De 0 a 5: Um pouquinho de tecnologia
O terceiro episódio do podcast apresenta maneiras de usar tecnologia na escola de forma equilibrada. Ouça agora!
por Redação 10 de novembro de 2023
Mais do que apresentar tecnologia para crianças muito pequenas, é importante fazer essa atividade de maneira intencional.
Neste novo episódio do de 0 a 5, o podcast do Porvir sobre a primeira infância, apresentamos casos de educadoras que utilizam tecnologia em projetos na educação infantil.
Participam desse episódio a professora Cláudia Regina Silva, do CEI Jardim Reimberg, e Gislaine Munhoz, consultora do Programa Escolas Criativas.
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[início do episódio]
<< som do podcast das crianças do CEI dando bom dia, boa tarde, boa noite >>
<< Ruam Oliveira >>
Bom dia, boa tarde, boa noite também, pessoal! Muito fofas essas crianças sendo podcasters!
Esses pequenos que você ouviu são do Centro de Educação Infantil Jardim Reimberg, que fica em São Paulo, capital. Hoje nós vamos conversar com a professora Cláudia Regina dos Santos, que dá aulas para uma turminha com crianças de zero a quatro anos.
Ela usa tecnologia com eles e criou até uma imprensa jovenzinha – que ela vai explicar melhor na nossa conversa.
Também conversei com Gislaine Munhoz, Consultora do Programa Escolas Criativas. Ela trabalhou na elaboração do documento: O uso da tecnologia e da linguagem midiática na educação infantil, produzido pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Vou comentar um pouco mais sobre ele também neste episódio.
Se você chegou agora e ainda não sabe do que se trata esse podcast, eu sou Ruam Oliveira e nesta temporada do de 0 a 5 falo sobre a presença da tecnologia na educação infantil.
Nos episódios anteriores conversamos sobre os prós e contras desse uso e também da importância de trazer as crianças para mais perto da natureza.
Agora é a vez de ouvir quem está usando, de um jeito saudável, tecnologia na educação infantil. Coloque seus fones e vem comigo.
<< trilha sonora >>
<< Ruam Oliveira >>
A professora Cláudia Regina atua desde 1998 nessa mesma escola e ela conta que percebeu que quando as crianças chegavam para a aula, logo cedo, muitas delas já vinham com o celular na mão.
Com isso, ela entendeu que era preciso fazer um trabalho mais objetivo e direcionado para esse uso de tecnologia.
<< Claudia Regina >>
A gente usa de diversas maneiras, em diversos momentos da rotina, né? A gente tem vários tipos de projetos dentro da escola como horta, leitura….
<< fim da trilha sonora >>
<< Claudia Regina >>
Trabalho com diversidade, com autonomia e identidade. Então a gente usa dentro de todos esses projetos. No projeto identidade e autonomia, por exemplo, a gente usa os tablets e a câmera do celular para eles fotografarem o amiguinho que eles mais gostam, qual é o brinquedo preferido, o espaço da escola que eles mais gostam.
No projeto de leitura, o livro que eles mais gostam de ler…
A gente também faz um projeto que chama cipinha onde uma vez por semana a gente faz tipo uma vistoria pelo quintal da escola procurando objetos ou alguma coisa que pode oferecer perigo às crianças e aos adultos, né? Eles usam tablet para registrar quando vêem uma lata de refrigerante ou de vidro. A gente usa tecnologia de diversas maneiras dentro do contexto dos projetos da escola.
<< Ruam Oliveira >>
<< trilha sonora >>
A Cipa é a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e praticamente toda organização tem uma. Ela serve para prevenir acidentes ou doenças causadas no trabalho.
No caso das crianças do CEI Jardim Reimberg, é só pra prevenir acidentes mesmo.
<< trilha sonora >>
<< Ruam Oliveira >>
Essa vistoria é toda organizada, viu? Cada um desempenha um papel
<< trilha sonora >>
<< Claudia Regina >>
Fotografam, fazem vídeos e sempre vai uma criança também com bloquinho e um lápis uma caneta fazendo um registro, né? A gente ali também trabalha aquela questão das hipóteses de escrita. Ele vai registrando do jeito deles ou com rabiscos garatujas desenhos o que a gente vai encontrando?
<< Ruam Oliveira >>
Eu imagino como ficam essas anotações e registros de acidentes !!
