Diário online feito por alunos durante a quarentena vira livro impresso - PORVIR
Crédito: MissTuni/iStockPhoto

Diário de Inovações

Diário online feito por alunos durante a quarentena vira livro impresso

Professora de ensino médio conta como atividade permite ao aluno se expressar e estreita vínculos durante aulas remotas

por Elineide Alves dos Santos Fernandes ilustração relógio 12 de agosto de 2020

Diante dessa nova realidade imposta pela pandemia, procurei meios de manter o vínculo com os estudantes e levar até eles os conteúdos pedagógicos. Leciono língua portuguesa em uma escola de ensino médio, em Cabrobó (PE), com grande número de estudantes residentes na área rural, o que dificulta o acesso à internet.

A comunicação inicial se deu por meio de conversas via WhatsApp. Como nem todos tinham acesso à internet, algumas ligações telefônicas precisaram ser feitas. O tempo foi passando e o distanciamento físico da escola deixou alunos angustiados, porque a incerteza passou a fazer parte da nova rotina. Eles demonstravam-se inseguros, tristes e desmotivados para continuar os estudos de casa. A partir dessa percepção, que foi constatada pelos relatos dos estudantes, nasceu o projeto: Vamos escrever juntos?

? Aprendendo Sempre: Aplicativos e plataformas para suas aulas remotas

Surgiu a ideia de escrever um diário coletivo, cada dia uma página era escrita por um estudante diferente. Na página do diário eles poderiam relatar seus sentimentos, contar um pouco da sua rotina, desabafar. Afinal, o diário era um amigo pronto pra ouvir, sem nenhum tipo de julgamento. Quando fiz o convite da escrita, deixei claro que o diário seria publicado e cada relato feito ali se tornaria público. Todos os estudantes vibraram com a possibilidade de ter um livro publicado com sua coautoria. Vi surgir, naquele momento, novas possibilidades de ensinar e aprender.

Naturalmente, apareceram também dificuldades com a escrita, que serviram para estreitar nossos laços, já que as conversas eram individuais, de uma maneira que nunca antes conseguimos fazer no formato presencial. Nesse projeto, inclui uma estudante com limitações que conta com um professor de atendimento especial nas aulas presenciais. No entanto, por conta das medidas de proteção contra o coronavírus, esse acompanhamento não é possível na educação remota. Por isso, entrei em contato com a família da estudante, que se prontificou a ajudar. Com essa parceria, ela também conseguiu escrever sua página do diário, o que reafirma o poder da educação. Quando há o desejo de aprender, não há limite para impedir. Agora, o livro está sendo enviado para a gráfica e, assim que estiver pronto, faremos um grande encontro virtual para o lançamento. Será um momento especial para os estudantes protagonistas desse livro e para mim, um dia de realização!

Nesta mesma proposta de manter vínculos com alunos, aproveitei o projeto Ligação do Bem, do qual também participo, para manter o diálogo com os estudantes e levar para eles uma palavra de carinho. Começamos a usar as ferramentas digitais a nosso favor, com encontros online em sala de aula virtual, por meio do aplicativo Google Meet. As lives com propósito educativo também foram incorporadas ao processo de aprendizagem. Comecei a organizá-las com a participação dos estudantes e também em parceria com outros professores. Os vídeos são sempre transmitidos pelas redes sociais da escola, o que permite que alunos acompanhem e participem sem baixar aplicativo.

Utilizamos o formulário Google para aplicação de simulados e jogos online com o Kahoot e atividades diversificadas com o Mentimeter.  A escola está fechada, mas o conhecimento continua acontecendo. De casa, cada um deixa a sua contribuição. Parafraseando Rubem Alves, acredito que as habilidades de leitura e escrita são fundamentais para termos nas mãos a chave do mundo.


Elineide Alves dos Santos Fernandes

É professora do ensino médio (língua portuguesa e língua inglesa) na Escola de Referência em Ensino Médio Senador Paulo Guerra. É também coordenadora de ensino de língua portuguesa na secretaria municipal de educação de Cabrobó (PE). Possui formação em letras (português/inglês), pós-graduação em língua inglesa pela CEVASF-PE (Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco), e pós-graducação em português e literatura pelo Instituto Prominas. É graduada em pedagogia pela UPE (Universidade de Pernambuco).

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aprendizagem baseada em projetos, ensino médio, tecnologia

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