Estudantes criam e aplicam jogos antibullying em escolas do RJ - PORVIR
Crédito: Arquivo Pessoal/DIogo Jordão

Diário de Inovações

Turmas do ensino médio criam e aplicam jogos antibullying em escolas do RJ

Em Campos dos Goytacazes (RJ), estudantes levam oficinas sobre prevenção do bullying para outras três escolas da comunidade. E você pode ampliar esse alcance: os jogos que compõem o projeto estão disponíveis para download, gratuitamente.

por Diogo Jordão Silva ilustração relógio 5 de maio de 2023

A prevenção é a melhor medida para solucionar os casos de bullying na escola. Esta foi a conclusão das minhas turmas segundo ano do ensino médio do Colégio Estadual Nelson Pereira Rebel, localizado em Campos dos Goytacazes (RJ). Todos sabemos que o bullying é um fenômeno presente nas escolas, causando ameaças à integridade física e psicológica dos alunos, com graves consequências ao processo educacional. Por isso, as ações educativas devem possibilitar ao estudante atuar ativamente em um processo que busca não apenas novos conhecimentos, mas também valores e atitudes voltados à coletividade. 

A partir dessas premissas, criamos o projeto “Um por Todos e Todos contra o Bullying”, desenvolvido mediante os princípios das metodologias ativas, em específico da Aprendizagem Baseada em Projetos. O trabalho foi realizado na disciplina Projeto de Intervenção e Pesquisa e contou com a colaboração das professoras Thátila Moraes e Beatriz Coutinho, de língua portuguesa e arte, respectivamente.

Inicialmente, após uma roda de conversa sobre bullying, propus a realização de uma pesquisa teórica sobre o tema na internet. As turmas foram divididas em grupos, de modo que cada um ficou responsável por pesquisar um aspecto sobre o tema. 

Após um breve debate sobre a pesquisa teórica, os estudantes foram desafiados a identificar a relação do corpo discente da escola com o bullying. Em conjunto, elaboraram perguntas objetivas e discursivas, colocadas no Google Formulários e compartilhadas nos grupos das turmas do colégio no WhatsApp. Ao todo, recebemos 100 formulários preenchidos. 

Com o material em mãos, as turmas fizeram o estudo dos dados, identificando que o bullying é um grave problema e faz parte da vida da maioria dos alunos da escola. Em seguida, pedi para que fizessem um relatório. Esse material foi digitado no Word e, em seguida, repassado ao Power Point, para ser apresentado à comunidade escolar na Banca de Projetos, atividade de pesquisa para estudantes ensino médio integral. Para além de uma simples apresentação, esse momento serviu para refletir sobre o trabalho realizado, avaliá-lo e ouvir apontamentos para a sua melhoria. 

Na fase seguinte, buscou-se criar e executar ações para contribuir com a solução do problema diagnosticado. Em conjunto, nós decidimos realizar um projeto de prevenção no qual fosse possível colocar em prática todo o conhecimento adquirido até então. Diante das discussões realizadas, decidiu-se que a conscientização sobre o bullying não deveria ser feita apenas nas turmas do ensino médio do colégio, mas, principalmente, nas turmas de ensino fundamental de outras escolas da região.

Passo a passo das ações

Antes de iniciar a produção, os alunos assistiram e conversaram sobre dois filmes que trazem o bullying como tema central: “Um grito de socorro” e “Confissões de uma garota excluída”

Na sequência, pensamos sobre qual seria o projeto de intervenção. Optamos pela criação de uma oficina de ensino a ser aplicada aos estudantes das escolas da comunidade, com o intuito de prevenir e combater a prática do bullying escolar. Para tanto, sugeri que as turmas criassem produtos educativos para compor a oficina, sendo uma história em quadrinhos e dois jogos educativos, além de uma dinâmica inicial e um formulário de avaliação final.

Nos quadrinhos, o objetivo era criar uma história por meio da qual o leitor pudesse entender o que é bullying, suas diferentes manifestações e implicações. Esse processo coletivo criativo aconteceu na sala de multimídias da escola, com o uso de um computador e um projetor de imagens. De maneira conjunta, foram definidos os personagens, seguido do roteiro e da construção final da história. As ilustrações foram feitas por meio da ferramenta Pixton, na internet.