Mas tudo precisa ser conversado. Lá no primeiro episódio, a Beatriz Abuchaim, da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, disse isso aqui:
<< Beatriz Abuchaim >>
A escola tem um papel de incluir as crianças nesse universo digital, principalmente crianças que talvez em casa não tenham acesso a essas tecnologias. Então é entender como que funciona um computador, como que funciona uma máquina fotográfica – que até uma coisa do passado porque agora a gente tem o celular–, mas esses objetos tecnológicos… como que funciona uma touch screen, tudo isso são pequenas aprendizagens para uma criança que está sendo incluída no universo digital.
<< Ruam Oliveira >>
<< trilha sonora >>
Ela disse outras coisas interessantes também, se você ainda não ouviu esse episódio é só voltar e procurar ele aqui no feed.
Mas como eu tava dizendo, tudo tem que ser conversado.
Quando é que isso ocorre lá no CEI, professora Claudia?
<< Claudia Regina >>
Nos momentos de roda de conversa que aqui a gente chama de assembleias infantis, né? Nos momentos de roda de conversa onde a gente senta com eles e leva o equipamento mostra né? Passa de mão em mão. Aí eles vão explorando mexendo, né? Nesses momentos de roda de conversa que a gente mostra para eles para ele se apropriarem para depois a gente levar para o contexto dos projetos.
<< Ruam Oliveira >>
Ela explica que esse contato não dura muito tempo, mas acontece. A câmera digital da escola, por exemplo, é passada de mão em mão para que as crianças conheçam. A mesma coisa com tablets e celulares. Mas eles não ficam vendo vídeos no Youtube, por exemplo, apesar de essa ser uma ação quase que instintiva para a maioria das crianças.
<< Claudia Regina >>
A gente precisa mostrar que as tecnologias têm uma outra funcionalidade, que não é só essa de ficar vendo um videozinho, vendo o Tik Tok, né? Vendo todas essas questões que é o que a família mostra pra criança, né com o uso da tecnologia. Então, assim, desde 2015 eu venho devagarzinho tentando inserir. Em 2018 foi quando a gente conseguiu realmente fazer um projeto maior e mais efetivo que foi de agência de notícia com eles.
De lá para cá, a gente vem mantendo esse projeto, né? Mostrando para as crianças outra funcionalidade da tecnologia, de usar de uma maneira mais crítica, com mais intenção, né? Que não que não seja só ver o vídeo assistir os desenhos.
<< Ruam Oliveira >>
<< trilha sonora >>
E a agência jovenzinha tem dado bons frutos, hein? Assim como o podcast que vocês ouviram lá no começo do episódio, a turminha também realiza coberturas completas de eventos dentro e fora da escola. Até mesmo na FliSampa, um festival de incentivo à leitura que acontece em São Paulo, eles foram.
No site eu vou postar uma foto da turma fazendo uma entrevista. Reparem nos uniformes deles, que elegância!
Eles também tem um canal no Youtube com algumas produções. Eu vou deixar o link na página do podcast lá no Porvir para vocês conferirem.
<< Ruam Oliveira >>
No caso da imprensa jovem, as tarefas são divididas:
<< Cláudia Regina >>
O registro fotográfico fica por conta das crianças na hora de escrever a gente senta com eles nem roda fala. Olha a gente observou isso a gente fez o registro. Como é que a gente escreve eles vão dando as ideias do jeito deles, mas na hora de editar de escrever, né? Aí eu que faço.
<< Ruam Oliveira >>
Eu já volto nessa conversa com a professora Cláudia para saber como é que ela lida com os colegas que são contra essa proposta. Eles devem existir, com certeza.
Antes, vou trazer a Gislaine Munhoz aqui para nos dizer de que maneira as tecnologias digitais podem aparecer no dia a dia das crianças.
<< Gislaine Munhoz >>
<< trilha sonora >>
Olha, acho que elas devem ser inseridas com cautela – vou falar do contexto da educação, da escola – e sempre enfatizando muito a questão da autoria das crianças, nunca como um aparato de controle, né? Para que elas fiquem quietas para que elas fiquem seguras no sentido de não brincar com brincadeiras mais perigosas… E elas sempre devem ser inseridas tendo uma perspectiva de ampliar o universo infantil, de instigar, saciar as curiosidades, como uma ferramenta que instiga a exploração, a investigação.
