Conferência enlightED apresenta propostas para melhoria da educação a partir da integração com a tecnologia
Evento trouxe importantes contribuições para debates sobre o desenvolvimento de competências digitais
por Danilo Mekari 23 de novembro de 2022
Educação, tecnologia e inovação. A conexão entre esses três temas guiou os debates realizados durante o enlightED, conferência global que reuniu especialistas para refletir sobre os desafios da aprendizagem na era digital, durante os dias 16 e 17 de novembro,
Realizado simultaneamente em nove países – Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Peru, Uruguai e Venezuela –, o evento trouxe importantes contribuições ao debate sobre o desenvolvimento de competências digitais, a qualidade do ensino na escola pública e o papel da inclusão digital na construção de novos horizontes para as juventudes.
Sob o tema “Inovação que Conecta. Educação que Transforma”, a segunda edição brasileira do enlightED foi realizada no Teatro Vivo, em São Paulo (SP). A íntegra dos debates, apresentações especiais e casos educacionais inspiradores apresentados na conferência estão disponíveis no YouTube da Fundação Telefônica Vivo.
Reunimos a seguir alguns tópicos com as principais reflexões realizadas durante o enlightED 2022. Confira!
Educação: valor social impositivo
Responsável pela abertura do evento, o reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, afirmou que falta à sociedade brasileira estabelecer a educação como um valor social impositivo.
“Não conseguimos constituir o professor como um ator social importante. Temos dificuldade de encontrar jovens que tenham satisfação em ser futuros professores. Nossos ambientes de formação de professores continuam vazios. As políticas públicas também desconsideram essas dimensões. Não temos professores para repor os que estão saindo, para atender as demandas do nosso país. Sem envolver as juventudes com essa questão, não vamos conseguir sair dessa situação.”
Equalização de territórios de aprendizagem
O reitor ainda aprofunda a reflexão: “Além do desvalor do agente principal, o professor, há também desvalorização do processo de conhecimento. Somos uma das sociedades que menos lê, não damos toda a atenção que a leitura deve ter na nossa rotina, na nossa casa.”
Estamos com um problema sério para resolver. Nossos jovens estão indo embora das escolas, e os poucos que querem ficar não têm condições de se manter nelas
O menor volume de inscrições no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) dos últimos 17 anos também foi alvo de críticas. “Estamos com um problema sério para resolver. Nossos jovens estão indo embora das escolas, e os poucos que querem ficar não têm condições de se manter nelas.” Para resolver essa questão, ele propõe uma equalização dos territórios de aprendizagem “para que jovens de diferentes realidades sociais possam competir no mercado de trabalho em posição de igualdade.”
Tecnologia e a mentoria invertida
Cofundador da Joy Education, Luciano Meira deu sua opinião sobre como os próprios alunos podem apoiar os professores a utilizar a tecnologia em seus métodos de ensino.
“A mentoria reversa dá certo. Você pode ter estudantes com largo conhecimento no uso de algumas ferramentas, como Spotify, e utilizar playlists (listas de reprodução) para uma aula de história, por exemplo. Os estudantes podem ensinar os professores a usar determinadas tecnologias em suas aulas.”
E complementa: “Outro exemplo que tenho visto são pequenos grupos de WhatsApp com cinco ou seis professores que trocam práticas didáticas de sucesso através de vídeos curtos. Dá para fazer dentro da própria escola ou entre escolas vizinhas. Tem poder enorme dentro da rede, na formação de comunidades e para tornar visível práticas inovadoras”.
Estudante: de consumir a produtor de tecnologia
Lilian Bacich, diretora da Tríade Educacional, reforça a necessidade de os docentes utilizarem mais a linguagem digital. “Quando o aluno começa a ter domínio do digital, ele passa a analisar melhor as coisas que assiste, as informações que consome. Esse aluno muda de papel – de consumidor para produtor. Isso a gente vê muito no trabalho com o STEAM, no qual vamos conseguindo mover esse aluno para que ele equilibre melhor os momentos de consumir e produzir tecnologia.”
Professor: maturidade tecnológica
O secretário de educação do Recife (PE), Frederico Amancio, detalhou como o diagnóstico de conectividade e competências digitais foi realizado pela rede municipal. “Foi algo inovador para nos mostrar a maturidade tecnológica dos professores”, apontou. “A pandemia nos fez ver que as relações humanas jamais serão substituídas, mas aprendemos que a tecnologia pode ser um grande apoio ao processo educacional. E os professores são os personagens mais importantes desse processo.”
Doug Alvoroçado: Tecnologia a favor da inclusão
Falando em professores que causam impacto nas suas escolas e comunidades, Doug Alvoroçado – um dos dez educadores homenageados na exposição “Encontro com o Porvir” – também marcou presença na conferência.
“Sempre tive afinidade com a temática da tecnologia. E o que mais me aproximou dela, enquanto professor, foram as causas da inclusão, trabalhando com alunos surdos e cegos. No meu primeiro dia numa sala de aula da rede estadual, me deparei com uma aluna cega e percebi que nada do meu planejamento ia dar certo com ela. Foi quando comecei a usar tecnologias digitais para fazer a ponte entre o conteúdo que eu queria passar e os alunos de inclusão. Depois isso se tornou um processo natural, as tecnologias me ajudaram e seguem me ajudando.”
Codiretora executiva do Olabi e coordenadora da PretaLab, Silvana Bahia definiu a tecnologia como algo muito além de apenas uma ferramenta. “Ela é a própria política do século 21.”
Não é só sobre fazer código ou saber programar, é sobre como se pensar também. Como estimulamos um pensamento crítico acerca de tudo isso?
“Não é só sobre fazer código ou saber programar, é sobre como se pensar também. Como estimulamos um pensamento crítico acerca de tudo isso? Em geral, a tecnologia é vista como um elemento que vai melhorar as nossas vidas, mas tem um potencial muito grande de aumentar ainda mais as desigualdades”, alertou Silvana.
Ciclos de aprendizagem curtos
Responsável pelo encerramento, Lucia Dellagnelo, diretora-presidente do CIEB (Centro de Inovação para Educação Brasileira), defendeu que o desenvolvimento de\ competências digitais é essencial para que as pessoas deem conta de processos múltiplos, tanto na sociedade como em suas vidas.
“A vida costumava ser bem mais simples. Os jovens de hoje, porém, não encontram mais esse mundo. Não faz mais sentido fazer universidade durante pelo menos quatro anos – grande parte do que você aprendeu estará obsoleto quando sair. Os ciclos de aprendizagem e desenvolvimento deverão ser mais curtos, e, como aprendizes, as pessoas precisarão buscar quem será o fornecedor de sua credencial.”