⬇️ Para baixar: História em quadrinhos

Quanto ao jogo da memória, o objetivo pedagógico é avaliar se o participante aprendeu a reconhecer os tipos de bullying após ler a história em quadrinhos. Para tanto, foram criados dois conjuntos de cartas: o primeiro, contendo o nome de cada bullying; já o segundo, com cenas representando os respectivos tipos de bullying. O desafio dos jogadores é encontrar a carta com o nome do bullying e a carta com sua respectiva ilustração. Ganha o jogo quem conseguir mais duplas de cartas.

⬇️ Para baixar: Jogo da memória

Já o jogo de tabuleiro busca ensinar aos participantes o que é certo e o que é errado em relação ao bullying. Para a construção do jogo, os alunos foram divididos em grupos e estimulados a criar frases para colocar em cada casa do tabuleiro. Metade das frases deveria se referir a ações de violência e a outra metade a ações antibullying. Vence o jogo quem primeiro chegar ao final. 

Com os produtos criados, mais uma vez os alunos apresentaram o trabalho para a Banca de Projetos. Esse momento serviu para refletir sobre a produção e fazer as melhorias necessárias. Nessa ocasião, também foi solicitado à diretora da escola a impressão dos materiais em uma gráfica, o que foi prontamente atendido.

⬇️ Para baixar: Jogo de tabuleiro

Finalmente, após a divisão de tarefas e ensaios, os alunos passaram a aplicar a oficina nas escolas da comunidade. Participaram do projeto um total de 388 estudantes de três instituições locais: CIEP Luiz Carlos de Lacerda, Escola Municipal Albertina Azeredo Venâncio e Escola Municipal Nossa Senhora Da Conceição. As turmas variaram da 4ª série até o 8º ano do ensino fundamental. 

Ao final de 2022, os alunos autores realizaram ainda uma avaliação, a fim de identificar as dificuldades e aprendizados adquiridos ao longo do projeto.

Resultados conquistados

As avaliações aplicadas aos elaboradores e aos participantes do projeto revelaram importantes resultados, tanto na aprendizagem dos conceitos, quanto no desenvolvimento de habilidades e atitudes.

Quanto à aprendizagem, 99% dos participantes afirmaram ter aprendido o que é bullying e 98% afirmaram que aprenderam quais os tipos de bullying. A maioria afirmou ter aprendido que não se deve praticar o bullying por conta das consequências negativas desse tipo de violência, como tristeza, depressão, evasão escolar e até a morte. Alguns destacaram a necessidade do respeito entre os colegas e o tratamento igualitário, reconhecendo as diferenças como algo positivo. 

Em relação aos alunos que elaboraram o projeto, 91% afirmaram que o projeto contribuiu para a própria formação. Para muitos deles, o trabalho contribui para superar a timidez e a dificuldade de se apresentar ao público. Além disso, também foi destacada a contribuição do projeto para o desenvolvimento da competência do trabalho em equipe. Destacaram os novos conhecimentos sobre o bullying, assim como a aquisição de valores, como o respeito a todos, independente das diferenças, para uma convivência mais harmônica. 

Além de melhorar o engajamento e o clima escolar, o projeto deixa como legado os materiais produzidos, que poderão ser utilizados por outros alunos. O projeto se compromete com as competências e as habilidades previstas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular), das áreas de:

– Ciências humanas (EM13CHS503): Identificar diversas formas de violência (física, simbólica, psicológica etc.), suas principais vítimas, suas causas sociais, psicológicas e afetivas, seus significados e usos políticos, sociais e culturais, discutindo e avaliando mecanismos para combatê-las, com base em argumentos éticos.

– Matemática (EM13MAT202): Planejar e executar pesquisa amostral sobre questões relevantes, usando dados coletados diretamente ou em diferentes fontes, e comunicar os resultados por meio de relatório contendo gráficos e interpretação das medidas de tendência central e das medidas de dispersão (amplitude e desvio padrão), utilizando ou não recursos tecnológicos.

– Linguagens (EM13LGG305): Mapear e criar, por meio de práticas de linguagem, possibilidades de atuação social, política, artística e cultural para enfrentar desafios contemporâneos, discutindo princípios e objetivos dessa atuação de maneira crítica, criativa, solidária e ética.


Diogo Jordão Silva

Doutorando em educação pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Possui Licenciatura (2014) e Mestrado (2018) em Geografia pela UFF (Universidade Federal Fluminense). É docente da SEEDUC/RJ (Secretaria de Estado da Educação do Rio de Janeiro) desde 2015, atuando em turmas do Ensino Médio no Colégio Estadual Nelson Pereira Rebel, no município de Campos dos Goytacazes.

TAGS

aprendizagem baseada em projetos, bullying, ensino médio, Prêmio Professor Porvir, socioemocionais

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