‘Ensinar a programar é ensinar a pensar’
Especialistas defendem o ensino da programação nas escolas como meio de estimular a criatividade dos alunos
por Vinícius Bopprê 18 de junho de 2013
No passado, aprender a falar outra língua, especialmente o inglês, era (e ainda é) um diferencial na vida e na carreira das pessoas. Hoje, com as novas tecnologias, é uma outra linguagem que começa a ganhar destaque: a programação. Especialistas em tecnologia, educadores e engenheiros defendem a inserção do ensino da programação nas escolas como uma maneira de compreender o que está por trás de todas as tecnologias que temos acesso, além de contextualizar o aprendizado adquirido na escola. Para o professor e pesquisador da Unicamp João Vilhete, ensinar programação para as crianças é o mesmo que “ensinar a pensar”.
Para ele, o ensino da programação nas escolas é fundamental para que as crianças e jovens desenvolvam sua criatividade e sua capacidade de lidar com problemas, já que coloca em prática uma série de teorias que são ensinadas em física, matemática e química, por exemplo. “Aprender fazendo diversifica a forma de aprender, quando uma situação está num contexto que permite testar possibilidades e hipóteses. Para programar é preciso criatividade”, diz. Exemplo de quem aposta na programação e na robótica como maneira de estimular o ensino de crianças e jovens está na LiberRobótica, uma espécie de curso itinerante de programação e criação de robôs de Minas Gerais.
“A robótica e a programação estão ligadas a todas as disciplinas ministradas em sala de aula, busco fazer essa ponte. Se vou construir um projeto com alunos, posso desenvolver essa atividade com história e geografia, criando um projeto baseado em Leonardo da Vinci, por exemplo”, explica Liberato Ferreira da Silva, professor e criador do projeto. Segundo ele, a robótica deve ser usada também como criadora de contextos, sem considerar o isolamento do aprendizado de como acionar motores e engrenagens. “A robótica é um estímulo para buscar novos saberes”.
Entretanto, uma das coisas que assusta educadores e gestores de escolas quando se fala em robótica e programação são os custos para implementar essas disciplinas. Para aliviar o preço, Silva aposta no reaprovietamento de materiais, utilizando lixo digital disponível para criar mais equipamentos com pouco gasto. Além disso, a LiberRobótica tem um caminhão-laboratório. Isso mesmo. As escolas, ONGs ou empresas que quiserem contratar o curso – que pode durar um dia ou um ano, dependendo da demanda – e não tiver um espaço para isso, poderão ter as aulas dentro do seu laboratório ambulante.
Outro grupo que defende o ensino de programação e robótica é o pessoal da MetaMáquina, que conseguiu, por meio do financiamento coletivo, criar impressoras 3D de baixo custo. A empresa, que usa hardware e softwares livres para popularizar a impressão 3D, acredita que dá para usar esses equipamentos nas escolas de variadas formas. “Desde a relação direta com física, envolvendo correntes elétricas e mecância, até oficinas de geometria espacial, modelando e imprimindo formas geométricas diversas, além da possibilidade de aprender, por meio de aulas de programação, a escrever softwares que possam operar a máquina”, diz Filipe Moura, um dos fundadores da empresa.
Mais um ponto a favor do ensino da programação está no fato de que ela pode ser aplicada por crianças. Para Vilhete, “desde que as crianças tenham condições de reconhecer símbolos e interagir com recursos digitais, elas podem interagir com um robô”, mas como tudo na vida, é preciso um passo de cada vez. “Primeiro elas começam de forma simples, depois vão se aprofundando paulatinamente no ambiente de robótica que envolve concepção, construção, automação e controle do robô. Há muito tempo, desenvolvíamos atividades de montagens simples com crianças de 4 anos, hoje é possível começar mais cedo”, diz.
Prova disso está lá no projeto mineiro, que já atendeu alunos de 2 anos de idade. “Cada idade é um contexto, uma ação pedagógica diferente. Sempre busco trabalhar ações em grupos, estimular o aprendizado e a criação conjunta, conviver com projetos respeitando a ideia de projeto”, explica Silva. Para ele, o futuro do aprendizado está exatamente nisso: estimular a convivência e a criatividade. “A escola do futuro deve estimular o aluno a criar, fazer e investigar o que se cria. A tecnologia será a ferramenta desta ação”, diz.