Conheça projetos de escolas públicas vencedoras do 6° Prêmio Territórios Tomie Ohtake - PORVIR
Crédito: Facebook da Escola Municipal Armando de Arruda Pereira

Inovações em Educação

Conheça projetos de escolas públicas vencedoras do 6° Prêmio Territórios Tomie Ohtake

Dirigido às redes de escolas públicas municipais, estaduais e federais, a premiação anuncia as dez iniciativas pedagógicas selecionadas

por Redação ilustração relógio 23 de setembro de 2022

O 6º Prêmio Territórios Tomie Ohtake, idealizado e coordenado pelo Instituto Tomie Ohtake, anunciou as 10 iniciativas pedagógicas selecionadas em sua segunda edição nacional. Em diferentes níveis, elas trazem a valorização dos saberes locais para a aprendizagem, o encontro entre estudantes e o território e a adoção de políticas de educação integral e democrática.

Nesta edição, foram inscritas 112 iniciativas pedagógicas de 19 estados brasileiros. As propostas foram avaliadas por um júri composto por especialistas nos campos da educação, do social, da arte e da cultura, incluindo representantes das instituições organizadoras: Beatriz Goulart, Carol Tonetti, Gina Vieira, Natame Diniz, Paula Mendonça e Raiana Ribeiro. 

As escolas premiadas vão receber um pequeno acervo para suas bibliotecas com livros diversos doados por editoras parceiras e catálogos de arte das exposições do Instituto Tomie Ohtake; uma bolsa de estudos para um curso de graduação oferecida pela Estácio (que poderá ser utilizada por um estudante ou professor); uma bolsa para curso de arte do programa de Cursos Instituto Tomie Ohtake para dois representantes do projeto; participação em encontros técnicos com representantes dos 10 projetos selecionados; apoio financeiro de R$ 5 mil para a continuidade do projeto e um minidocumentário que apresentará um resumo dos processos e resultados das iniciativas, a ser veiculado nos canais de comunicação do Instituto Tomie Ohtake, patrocinadores e parceiros.

Conheça os ganhadores:

Escola Estadual Dr. Jorge Lacerda, Joinville (SC)

A partir de uma conversa sobre o currículo escolar e os materiais didáticos, que ainda apresentam uma narrativa histórica eurocêntrica, branca, masculina e heteronormativa, a comunidade escolar chegou à pergunta norteadora: onde estão as mulheres pretas na história? Assim surgiu o projeto que culminou na exposição Pretas Empoderadas. Estudantes e professores pesquisaram histórias de mulheres de origens brasileira, africana e haitiana.

Escola Municipal João Apolônio dos Santos Pádua, Paraty (RJ)

A cartilha “Seu Joaci e o tempo”, desenvolvida em parceria com o marinheiro, caiçara e barqueiro Joaci Reis, responsável pelo transporte de estudantes, é o resultado da pesquisa de etnometeorologia – a previsão do tempo popular – sob o ponto de vista do pescador ou marinheiro nativo da zona costeira de Paraty. 

Ilustração da Cartilha Seu Joaci e o Tempo com o desenho do pescador
Crédito: Reprodução Ilustração da Cartilha “Seu Joaci e o Tempo” / Crédito: Reprodução

Os conhecimentos da rosa dos ventos, estudo das marés, direção e intensidade dos ventos, formação de ondas e leitura do tempo são parte do cotidiano da comunidade costeira, e os marinheiros que conduzem o transporte marítimo são fundamentais para que as aulas ocorram, porque as crianças moram em ilhas, enseadas, praias, encostas costeiras e pontas. Nesse encontro diário, a observação de como o experiente marinheiro conversa com o tempo e a criação de “retratos falados” dos tipos de nuvens tornaram possível a proteção da memória do povo caiçara. 

Centro Educa Mais Professor Ribamar Torres, Pastos Bons (MA)

Para engajar alunos em atividades práticas a partir de temas transversais contemporâneos que contemplassem os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), relacionando meio ambiente e saúde com a vivência e experiência de cada um, o Centro Educa Mais Professor Ribamar Torres desenvolveu a disciplina eletiva Olhos nos olhos. Partindo de aulas de campo para mapear e identificar as nascentes na cidade, foram feitos georreferenciamento no celular, mapas interativos, mutirão de limpeza das nascentes, entre outras atividades. 

Crédito: Divulgação

Para a culminância da eletiva, foi produzida uma sala temática com apresentações dos alunos sobre as nascentes visitadas, exposição de fotos e de plantas catalogadas. Após estudantes manifestarem desejo de continuidade das aulas de campo com as plantas do cerrado, foram elaborados roteiros para produção de vídeos disponibilizados no TikTok @cienvivencia. Com a participação de professores, raizeiros, benzedeiros e artesãos da comunidade, foram realizadas oficinas sobre etnobotânica e artesanato, além de aulas sobre etnomatemática e PANCs (sigla para plantas alimentícias não convencionais), com coleta de frutos nativos para a produção artesanal de alimentos na escola com as merendeiras, e também na casa de estudantes e de professores. 

