Escola estimula que alunos sejam autodidatas
No Colegio Fontán, na Colombia, são os estudantes que montam seu próprio currículo; cada nível escolar pode durar de 4 meses a 2 anos
por Vagner de Alencar 28 de setembro de 2012
Nesta escola, não há alunos enfileirados uns atrás dos outros dentro de uma mesma sala, divididos por séries, ou mesmo professores ditando conteúdos. Quem decide o currículo são os estudantes, que também administram quando e onde vão estudar. É assim que funciona o Colegio Fontán, em Bogotá, na Colômbia, que busca inspirar a autonomia nos alunos, para que eles aprendam por conta própria e se tornem intelectualmente maduros.
Fundada pelos filósofos psicólogos Emilia Fontán e Buenaventura Fontán, há 27 anos, a escola vai na contramão do modelo tradicional de ensino. Baseada no sistema que valoriza a individualização da aprendizagem, permite ao estudante montar seu currículo e estudar de forma autodidática. O modelo de educação é reconhecido pelo Ministério de Educação do país como uma proposta inovadora.
Atualmente, cerca de 200 alunos de ensino fundamental e médio passam pela metodologia chamada Serf (Sistema Educativo Relacional Fontán), centrada na realidade de cada estudante e em que cada um deles tem um projeto educativo pessoal. São os alunos, por exemplo, que escolhem o que a escola chama de “taus”, ou seja, os textos autodidáticos que eles pretende estudar para aprender cada disciplina da grade.
Para avançar uma série escolar, o estudante pode demorar quatro meses ou, se preferir, 15 ou 23. É ele também quem determina quando está preparado para realizar a avaliação, que sempre precisa alcançar um “rendimento de excelência”. “A mediocridade é inadmissível. A excelência serve para todos e não apenas para uma elite. Todos podem alcançá-la. É uma questão de tempo. Quanto tempo o aluno demora é um fator secundário. Isso é bem diferente do modelo tradicional em que o estudante trabalha com o tempo constante e rendimento variável”, afirma Julio Fontán, diretor do colégio.
Os exames são considerados difíceis. O mínimo que o aluno deve atingir é 9 pontos – sobre 10. Mesmo assim, quando alcança esse mínimo, um tutor envia uma análise que orienta o estudante sobre como ele deve se preparar melhor para realizar uma nova prova e enfim conquistar o 10.
Para se tornar um aluno do Fontán, é preciso passar por um processo seletivo que avalia o nível escolar– exceto crianças de nível pré-escolar – por meio de provas de raciocínio lógico, escrita, leitura e matemática. Segundo o diretor do colégio, muitos alunos ingressam na escola com pouca leitura, porque o sistema tradicional de ensino não os ensina a ler “mentalmente”, ou seja, a ter capacidade de interpretação. No modelo Fontán, os estudantes não aprendem em sala de aula ouvindo um professor falar, mas lendo. “A metodologia da escola é baseada na premissa de que ‘a civilização é uma cultura escrita, não apenas oral’ e que a ‘cultura do conhecimento’ é feita de conhecimentos lógicos e estruturados”, diz.
Experiência Fontán
“O colégio nos ensinou a aprender de verdade; nos mostra que o importante não é passar em uma prova, mas realmente aprender. A escola também me ensinou a estudar por conta própria e a aprender 100% daquilo que eu gosto”, afirma Agustín Botero Arango, que ingressou no colégio na 7a série.
É o que também pensa Laura Restrepo Le Flohic, que saiu do Fontán em 2002 e hoje faz faculdade de administração de empresas. “A escola me permitiu desenvolver uma leitura mais rápida, que me faz interpretar melhor qualquer conteúdo. Além disso, despertou o hábito de estudar sem a obrigação de sentar numa sala de aula”.