E pensando na democratização do acesso também muitas crianças não têm, apesar de ter um quase um um senso comum de que toda criança tem acesso à tecnologia, é sempre importante refletir que tecnologia é essa que ela acessa? Só do celular, só música ou vídeo? Então assim, essa reflexão sempre tem que estar junto com essa inserção. Se eu vou apresentar alguma tecnologia para uma criança que muitas vezes ela se traduz no Smartphone o que que eu tô apresentando para essa criança é algo que vai deixar ela passiva frente a um aparato tecnológico? Então acho que essa reflexão ela tem que sempre vir antes de qualquer inserção.
<< trilha sonora >>
<< Ruam Oliveira >>
<< sem trilha sonora >>
Como eu disse no início deste episódio, a Gislaine colaborou com a redação de um documento chamado O uso da tecnologia e da linguagem midiática na educação infantil, que foi produzido pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo em 2015.
Esse material faz parte do Currículo Integrador da Infância Paulistana, que por sua vez apresenta concepções existentes nas Diretrizes Curriculares Nacionais.
Esse documento traz uma série de orientações sobre como mesclar o tempo entre brincadeiras que pedem um contato com areia, massa de modelar, lápis de cor etc com computadores, tablets e TV, por exemplo.
A ideia é que um não exclua o outro e que os educadores e educadoras possam ter subsídios para trabalhar com as crianças pequenas recursos tecnológicos.
Um trecho do documento diz o seguinte:
<< efeito aqui de locução, sem trilha sonora >>
<< Ruam Oliveira >>
O espaço da Unidade Escolar deve ser considerado como um importante elemento curricular, ser planejado de forma a garantir que os bebês e as crianças vivenciem experiências cotidianas de participação, de escolha, de recolhimento, de diferentes interações, de colaboração, de valorização e de formas de expressão.
<< fim do efeito >>
<< vírgula sonora >>
<< Gislaine Munhoz >>
Eu acho que quando a gente pensa em tecnologia,
<< Ruam Oliveira >>
Aqui, de novo, a Gislaine.
<< Gislaine Munhoz >>
Claro é sempre muito complicado a gente generalizar, mas a gente tá ainda no aspecto de tecnologia como sinônimo de vídeo de música e de celular e aí a gente tem sempre os extremos, né? Tem aqueles que acreditam que não pode ser perigoso, tudo que tá na internet é ruim, tudo que tem no computador é ruim, então não pode tem um outro extremo. Que tudo bem se eu fizer uma curadoria de vídeos ou de alguma coisa assim ou de um jogo, tá tudo bem também. Então eu acredito que ainda a gente tem muitos passos a se dar né? Para que chegue nesse senso de que precisa ter essa reflexão e essa curadoria do que apresentar de que a barata apresentar, né?
Hoje os brinquedinhos de programar que também são tecnologias e que são aparatos excelentes maravilhosos e que ainda não são de acesso eles são brinquedos caros, né? E então a gente precisa pensar na democratização desse acesso e também desse conhecimento que eu acredito que ainda não é de um acesso fácil para todos os educadores.
<< Ruam Oliveira >>
A Gislaine ainda afirma que não é que cada criança precise ter um tablet ou um celular individualmente. Dá para trabalhar em grupos, duplas ou trios. É uma outra forma de trabalhar a questão da colaboração e da participação entre os pequenos.
Mas voltando para a professora Cláudia, eu queria saber como é que fica a opinião dos colegas e de outros docentes quando ela fala que vai usar tecnologia com as crianças.
<< Claudia Regina >>
Com relação ao corpo docente. Às vezes tem uma pessoa outra que acha que não é necessário que acha que são muito pequenas, mas eu acho que é mais medo de de como lidar com isso, né? É acho que não tem um novo, né? Dá um pouco de medo. Como é que eu vou trabalhar tecnologia com uma criança tão pequena, né? Acho que elas ainda não conseguem enxergar como fazer isso. Acho que não.
É o que eu não quero aí eu não aprovo, mas é como fazer com as crianças pequenas ainda não ver essa possibilidade, né?
<< Ruam Oliveira >>
Ou seja, tem que mudar um pouco o olhar.
<< Claudia Regina >>
<< trilha sonora >>
Eh a gente vê que hoje a tecnologia tá muito na vida deles desde muito cedo, desde muito pequeno, né? E tem gente que acha assim, poxa, a criança pequena, não sabe de nada ainda tá aprendendo e a gente que trabalha com educação infantil sabe que a criança por mais pequena que seja, ela vem de uma sociedade que é a família, já vem com uma cultura, já vem com conhecimentos, né? Essa questão do uso da tecnologia desde muito pequena também faz parte da cultura familiar deles ali então assim eu acho que é importante para que a gente mostre também desde cedo que existem outros meios que outras coisas que a gente possa fazer usando as tecnologias que não só aquilo que a família tá mostrando né? Acho que faz parte não só da educação, faz parte do nosso papel enquanto educador como também a parte do papel da família, né?