A investigação do território e dos saberes da comunidade promovida pela disciplina eletiva possibilitou o debate de importantes temas associados ao currículo, como racismo ambiental, diversidade socioambiental e biocultural, saber ancestral e sustentabilidade, ecologia e modos de vida, alfabetização em futuros, identidade e territórios, memória e resistência.

@cienvivencia

O Cerrado Brasileiro É conhecido como berço das águas !É um dos biomas mais ameaçados .Curatella americanaCOnheça a lixeira!!!#CIENVIVÊNCIA

♬ som original – CIENVIVENCIA

Escola Municipal Armando de Arruda Pereira, São Paulo (SP)

O Projeto Motoca na Praça surgiu da necessidade de ativar experiências das crianças com e na cidade, utilizando as saídas com as motocas como um disparador. 

As saídas acontecem semanalmente e são acompanhadas por rodas de conversas com as crianças antes e depois dos passeios, interações com transeuntes, visitas a equipamentos culturais e registro das vivências por meio de desenho e fotografia. 

Ao propiciar experiências lúdicas com as motocas para além do chão da escola, o projeto destaca o território como espaço de aprendizagem e de experiência para as crianças, além de contribuir para a visibilidade da infância na cidade – especificamente na região central de São Paulo – e fortalecer as relações com o território por meio de parcerias com vizinhos, serviços, instituições e equipamentos culturais e sociais da região. 

Diferentemente de um passeio escolar tradicional, que ocorre de modo eventual, as saídas de motoca compõem vivências cotidianas das crianças, assim como ir ao parque, tomar lanche ou ir à brinquedoteca, demandando sensibilidade de educadores para reconhecer os ritmos urbanos e seu uso com as crianças. Registros das saídas podem ser vistos no Instagram @projetomotocanapraca.

Escola Municipal Professor Waldir Garcia, Manaus (AM)

A escola está localizada em uma área que sofre as consequências do tráfico de drogas, enchentes e incêndios, atendendo uma comunidade de alta vulnerabilidade social. Diante desse cenário, a equipe gestora realizou mudanças organizacionais que pudessem melhorar a educação e transformar vidas. Como mecanismo de gestão, adotou-se a intersetorialidade, constituindo o caminho para integração das ações, saberes e esforços da escola com os diferentes setores da política pública. 

A partir de encontros com mães, pais e funcionários, decidiu-se focar na concepção de educação integral e no tempo integral para os estudantes. Por meio de assembleias semanais para as tomadas de decisões e grupos de trabalho com a participação de pais, merendeiras e demais funcionários, todos foram corresponsabilizados pela aprendizagem, criando uma escola articulada com a comunidade e a sociedade. 

No decorrer dos encontros e estudos coletivos, a escola começou a reescrever seu PPP (Projeto Político-Pedagógico) e a elaborar uma nova proposta pedagógica, constituindo-se um laboratório vivo onde a teoria é colocada em prática conforme vão se desenvolvendo os estudos e os debates.

Núcleo de Educação Infantil Taquaras, Balneário Camboriú (SC)

Articulado com o território de vida das crianças que atende, o Núcleo dá visibilidade aos saberes e fazeres que já desapareceram ou estão em risco de desaparecimento, como o trabalho dos pescadores artesanais, os pássaros quero-queros que habitam o espaço, a música da folia do terno de reis e tantas outras práticas que circulam pela comunidade e atravessam os muros da escola. 

Crianças desenham durante atividade pedagógica / Crédito: Núcleo de Educação Infantil Taquaras

No projeto iniciado em 2021, o interesse pela produção artesanal de farinha de mandioca surgiu das próprias crianças, animadas pelas histórias de um colega, integrante de uma família que mantém um engenho em funcionamento há mais de cem anos. 

Além de pesquisas e mapeamento das trajetórias de vida das crianças, foi utilizado o jogo “Na trilha do engenho da mandioca”, aliando a brincadeira às conversas sobre cada etapa do processo. Um cartaz-memorial usou fotos e informações retiradas do livro “Rodar do Engenho”, que aborda as pessoas que ainda resistem no trabalho agrícola na comunidade produzindo farinha de mandioca de maneira artesanal. Por meio da escuta ativa, que identificou o interesse das crianças, foi possível dar visibilidade a uma manifestação cultural centenária e fortalecer o sentimento de pertencimento e de valorização da cultura.

Escola Municipal Quilombola Professora Lydia Sherman, Armação dos Búzios (RJ)

A escola está inserida em uma região de remanescentes quilombolas. Em diálogo com esse contexto, o projeto e as propostas de atividades buscam sempre uma abordagem interdisciplinar, que vem sendo desenvolvida de forma a promover cada vez mais a pluralidade cultural, permitindo a preservação e a valorização da cultura quilombola. 

