O diálogo entre arquitetura, escola e cidade
Workshop realizado na UFRJ discute o espaço escolar e a relação com o território
por Marina Lopes 23 de novembro de 2015
Qual é o lugar da arquitetura na conversa sobre educação integral? Como as cidades podem oferecer oportunidades educativas para os alunos? Para discutir essas questões, nos dias 18 e 19 de novembro, aconteceu na FAU-UFRJ (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro) o 1º workshop Do espaço escolar ao território educativo.
No período da manhã, o primeiro dia do encontro começou com uma mesa redonda que apresentou práticas em educação integral e territórios educativos. O arquiteto Célio Diniz Ferreira Filho, professor da FAU e sócio da DDG Arquitetura compartilhou a experiência de implantação do programa Bairro-Escola Nova Iguaçu, que envolveu 14 escritórios de arquitetura e urbanismo do Rio de Janeiro. “Nosso projeto tinha o principal objetivo de prover espaços de qualidade para que as crianças pudessem circular com conforto e segurança para usufruir do espaço público”.
Para trazer uma visão de espaço escolar na perspectiva da prefeitura do Rio de Janeiro, a arquiteta Teresa Rosolem de Vassimon, coordenadora de projetos da RIOURBE, falou sobre o programa Fábrica de Escolas do Amanhã, que trabalha com projetos-padrão de escolas de ensino fundamental e desenvolvimento infantil.
De acordo com Vassimon, o trabalho do arquiteto não influencia a grade curricular das escolas, mas pode fazer algumas provocações. Ela exemplificou esse estímulo com os projetos recentes que trazem pátios cobertos e descobertos para estimularem diferentes atividades e interações entre as crianças.
Fortalecendo o diálogo com o território
Outra experiência compartilhada no evento foi a da pesquisa integrada que analisa a qualidade do lugar e da paisagem de espaços pedagógicos para educação integral no Rio de Janeiro. Ela foi apresentada pela arquiteta Giselle Arteiro, coordenadora do grupo de pesquisa Ambiente-Educação, do PROARQ-UFRJ (programa de pós-graduação em arquitetura da universidade Federal do Rio de Janeiro).
A pesquisa traz um olhar sobre o potencial pedagógico do território e o ambiente escolar de Ginásios Cariocas, considerando como esses espaços dão suporte à proposta do programa Mais Educação do governo federal. Além das avaliações de campo, ela também acontece de forma integrada com a disciplina Projeto de Arquitetura 3, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. “Como discutir políticas educacionais sem pensar na cidade? Precisamos debater urgentemente esse território onde a escola está inserida”, defendeu Arteiro.
A Escola Municipal Bolívar, localizada no bairro Engenho de Dentro, zona norte do Rio de Janeiro, foi uma das experiências de mapeamento do território apresentadas pela arquiteta. Nas considerações trazidas por ela, a escola tem lugares potenciais no entorno que são pouco aproveitados para atividades educativas. No entanto, ela também trouxe a reflexão de que o território oferece alguns obstáculos, com espaços livres públicos pouco qualificados e mal equipados.
De acordo com ela, a diversidade e complexidade do contexto urbano precisam ser incorporadas ao projeto de ambientes escolares. No entanto, é preciso prover uma infraestrutura que potencializa a relação da escola com a cidade, oferecendo ambientes seguros e adequados para o deslocamento do estudante. “A cidade brasileira está inserida em uma lógica que muitas vezes desconsidera as necessidades das crianças”, mencionou.
Para a professora Vera Regina Tângari, do PROARQ, a sociedade que mora nessas cidades também precisa ser responsável pela educação dos seus alunos. Entretanto, o arquiteto e professor Paulo Afonso Rheingantz, também associado ao programa de pós-graduação, diz que precisamos ouvir mais o que os adolescentes querem.
“Nós temos soluções para os problemas das crianças, mas não conversamos com elas. Não sabemos o que elas querem. Vai ser muito difícil trazer soluções sem conversar com elas”, alertou. De acordo com o arquiteto, é angustiante pensar que as escolas parecem muito com as estruturas de presídios. “A lógica das nossas escolas é ser um local para depositar crianças”, disse.
O pedagogo Levindo Diniz Carvalho, professor adjunto da UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei), em Minas Gerais, também defendeu que os projetos escutassem mais as crianças. Em sua fala, no período da tarde, ele apresentou uma série de depoimentos de crianças para trazer pistas sobre a forma como elas se relacionam com o território e o espaço escolar.
Para a arquiteta Beatriz Goulart, muitos projetos ainda fazem uma separação entre o espaço escolar e o espaço social. “Não conseguimos descontruir uma lógica que para nós é muito natural”, disse.
A advogada Maria Antônia Goulart, coordenadora do Movimento Down, defendeu a ideia de que a escola deve incentivar diferentes formas de aprender. “A escola não pode ser um momento de angústia para alguém que quer experimentar o mundo.”