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Envolver as crianças na cultura digital torna a escola mais democrática

No contraturno de escola pública de Manaus (AM), estudantes aprendem e ensinam colegas do ensino fundamental a ampliar o uso dos materiais do Centro de Tecnologia Educacional

Parceria com Isaac

por Aguinaldo Araújo da Silva ilustração relógio 5 de setembro de 2023

É certo que a tecnologia pode ser uma grande aliada do processo de ensino-aprendizagem. Mas quando a escola está inserida em uma realidade na qual os professores ainda têm pouca intimidade com os diferentes suportes digitais e os alunos usam, às vezes, só o celular, cabe à gestão de tecnologia pensar estratégias que apoiem os dois lados. 

Sou coordenador do CTE (Centro de Tecnologia Educacional) da Escola Municipal Nova Vida, em Manaus (AM), que atende o ensino fundamental 1. Para intervir efetivamente nesse cenário, lancei o “Projeto Convivendo e Aprendendo com as Tecnologias na Educação”, a fim de ampliar as competências digitais dos estudantes por meio da colaboração. 


No nosso CTE, temos à disposição tablets, notebooks, netbooks, computadores, projetores, alguns kits de robótica e um televisor. No contraturno da escola, passei a recrutar alunos do 5º ano (e alguns do 4º) para atuarem como monitores de tecnologia em três dias da semana. 

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Em cada turno, de 10 a 12 monitores são divididos em duas equipes, que passam um dia estudando e aprofundando os conhecimentos digitais, aprendendo a usar adequadamente todos os recursos do espaço. Nos outros dois dias, esses alunos atuam como monitores, apoiando colegas que realizam atividades com outros professores. E também auxiliando outros professores.

A prática tem como base a Competência Geral 5 da BNCC (Base Nacional Comum Curricular):
“Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.” 

Nesse sentido, o projeto estabelece uma relação de convivência e aprendizagem entre os monitores e os demais alunos: enquanto ensinam, também aprendem um pouco mais, utilizando os recursos tecnológicos do CTE com criatividade, responsabilidade e autonomia. 

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Como funcionam as monitorias?

Nas aulas voltadas aos estudos, os monitores aprendem a usar a linguagem de programação em bloco, que é bem intuitiva e divertida de aprender, por meio do Scratch e do site Code.org

A fim de dinamizar o processo de alfabetização das turmas mais novas, levando em consideração as dificuldades trazidas pelo período de distanciamento social, criei a prática “Alfabetizando com Scratch”. Propus aos monitores, sob minha orientação, que usassem a linguagem de programação em bloco Scratch para tentar criar histórias com o objetivo de trabalhar as habilidades de leitura, interpretação e produção textual. E os jogos foram levados como material de apoio aos professores do 1º, 2º e 3º anos.

Eles desenvolvem jogos e histórias, convertendo-as em textos narrativos, seja de forma escrita ou digitada. Assim, aprimoram habilidades de leitura, interpretação e produção textual. Os jogos, as histórias e os textos são compartilhados com toda comunidade escolar para que possam inspirar outros alunos. Inclusive, há jogos que eles criaram voltados aos colegas da educação especial. 

Para embasar a produção dos monitores e relacioná-la à aprendizagem dos alunos mais novos, consultamos a BNCC, especialmente a Competência nº 3, específica de língua portuguesa para o ensino fundamental. Ela trata, entre outros pontos, de ler, escutar, produzir textos orais, escritos e multissemióticos. Outras habilidades, como a EF15LP19, foram trabalhadas quando pedimos aos alunos que recontassem oralmente a história, e a EF01LP26 incentivou a turma a identificar elementos da narrativa. 

Realizamos um concurso com premiações simbólicas para o aluno com o desfecho mais criativo e para aqueles que recontaram a história com maior desenvoltura oralmente, conferindo a eles certificado de Contadores de Histórias. Esse contato dos monitores do 5º ano desenvolvendo atividades para os colegas do 1º ao 3º ano foi chamado de “Programando a Imaginação”.

E seguimos realizando diferentes ações com as turmas, como os “Recadinhos de Amizade”:

Ganhos coletivos

Tenho ensino superior em pedagogia, com 26 anos de trabalho. Já lecionei em todas as séries do 1º ao 5º ano, fui diretor escolar e, há cinco anos, estou na função de coordenador do CTE. Entendo que essa iniciativa, que trata da relação de convivência e aprendizagem entre alunos de faixa etária diferentes, traz ganhos para todos. Os estudantes passam a exercer protagonismo e liderança no ambiente escolar, na vida pessoal e coletiva.

O projeto “Convivendo e Aprendendo com as Tecnologias na Educação” realiza outras atividades baseadas nas competências e habilidades da BNCC e é voltado para uma escola mais participativa e inclusiva. Notamos, também, que os professores perderam o medo de usar os recursos tecnológicos, e, com o apoio dos estudantes, passaram a usar de forma mais efetiva o nosso CTE, espaço de grande importância para a escola.

Vale lembrar que o CTE é um espaço que dialoga com todos os outros da escola. Por isso, apoiar a metodologia que dá voz e protagonismo aos alunos democratiza, também, a gestão educacional, que entende e valoriza o papel ativo desses estudantes.

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Isaac

Aguinaldo Araújo da Silva

Graduado em pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas. Professor da Secretaria Municipal de Educação de Manaus desde fevereiro de 1996. Atualmente, é coordenador do CTE (Centro de Tecnologia Educacional) da Escola Municipal Nova Vida.

TAGS

ensino fundamental, gestão escolar, tecnologia

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