Crédito: Divulgação

No ano letivo de 2022, a escola teve como principal objetivo o resgate da cultura dos alunos e a aproximação das famílias, com aprendizagens trabalhadas por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as contações de histórias, a capoeira, brincadeiras cooperativas e atividades de arte e reciclagem, contribuindo com o desenvolvimento da coordenação motora e a ampliação de vocabulário e repertório histórico provenientes da comunidade. 

Dentre as ações desenvolvidas, destacam-se o Dia Municipal Quilombola; o Sábado da Família; a apresentação de maculelê pelos alunos em comemoração aos 134 anos da abolição da escravatura; a regulamentação do nome oficial da sala de leitura, no qual a homenageada é uma ex-aluna pertencente à comunidade, quilombola e funcionária da escola; e a publicação da lei de mudança do nome da escola para Escola Municipal Quilombola.

Centro Integrado de Educação de Jovens e Adultos Clóvis Caitano Miquelazzo, São Paulo (SP)

No início de ano de 2021, o CIEJA Clóvis Caitano Miquelazzo realizou uma pesquisa que apontou que 48% dos estudantes estavam desempregados, 51% dependiam do auxílio emergencial e, daqueles que estavam trabalhando, cerca de 50% tinham carteira assinada, muitas vezes em postos precarizados. 

Crédito: Divulgação

Diante dessa situação, a gestão escolar notou que questões referentes ao mundo do trabalho necessitavam urgentemente de reflexão. A isso se somava a dificuldade do uso de tecnologias, visto que, no período que antecedeu o projeto, muitas ações educativas realizadas exclusivamente em plataformas tecnológicas falharam. Foi traçado um percurso formativo, por meio do método de projetos, para que os estudantes pudessem se apropriar dos conceitos de economia criativa, cooperativismo, sindicalismo, direitos trabalhistas, ferramentas tecnológicas e outros. 

A iniciativa culminou na “Semana de trabalho e tecnologia: na trilha da solidariedade”, com ações que oferecem caminhos para que os estudantes vençam a vulnerabilidade. Como não havia recursos para contratação de formadores além dos professores, a escola mapeou as habilidades das pessoas da comunidade para a realização de oficinas, oficinas e palestras, de forma remota e presencial, para que os estudantes pudessem conseguir fontes de renda e de acesso ao mercado de trabalho.

Colégio Estadual Maria do Carmo Lima, Águas Lindas de Goiás (GO)

Em janeiro de 2022, o colégio criou o Cine EducAlimentação como forma de enfrentamento à insegurança alimentar que muitos dos estudantes vivem e que se agravou durante a pandemia. O cineclube veio como ferramenta para abordar assuntos mais complexos, como as políticas públicas para alimentação, com o objetivo de incentivar a juventude a conhecer as estratégias para a construção de uma sociedade sem fome. 

Crédito: Divulgação

Uma vez por mês, em turmas do ensino fundamental 2, é realizada uma sessão de cinema seguida de debate com convidados e disponibilização de lanche saudável oferecido por parceiros locais. Nos debates, as pautas são a pandemia e a fome, agricultura familiar, trabalho e comida, a relação entre campo e cidade, trabalhadores feirantes, o PNAE (Plano Nacional de Alimentação Escolar) etc. 

As estratégias para a realização do projeto se baseiam em parcerias, construções coletivas, escuta ativa da comunidade escolar, engajamento de estudantes, divulgação e merenda escolar de qualidade alinhada ao debate interdisciplinar, apresentando as políticas do estado e suas responsabilidades sobre o assunto.

Escola Rural Municipal Cândida Oliveira Luz, Porto Barreiro (PR) 

Situada no meio rural, em um acampamento com 24 anos de história onde vivem e trabalham cerca de 140 famílias, a escola atualmente conta com 35 estudantes matriculados e funciona de forma multisseriada. 

Crédito: Divulgação

O projeto pedagógico envolve toda comunidade em um trabalho de investigação da fauna e dos saberes locais, utilizando passeios, pesquisas de campo e fotos antigas. A multidisciplinaridade e a integração da comunidade também estão presentes, aliando o conhecimento às práticas do dia a dia por entender que trabalho na agricultura é fundamental para alimentar não apenas a comunidade, mas também outros territórios. 

A escola desenvolve um projeto de educação que tem como objetivos não somente aprimorar a formação dos estudantes e melhorar seus conhecimentos, mas também alimentar esperanças e sonhos por meio do fortalecimento dos laços com os alunos, pais e comunidade escolar como um todo, reconhecendo e valorizando os saberes locais.


Integrado à campanha #ReviravoltaDaEscola, iniciativa do Centro de Referências em Educação Integral, a 6ª edição do Prêmio Territórios Tomie Ohtake mapeia e discute aprendizagens vividas desde o início da pandemia, em 2020, com foco no entendimento dos caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o nosso tempo. Para conhecer as experiências contempladas por esta e outras edições, acesse o site do Prêmio Territórios Tomie Ohtake.


TAGS

aprendizagem baseada em projetos, ensino fundamental, socioemocionais, uso do território

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