Coursera estreita laços com Brasil
Em passagem rápida pelo país, Daphne Koller, cofundadora da plataforma, desenha parcerias com instituições brasileiras
por Patrícia Gomes 10 de abril de 2014
Foi uma visita relâmpago, mas intensa. Em um dia e meio no Brasil, num pitstop entre Inglaterra e EUA, a cofundadora do Coursera, Daphne Koller, costurou parcerias para aumentar a penetração de sua plataforma de Moocs entre estudantes brasileiros. A primeira delas é um acordo com a Fundação Lemann para a tradução das legendas dos cursos preferidos dos brasileiros para o português. Mas os amantes dos Moocs no Brasil – e sim, há muitos – podem esperar: vem mais por aí. “Queremos firmar parcerias para aumentar o acesso de estudantes brasileiros no Coursera”, afirmou a professora, que, ao lançar a plataforma há dois anos, se tornou um dos nomes fortes do movimento internacional dos Moocs pelo mundo.
Com 250 mil estudantes na plataforma, o Brasil é um dos países com o maior número de matrículas e está também entre os que mais crescem. E com as legendas em português, a tendência é que esse contingente aumente ainda mais. Os seis primeiros cursos traduzidos já foram definidos (veja a lista completa no fim do texto). “Como grandes usuários da plataforma, os brasileiros estão presentes em todos os tipos de curso, especialmente os de negócios, empreendedorismo, tecnologia da informação e humanidades”, disse Koller ao Porvir.
Por enquanto, a tradução ficará apenas nas legendas e não inclui adaptação de slides e da lista de leitura obrigatória, exercícios e avaliações – o que tornaria o processo muito mais custoso, pontuou Koller. Para fazer o curso, o interessado deve entrar no próprio site do Coursera e se inscrever normalmente (veja passo a passo como se inscrever).No entanto, a literatura requerida abre a possibilidade de instituições brasileiras sugerirem materiais de qualidade em português para que a lista de leitura obrigatória tenha opção para não falantes da língua inglesa. “O Brasil tem instituições de altíssima qualidade que poderiam fazer esse tipo de serviço”, sugeriu Denis Mizne, CEO da Fundação Lemann.
Koller ainda não fala sobre se ou quais universidades brasileiras poderão participar da plataforma, como já fazem mais de 100 ao redor do mundo. Mas ela diz que muitas parcerias são possíveis e cita o exemplo do portal chinês Coursera Zone, feito com a empresa chinesa de internet NetEase para ajudar a romper a barreira linguística dos estudantes chineses. O ambiente virtual traz fóruns de discussão, depoimentos, além de sinopses de cursos e orientações sobre a plataforma em chinês.
Além da barreira linguística, que o Coursera tem tentado romper com parcerias locais, outro grande desafio que enfrenta é o acesso à internet em regiões menos favorecidas do planeta. “Não somos nós que vamos resolver sozinhos essa questão de infraestrutura, mas já há iniciativas que trabalham com isso. Na Índia, existe um projeto que vai prover internet banda larga no país de forma que todas as vilas fiquem a uma distância razoável de um lugar que tenha acesso à internet”, citou a especialista.
Enquanto iniciativas como essa não acontecem de maneira consistente em todas as regiões do mundo, o Coursera iniciou um projeto de hubs presenciais. A plataforma faz parcerias com organizações locais de áreas em que pessoas tenham dificuldade de ter acesso à internet. Esses espaços combinam horários com seus frequentadores para debater determinadas aulas. Um facilitador, que pode ser um professor da área ou um aluno da região que tenha completado o curso com sucesso, faz uma discussão orientada sobre a aula.
Futuro diferente
Todas essas possibilidades trazidas pelos Moocs, acredita Koller, levam a uma reflexão sobre a educação superior. O principal público do Coursera, por exemplo, é formado por pessoas que já têm um diploma universitário. “Esses alunos precisam buscar uma formação porque o diploma que conseguiram há 20 anos não responde mais às demandas de mercado hoje”, afirmou ela, que completou, brincando: “Se você dormisse em uma sala de aula há 400 anos e acordasse hoje, você saberia exatamente onde está. Se você dormisse em um hospital ou em qualquer outro lugar isso não aconteceria”.
Ainda sobre espaço físico, seu palpite é que uma remodelação vai se mostrar necessária. “Se você é um dono de universidade e está construindo um auditório de 450 lugares, eu acho que você deveria repensar isso. Não necessariamente o tamanho, mas esse espaço deve permitir interações pessoais, trabalhos em grupo”, sugeriu a professora. Ela mesma como professora diz preferir ambientes mais planos para suas aulas para garantir que a troca entre pares ocorra sem obstáculos físicos.
Koller cita também os benefícios que o uso de dados pode trazer ao ensino. Hoje, no Coursera, os “rastros” que os alunos deixam na plataforma podem ser analisados pela universidade que promove o curso a fim de que a instituição possa melhorar seus métodos. Elas conseguem saber que atividades são mais apreciadas, quais as que têm maior taxa de abandono, que exercícios os alunos erram mais frequentemente. “As universidades podem estudar os dados dos alunos e melhorar seus processos de aprendizagem”, afirma a professora.
Confira os cursos que terão legendas produzidas pela Fundação Lemann.
Introdução ao Pensamento Matemático (Stanford)
Fundamentos de Estratégia de Negócios (Universidade de Virgínia)
Introdução a Finanças (Universidade de Michigan)
Guia do Pensamento Irracional para Iniciantes (Duke University)
Fundamentos do Ensino para Aprendizagem 1: Introdução (Commonwealth Education Trust)
Fundamentos do Ensino para Aprendizagem 2: Ser Professor (Commonwealth Education Trust)