É um conceito muito importante, porque é através do conhecimento mais aprofundado sobre tudo o que se relaciona à avaliação e suas consequências sociais que nós podemos dar mais suporte para a aprendizagem do aluno”, explica Gladys de Camargo. “E no contexto bilíngue o cuidado com avaliação tem de ser redobrado, pois envolve conteúdo e língua, com os dois conhecimentos caminhando juntos”, explica.
“Atualmente, estamos desenvolvendo um projeto de letramento em avaliação de línguas para professores e mentores que irá focar especificamente em avaliação através de portfólios, oralidade, avaliação formativa e feedback”, completa Cristiane Corsetti, do Edify. “Ao darmos feedback de forma personalizada, conseguimos descrever pontos onde nossos alunos se destacam e sugerir ações para o aprimoramento de áreas específicas”, finaliza.