Crianças obesas têm resultado pior em matemática - PORVIR

Inovações em Educação

Crianças obesas têm resultado pior em matemática

Pesquisa da Universidade do Missouri aponta que estudantes acima do peso são mais ansiosos e menos participativos em aula

por Mariana Fonseca ilustração relógio 19 de junho de 2012

Os desafios sociais e emocionais que as crianças obesas sofrem na convivência com os colegas na sala de aula podem afetar o desempenho escolar dos pequenos. Segundo pesquisa publicada ontem na revista especializada, Child Development, crianças obesas de até 10 anos de idade, que estão passando pelo primeiro ciclo do ensino fundamental, têm pior desempenho em matemática que seus pares que estão no peso adequado.

Segundo os pesquisadores, a dificuldade de ser aceito socialmente expõe as crianças a sentimentos como solidão, tristeza e ansiedade, o que os levaria a uma maior dificuldade de melhorar sua performance acadêmica. “Crianças com problemas de peso não são bem recebidas pelos colegas. Isso cria uma situação onde desenvolver habilidades sociais se torna mais difícil”, diz Sara Gable, autora do estudo e professora do departamento de nutrição e fisiologia do exercício da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos, para o Huffington Post.

Na escola, sentimentos negativos como esses, a dificuldade de fazer parte de um grupo ou ainda de fazer amigos pode significar um menor engajamento no aprendizado. Atividades simples como escrever no quadro, em frente a toda a turma, ou ainda tirar dúvidas com os professores em voz alta, por exemplo, podem causar grande ansiedade nos estudantes.

crédito dimedrol68 / Fotolia.com

As quedas nos desempenhos em matemática começam a aparecer no primeiro ano do ensino fundamental, o que, para os pesquisadores, sugere que a relação entre as notas e a obesidade se torna mais intensa à medida que o estudante evolui na escola. “Alunos que enfrentam problemas de peso entendem que outras pessoas não gostam deles por serem gordinhos. Essas crianças não são menos inteligentes, mas uma vez colocadas em uma situação onde uma performance é esperada, elas não se saem tão bem.”

Para o estudo, os pesquisadores avaliaram 6.250 estudantes de todo país, do jardim de infância ao quinto ano do ensino fundamental. Foram comparadas evoluções no desempenho acadêmico dessas crianças com a de alunos que nunca estiveram acima do peso. Entre os materiais pesquisados estavam também anotações dos professores sobre a relação dos estudantes com os demais alunos e detalhes sobre sentimentos aparentes, como tristeza e solidão.

Os resultados da pesquisa coincidiram mesmo em diferentes recortes demográficos, incluindo renda familiar, raça, nível de escolaridade dos pais etc. Apenas no quesito gênero, o desafio social pareceu maior para as meninas. “O estigma da obesidade e a não conformidade com as ‘normas’ de aparência física pesam mais para as meninas”, diz Gable.

O número de crianças obesas vem crescendo nos Estados Unidos nas últimas décadas. Em 1970, 5% dos jovens entre 2 e 19 anos eram obesos. Em 2008, 19% das crianças nessa faixa de idade eram obesas.

Faltam dados

No Brasil, o peso da população também vem aumentando nos últimos anos. Em 2009, uma em cada três crianças de 5 a 9 anos estava acima do peso recomendado pela Organização Mundial de Saúde, segundo dados do IBGE.  Desse total de mais de 30%, 16,6% era composto por meninos obesos e 11,8% de meninas – o restante é de crianças com sobrepeso.

Mas ainda faltam pesquisas que relacionem a obesidade ao desempenho escolar no Brasil. “Existe pouco material sobre o tema disponível. E as teses que conhecemos ainda não são conclusivas”, comenta a psicóloga Cristina Freire, coordenadora do Papo (Programa de Atividade para o Paciente Obeso), da Unifesp.

“A sociedade ainda fala de obesidade como se fosse uma característica física, como ser alto ou baixo. É preciso entender que se trata de uma doença”

No Papo, a especialista atende meninas adolescentes que enfrentam o problema da obesidade e lhes oferece ajuda nas áreas de nutrição, psicologia, educação física e esporte. “O que vejo, no caso dessas meninas, é o processo inverso. Elas são boas alunas, querem ser melhores amigas dos colegas para serem aceitas”, afirma. “Mas acredito que ainda precisam ser feitos mais estudos para se entender como se dá isso entre as crianças brasileiras.”

Freire explica que ser aceito e pertencer a um grupo são demandas comuns às crianças e adolescentes.  “Se o estudante não se encaixa em algum lugar, certamente vai ter mais dificuldades. Vai ter vergonha de se expor, de levantar a mão.”

Para ela, pesquisas desse tipo servem de alerta para os vários problemas relacionados à obesidade e que precisam ser encarados de frente por pais e professores.  “A sociedade ainda fala de obesidade como se fosse uma característica física, como ser alto ou baixo. É preciso entender que se trata de uma doença. E que o tratamento deve ser iniciado o quanto antes.”

A especialista indica a campanha Emagrece, Brasil!, liderada pelas revistas Saúde e Boa Forma, que está mobilizando vários setores da sociedade para discutir o tema, inclusive buscando ideias de como os educadores podem ajudar a prevenir e controlar a obesidade nas crianças.

Veja o vídeo da campanha com dados sobre a doença no país.


Emagrece, Brasil por EmagreceBrasil


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