<< Ruam Oliveira >>
Mas usar ou não tecnologia na educação infantil é também uma escolha dos professores e professoras. Este podcast não quer dizer que quem usa zero tecnologia é errado ou que quem usa 100% de tecnologia está certo. A gente quer pensar junto.
E, pensando junto, não tem como não citar a preparação dos professores, como comenta a Gislaine:
<< Gislaine Munhoz >>
eu acredito muito na formação de professores sempre respeitando as histórias individuais de cada um, as crenças, as ideologias, né? Tem professores que vão se sentir muito mais à vontade, tem professores que vão se empolgar e tem aqueles que vão ter muito medo, né? E a gente também tem que desmistificar, olha a tecnologia não é internet, né? A gente não precisa usar a internet no primeiro momento. Tecnologia não é rede social. Porque às vezes esses termos, muitas vezes, são tidos como similares. A tecnologia não é smartphone. Então a gente tem na escola, a gente tem uma placa de circuitos, né? Circuito de bolinhas é uma forma de tecnologia, é uma forma de criar lógicas com as crianças…
<< Ruam Oliveira >>
Para te ajudar a visualizar, as placas de circuito são aquelas verdes com várias linhas, sabe? Elas transmitem informações entre os componentes que são soldados em cima delas.
<< trilha sonora >>
Acaba que, por estarem já em uma sociedade que tem tecnologia, a escola pode contribuir com uma perspectiva mais reflexiva de uso dessas ferramentas que pode impactar nos próximos passos das crianças enquanto avançam na vida.
Sobre isso, a professora Cláudia tem um ponto:
<< Claudia Regina >>
<< trilha sonora >>
Eu tava até comentando esses dias com algumas professoras aqui que as crianças que participaram do projeto em 2018, hoje elas estão no quarto ano, elas estão participando do Grêmio escolar, tão participando de outros projetos que a outra escola que eles estão hoje tem né? E porque quando eles estavam com a gente com quatro cinco anos, a gente mostrou que existem outras possibilidades, né? E quando a família se abre para ouvir, para ver o que a gente tá mostrando que pode ser feito diferente é muito bom, porque é o que eu falo: a gente não colhe, a gente não vê resultado com eles agora, a gente vê o resultado daqui a três, quatro anos disso que a gente tá fazendo hoje. A gente tá aqui botando uma sementinha, mostrando para eles que existe outra possibilidade quando a família se abre para isso também mostra em casa, quando tem aquele trabalho em parceria, né? Quando tem a continuidade do trabalho, a gente vê um grande progresso nos anos posteriores daqui pra frente…
<< trilha sonora >>
<< Ruam Oliveira >>
<< trilha sonora >>
Gente, esse terceiro episódio mostrou pra nós que é possível usar tecnologia com as crianças, mas reforçou também que se trata de ter intenção e um objetivo claro nesse uso, Ou seja: usar para explorar a criatividade, interagir, refletir e ir além dos joguinhos ou vídeos.
O último episódio desta temporada vai tratar sobre os impactos cognitivos do uso de telas nas crianças. Eu espero você para me acompanhar nessa finalização de temporada.
Não deixe de seguir esse podcast lá na sua plataforma de áudio preferida e, me faz um favor? Você pode avaliar esse programa – dando cinco estrelas, claro! Isso ajuda ele a chegar mais longe!
Mostra essa conversa para seus colegas de classe, de escola, de trabalho ou com quem você acha que é interessante compartilhar.
No Porvir nós temos mais conteúdos sobre esse tema, digita aí no seu navegador www.porvir.org e descubra mais.
Eu sou Ruam Oliveira, apresento, produzo, edito e faço outros malabarismos aqui nesse podcast. A Daniela Tófoli, minha mentora na bolsa sobre primeira infância do Dart Center for Journalism and Trauma, segue me acompanhando nessa empreitada. Mais uma vez agradeço ao Dart Center e à Dani pela parceria.
Um salve especial para a Tatiana Klix, diretora do Porvir, que deu alguns palpites nesse roteiro, para o Gabriel Falcão que faz as trilhas dessa temporada e para o Ronaldo Abreu, que é quem cuida das artes de divulgação que vocês vêem nas redes sociais.
Obrigado, gente!
Até a próxima!
<< fim do episódio >>